MURAL DE INDICAÇÕES LITERÁRIAS : Curadoria Antirracista e Diversidade Cultural

Foi a partir de um estudo em Ciências Humanas sobre trabalhos invisíveis que a equipe da Biblioteca das Infâncias, Cinthia e Paulinha, receberam as turmas de 5ºs anos para a apresentação de uma grande escritora. E como o estudo sobre trabalhos invisíveis vai chegar na vida e obra de Carolina Maria de Jesus? Esta foi uma grande escritora brasileira que passou a vida lutando pelo direito de exercer seu dom de escrever; mulher negra, neta de escravizado, só o que se apresentava a ela como opção de sustento era servir como trabalhadora doméstica. Carolina no entanto queria escrever, e com apenas dois anos de estudo formal tanto lutou, insistiu e resistiu, que um dia finalmente teve seu primeiro livro publicado. Seu sustento na época se dava a partir do trabalho de catadora de lixo, mais um exemplo entre tantos que são invisíveis diante dos olhos da maioria de nós.

Não vamos aqui nos estender sobre essa história tão incrível quanto triste, história esta que precisou de duas aulas para cada turma ouví-la inteira, considerando as inúmeras paradas para perguntas, comentários e observações das crianças. Fato é que essa conversa sobre uma catadora de lixo que se tornou escritora depois de muita luta foi um gancho perfeito para a seleção de uma roda de biblioteca com livros de outras “Carolinas”, vozes não ouvidas, mal divulgadas, pouco publicadas.

Realizamos então uma seleção de livros com a provocação: vocês podem conhecer histórias do mundo todo, de diversas culturas, muitas outras além das histórias européias e eurocentradas às quais somos expostos e expostas diariamente. Onde estão e o que dizem autoras e autores negros, de tantos países especialmente africanos e americanos, incluindo o Brasil?; quem são os escritores e escritoras indígenas e que literatura eles produzem?; que outras mitologias e contos tradicionais podemos conhecer de continentes distantes como Ásia e Oceania, assim como de regiões das quais pouco conhecemos, como Palestina, Índia, Marrocos?

Disponibilizamos um extenso acervo para as turmas e aproveitamos esse mesmo olhar também para os 6ºs anos, a quem fizemos a provocação de realizar uma volta ao mundo a partir da leitura de histórias.

Compartilhamos agora com vocês um registro interativo, portanto em construção, dos livros escolhidos pelas turmas de 5º e pelas turmas de 6º (em breve), a partir da nossa seleção. As e os estudantes estão sendo convocados a comentar e indicar as leituras que realizaram e que estão registradas nesse mural. Dessa forma além de fomentar conversas sobre as leituras, esses documentos também servem como um painel de indicações literárias, a partir de uma perspectiva antirracista e de ampliação do repertório cultural.

Esperamos que aproveitem!

Paulinha e Cinthia.

 

Leitura de escritores indígenas com crianças de 1º, 2º e 3º anos

Por Paula Lisboa

Nesse momento de ensino remoto e híbrido, uma das atividades que oferecemos foi um momento de leitura virtual no contraturno para as crianças de 1º, 2º e 3º anos. Em um dos horários da atividade, fiz a proposta de apresentar às crianças histórias escritas por autores indígenas. A atividade é optativa e as crianças poderiam escolher outras propostas de leitura. Desde o início, achei que poderia ter um grupo menor de interesssados nas histórias indígenas, uma vez que somos pouco familiarizados com a cultura dos nossos povos originários.

Verá - O contador de histórias por Olívio Jekupé - Banco CulturalFelizmente desde o primeiro encontro um grupo de crianças chegou com muito interesse em ouvir essas narrativas, e se interessaram ainda mais quando eu contei que faríamos a leitura de livros escritos por autores indígenas. Trouxe as fotos dos autores, imagens de seu povo, contei onde eles vivem.

Em dois meses de leitura ouvimos narrativas dos povos Guarani, Munduruku e Karajá, contadas por Olívio Jekupé e Daniel Munduruku, além dos poemas do poeta Tiago Hakiy, do povo Sateré-Mawé. Apreciamos os desenhos feitos por crianças Guarani no livro Verá, o Contador de Histórias, o que encantou a todos e todas, inspirando que também fizessem seus desenhos enquanto ouviam as histórias. Aprendemos algumas palavras nas línguas Guarani e Munduruku, e ampliamos nosso conhecimento sobre a cosmovisão dos povos indígenas no Brasil.

Fui supreendida pela vontade e capacidade das nossas crianças em absorver as referências de outras culturas de forma muito tranquila, de retomar as narrativas depois de semanas da leitura feita, de reconhecer as palavras nas diferentes línguas indígenas, de se envolver com o contexto trazido pela leitura, conectando diferentes narrativas e ampliando sua sensibilidade para a diversidade étnica e cultural.

Está sendo muito rico acompanhar as conexões que eles fazem ao longo das leituras, reflexões sobre bom e mau, sobre a relação entre indígenas e não indígenas, e sobre os saberes trazidos nas histórias. Nesse tempo já concluímos a leitura de dois livros e começamos um terceiro, além dos poemas que estão intermeando os contos.

Mais uma vez testemunhei o quanto vale a pena acreditar no poder das narrativas para conhecer, sensibilizar e ampliar conhecimento.

Referência dos livros lidos:

JEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003.

MUNDURUKU, Daniel. Um dia na aldeia: uma história munduruku. São Paulo: Melhoramentos, c2012.

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004.

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

 

Um Dia na Aldeia: Uma História Munduruku eBook: Munduruku, Daniel, Negro, Mauricio: Amazon.com.br: Loja Kindle  Contos indígenas brasileiros | Amazon.com.br A pescaria do Curumim e outros poemas indígenas | Amazon.com.br

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 9 e 10 anos

Por Paula Lisboa

Seguindo com nossas sugestões de leitura em capítulos para as crianças de Fundamental 1, trago aqui um apanhado de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para as crianças que estão no final desse ciclo.

Nunca é demais lembrar que um bom livro não tem indicação etária exata para ser lido, é mais uma sugestão, considerando a complexidade da narrativa, a linguagem utilizada pelo autor ou autora, e a capacidade leitora média de crianças com tal idade. Também reforçamos o quanto a mediação de um adulto continua sendo bem vinda, para tirar dúvidas, trazer mais informações, oferecer apoio na compreensão, expandir as reflexões a partir da narrativa… Sem falar que continua valendo o aconchego que uma leitura compartilhada, mesmo depois que a criança está plenamente alfabetizada!

É possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa através desse link de acesso , onde você pode fazer a busca pelo título ou autor, verificar a qual biblioteca pertence e ler as sinopses de cada livro.

Aqui estão dez sugestões de livros para crianças entre 9 e 10 anos!

BARBIERI, Stela. Como mudar o mundo?. 1. ed. São Paulo: FTD, 2015.

Os contos deste livro foram inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU, em 2000, mas que ainda continuam sendo desafios para toda a humanidade. Entre os objetivos, estão o combate à pobreza, à fome, à mortalidade infantil, à Aids, à malária e a outras doenças, a luta por educação, igualdade entre os sexos, autonomia das mulheres, saúde das gestantes, sustentabilidade ambiental e parceria mundial para o desenvolvimento.

 

 

CHAMLIAN, Regina. Gigantes também nascem pequenos. 1. ed. São Paulo: SM, 2006. 

Mindinho é uma criança-gigante que fica órfã de repente: seus pais são assassinados pelo gigante Zarrão, que foge depois de cometer o crime. Um casal de anões tem a difícil missão de contar ao pequeno gigante o que aconteceu. Nessa viagem fantástica a um mundo encantado, o leitor terá de fazer uso, com Mindinho, da perseverança e da imaginação para enfrentar os temores, as perdas e a injustiça.

 

 

 

 

COELHO, Marcelo. Minhas férias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2011. 

“Eu sempre achava que devia entrar em alguma aventura. Não é que eu fosse muito corajoso. Mas achava bacana imaginar alguma coisa como as que acontecem nos livros – garotos que se perdem numa ilha misteriosa, numa caverna, descobrem um tesouro, enfim, aquilo tudo que se sabe”. Entrava ano, saía ano, e lá vinha uma professora de português propondo aos alunos que contassem todas as coisas interessantes que tinham vivido durante as férias. Os alunos eram obrigados a escrever – mesmo que nada de interessante tivesse acontecido com eles. Pois o que o autor faz neste livro é, de certa forma, escrever várias redações sobre as férias. Suas “redações” são especiais pelo jeito de contar as coisas – e porque ele, como a maioria dos meninos e meninas, sabia descobrir pequenas aventuras em situações muito cotidianas, ali onde menos se poderia esperar.

 

COLLODI, Carlo. As aventuras de Pinóquio. São Paulo: Iluminuras, 2002. 

Versão integral do texto clássico do escritor italiano Carlo Collodi. Esta obra-prima da literatura infanto-juvenil, conhecida pelo leitor sempre através de adaptações, tem aqui a oportunidade de conhecer o texto original em toda a sua grandiosidade.

 

 

 

 

DUPRÉ, Maria José. A ilha perdida. 37. ed. São Paulo: Ática, 1998.

Eduardo e Henrique resolvem explorar a misteriosa ilha e descobrir se as histórias sobre o lugar são reais. E acabam por se envolver em uma aventura na qual aprendem o respeito e o amor à natureza.

 

 

 

 

 

FUNKE, Cornelia. Os caçadores de fantasmas: atrás de uma pista fria. São Paulo: Brinque-Book, 2011. 

Tom quer apenas uma coisa: fugir. Mas eis que Erva Cidreira, a experiente caçadora de fantasmas, oferece sua ajuda. Quando os dois começam a conhecer melhor o fantasma, Tom vai percebendo que ele não é tão temível assim. Juntos, os três formam uma equipe imbatível de caçadores de fantasmas e logo encaram sua primeira tarefa: perseguir pistas frias..

 

 

 

GOMES, Alexandre de Castro. Quem matou o saci?. São Paulo: Escarlate, 2017. 

A detetive Billy Conrado e o detetive Joaquim de Jeremias colhem pistas e não poupam esforços para solucionar o misterioso assassinato de um conhecidíssimo personagem do folclore brasileiro. Quem teria motivos para matar o Saci Perereira? Muitos personagens são suspeitos, mas quem seria o verdadeiro culpado? De forma bem-humorada e original, Alexandre de Castro Gomes cria uma história de detetive instigante ao mesmo tempo em que faz um surpreendente passeio pelo folclore brasileiro.

 

 

 

HARTNETT, Sonya. O burrinho prateado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. 

Em uma manhã luminosa de primavera, duas irmãs encontram na floresta um soldado cego. O soldado conta para elas histórias maravilhosas envolvendo sempre a pequena escultura prateada de um burrinho que ele carrega no bolso. Os dias vão passando, e as duas meninas se esforçam, em segredo, para ajudar o soldado a voltar para casa enquanto aprendem o que esse precioso objeto significa. ‘O Burrinho Prateado’ é um tributo à coragem, à lealdade e ao sacrifício. Os belos contos nele reunidos proporcionam uma visão serena, mas firme, tanto dos horrores da guerra quanto do poder da inocência.

 

 

KIPLING, Rudyard. Mogli, o menino lobo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016. 

Tendo como cenário a Índia Central, a história de Mogli, o menino criado por uma alcateia de lobos, é cheia de ação, aventura e amizade. Ao longo de sua jornada, para provar que merece ser respeitado pela Lei da Selva, ele encontra personagens memoráveis, como o perverso tigre Shere Khan, a sábia pantera-negra, Baguera, e o afável urso Balu.

 

 

 

SEPÚLVEDA, Luis. A história de Mix, Max e Mex. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2014. 

Mix e Max eram amigos inseparáveis, como só um garoto e um gato podem ser. Enquanto Max estava na escola, Mix protegia os cereais preferidos de seu dono; enquanto Mix passeava pelos telhados da vizinhança, Max enchia o pote de comida de seu parceiro – e assim, lado a lado, eles cresciam. Acontece que o tempo dos gatos é diferente do tempo das pessoas, e quando Max se tornou um jovem cheio de planos, Mix já estava velho e mal conseguia enxergar. Mas, sem poder se aventurar pelos terrenos vizinhos, ele não imaginava que conheceria um rato tagarela disposto a lhe mostrar com palavras tudo aquilo que seus olhos não viam mais – e muito menos que esse rato pudesse virar seu companheiro leal e fazê-lo sentir-se feliz mais uma vez. Esse era o Mex.

Livros infantis de autores indígenas

Por Paula Lisboa

O dia 19 de abril consta em nosso calendário como sendo o Dia do Índio, um dia para celebrar os povos originários do nosso país. Considerando que os indígenas lutam por sua permanência nessas terras desde a invasão dos europeus em 1500 até os dias atuais, esse não seria tanto um dia para comemorar ou festejar. É um dia sim para honrar, agradecer e também pedir perdão por tanta violência historicamente já cometida a esses povos, que de 3.000.000 de habitantes em 1500 chegaram a menos de 818 mil segundo o censo de 2010.

Como forma de honrar esses povos e sua cultura, trouxemos a indicação de alguns livros do nosso acervo infantojuvenil que foram escritos por autores indígenas. Temos mais livros que trazem contos da tradição indígena escritos por autores não indígenas, que também vale a pena conhecer. Mas hoje nosso objetivo é destacar não somente a cultura e os contos, como também os escritores e narradores indígenas.

Você conhece algum desses livros? Sugere outros que a gente não incluiu aqui? Vamos sempre trocar indicações e ampliar nosso repertório!

Nós: Uma antologia de literatura indígena - 9788574068640 - Livros na Amazon BrasilNós: uma antologia de literatura indígena / organização e ilustrações Maurício Negro. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

Tratando dos mais diversos temas ― dos mitos de origem às histórias de amor impossível ―, as narrativas conduzem o leitor por situações e desenlaces muito próprios, sempre acompanhadas por um glossário e um texto informativo sobre o povo indígena de origem de cada autor. Traz histórias contadas ou recontadas por escritores das nações indígenas Mebengôkre Kayapó, Saterê-Mawé, Maraguá, Pirá-Tapuya Waíkhana, Balatiponé Umutina, Desana, Guarani Mbyá, Krenak e Kurâ Bakairi. Esta é uma chance preciosa para todos aqueles que desejam entrar em contato com as raízes mais profundas de nossa cultura, ainda pouco valorizadas e respeitadas, por puro desconhecimento.

Contos indígenas brasileiros | Amazon.com.brMUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros / il. Rogério Borges. São Paulo: Global, 2004.

Os oitos contos selecionados pelo autor, a partir de um critério linguístico, têm a intenção de retratar, através de seus mitos – o roubo do fogo, a origem do fumo, depois do dilúvio, entre outros -, a caminhada de alguns de nossos povos indígenas do norte ao sul do país – Guarani, Karajá, Munduruku, Tukano, entre outros. A leitura dessas histórias dá às crianças uma rica visão de nossa herança cultural.

 

 

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

Tiago Hakiy mora no coração da floresta amazônica. Descendente do povo sateré mawé, neste livro ele apresenta a cultura indígena em forma de poesia. A fauna e a flora da região amazônica, os costumes do povo e sua interação com a natureza são retratados em poemas que revelam a beleza e a riqueza da vida na floresta.  

 

Ajuda do Saci - Kamba´i » Editora DCLJEKUPÉ, Olívio. Ajuda do saci: kamba’i. São Paulo: DCL, 2006.

Em edição bilíngue – português e guarani –, Olívio Jekupé conta a história de Vera, um kunumi (indiozinho) que sonhava em ir para a escola dos não-índios.

Queria aprender tudo que eles sabiam para poder defender o seu povo. 

 

 

 

Livro: Verá, o contador de histórias | blog da mamãe sustentávelJEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003. (Memórias ancestrais Povo Guarani).

Todos pensam que só os índios mais velhos têm boas histórias para contar. Mas agora você conhecerá Verá Mirim, um curumim guarani que conta histórias fantásticas e emocionantes, e que diverte a todos com sua criatividade e inteligência.

 

 

 

Arandu Ymanguaré | Amazon.com.brJEKUPÉ, Olívio. Arandu ymanguaré: sabedoria antiga. São Paulo: Evoluir, 2003.

Para que saibam valorizar e defender os povos indígenas é preciso que desde cedo nossas crianças conheçam a força, a beleza e riquezas daquelas culturas. E é isso que o índio Guarani Olivio Jakupé, da aldeia Kurukutu nos mostra neste livro, por meio de três lindas histórias, do dicionário tupi guarani e da entrevista em que responde às perguntas de como é o estilo de vida na aldeia.

O Pássaro Encantado | Amazon.com.br

POTIGUARA, Eliane. O pássaro encantado. São Paulo: Jujuba, 2014. 

Os avós são figuras muito importante para os povos indígenas. Trazem os costumes, as memórias e os ensinamentos para a vida. Neste livro, Eliane Potiguara nos conta sobre a relação com esta figura poderosa e mágica, a avó, que traz as histórias vivas dentro de si. Aline Abreu, com suas ilustrações, nos carrega para esse tempo de magia. 

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 6 a 8 anos

Por Paula Lisboa

Tem tanto livro bom publicado por aí que é praticamente impossível fazer uma lista curta com os melhores livros infantis e infantojuvenis. A lista que vamos apresentar aqui é apenas uma pincelada de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para realizar com as crianças nos primeiros anos do Fundamental 1.

Lembrando sempre que um bom livro não tem uma idade certa para ser lido, na verdade podemos considerar que a indicação etária é mais no sentido de “a partir de”, e não como um recorte absoluto. Ou seja, esses livros também podem ser lidos e apreciados por crianças mais velhas.

Vale lembrar que na hora de oferecer um livro para a criança devemos considerar se ela vai fazer a leitura sozinha, o que requer mais maturidade e capacidade leitora, ou com a mediação de um adulto, que pode tirar dúvidas, trazer informações, oferecer apoio na compreensão.

Também quero aproveitar para lembrar que é possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa. Basta clicar nesse link de acesso ao acervofazer a busca pelo título ou autor, e ter acesso ao número de exemplares assim como às sinopses de cada livro.

Aqui estão nossas dez sugestões de livros com sucesso garantido entre as crianças de 6 a 8 anos!

CARRANCA, Adriana. Malala, a menina que queria ir para a escola. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2015. 95 p.

Malala Yousafzai quase perdeu a vida por querer ir para a escola. Ela nasceu no vale do Swat, no Paquistão, uma região de extraordinária beleza, cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Foi habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, como nos contos de fadas. Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Quando tinha dez anos viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã. Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras. Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram que somente os meninos poderiam estudar. Mas Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola, sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do atentado, hospedou-se com uma família local e conta neste livro tudo o que viu e aprendeu por lá. Ela apresenta às crianças a história real dessa menina que, além de ser a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz, é um grande exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.

 

COLFER, Eoin. Pânico na biblioteca. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. 94 p.

Em PÂNICO NA BIBLIOTECA, o irlandês Eoin Colfer ― vencedor do British Book Awards e WH Smith, prestigiosos prêmios de literatura infantil na Inglaterra ― cria uma história que é diversão garantida para leitores dos oito aos oitenta anos. Colfer conta a história de uma família para lá de movimentada, com cinco irmãos muito levados e amigos cheios de planos infalíveis.

 

 

 

 

 

 

 

DAHL, Roald. Matilda. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. 254 p.

Matilda adorava ler. Passava horas na biblioteca, lendo um livro atrás do outro. Mas, quanto mais ela lia e aprendia, mais aumentavam seus problemas. Os pais viam televisão o tempo todo e achavam muito estranho uma menina gostar tanto de ler. A diretora da escola achava Matilda uma fingida, pois ela não acreditava que uma criança tão nova pudesse saber tantas coisas. Depois de mil peripécias, em que tentou se livrar da tirania dos pais e da diretora, Matilda acabou encontrando a compreensão de uma professora, srta. Mel, com quem foi morar.

 

 

 

 

 

 

 

LENAIN, Thierry. A estranha Madame Mizu. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2006. 94 p.

Enredo ágil, personagens consistentes e fidelidade ao humor das crianças são as características básicas dessa história sobre uma menina e uma velha que habitam o mesmo prédio. Zoé mora no andar de baixo, madame Mizu mora no andar de cima. Zoé é solitária: não tem irmãos e seus pais ficam fora de casa o tempo todo, trabalhando sem parar. Madame Mizu, por sua vez, é bruxa. Ou melhor: só pode ser – mas se de fato é ou não é, eis uma questão que só será resolvida no fim do livro. Na sua solidão, Zoé tem bons motivos para se assustar com os ruídos estranhos que vêm do apartamento de cima (bengaladas e gargalhadas, por exemplo). Mas ela é corajosa também, e tem uma imaginação que sempre inventa novas maneiras de provocar a bruxa. Mas cutucar a onça com vara curta pode ser uma brincadeira muito perigosa…

 

 

 

LINDGREN, Astrid. Píppi Meialonga. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2018. 207 p. 

Autora de mais de oitenta livros já traduzidos para mais de setenta línguas, a sueca Astrid Lindgren escreveu “Píppi Meialonga” em 1945, como presente para os dez anos de sua filha. Píppi é uma menina de nove anos incrivelmente forte. Não tem pai nem mãe e mora sozinha, mas feliz da vida. Seus companheiros são um cavalo e um macaquinho. Ela mesma faz suas roupas – bem esquisitas – e sua comida – biscoitos, panquecas e sanduíches. Destemida e sapeca, lembra a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Píppi tem sempre uma resposta na ponta da língua e demonstra grande confiança em si mesma. Dá uma surra em cinco meninos brigões, engana os policiais que querem levá-la para um lar de crianças, põe dois ladrões a correr e enfrenta um touro a unha. Nada convencional, causa espanto e confusão por onde passa, seja na escola, no circo ou na casa de seus vizinhos. É, enfim, uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura. Absolutamente encantadora.

 

 

LISPECTOR, Clarice. O mistério do coelho pensante e outros contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 78 p. 

Coelhos não pensam como a gente, mas podem ter idéias e descobrir coisas. Eles compreendem o mundo com o nariz. Franzindo e desfranzindo o narizinho, Joãozinho, o coelho pensante, cheirava idéias. A primeira idéia que cheirou foi uma maneira de fugir da gaiola de ferro. Escapava sempre que não tinha comida, mas, depois, tomou gosto pela liberdade e fugia para passear, descobrir o mundo e visitar a namorada e os filhotinhos. Como conseguia sair da gaiola, ninguém até hoje soube explicar. Quem sabe se franzindo bem o nariz a gente consiga ‘cheirar’ alguma idéia e descobrir esse mistério…

 

 

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019. 247 p. 

Reinações de Narizinho é o primeiro de uma série de livros que abriria as porteiras do Sítio do Picapau Amarelo para os pequenos leitores do Brasil. Com seu universo único e encantador, as aventuras que Narizinho, Pedrinho, Emília e tantos outros personagens vivem nos arredores do Sítio e no Reino das Águas Claras marcaram a história da literatura brasileira e consagraram Monteiro Lobato como o grande nome de nossa literatura infantojuvenil. Esta nova edição de luxo, organizada por Marisa Lajolo, vem acompanhada por um texto introdutório que explica o contexto cultural da época de publicação do livro e debate as questões polêmicas relacionadas à obra de Monteiro Lobato. Traz também notas de rodapé em formato de diálogo entre as personagens, que explicam o vocabulário e os costumes do Brasil da década de 1920, além de ilustrações que reinterpretam a turma do Sítio.

 

 

ONDJAKI. A bicicleta que tinha bigodes: estórias sem luz elétrica. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. 86 p. 

Esse livro é um verdadeiro abraço de amizade e de solidariedade. A Rádio Nacional de Angola promove um concurso e oferece como grande prêmio uma bicicleta para a criança que escrever a melhor história. Esse é o pano de fundo para a ficção emocionante de Ondjaki, que nos remete à fantasia presente na infância – amizade, ternura, descobertas –, mas também ao reflexo nas crianças do processo político do país. Nos damos conta, entre outras tantas coisas, que a busca por algo pode ser mais valiosa que a própria conquista. E que viver boas histórias pode ser tão, ou mais emocionante, que saber inventá-las.

 

 

 

 

 

 

PENTEADO, Maria Heloisa. A outra Marina. São Paulo: Global, 2004. 40 p. 

Em A Outra Marina, a criança será seduzida pela curiosidade, coragem e sensibilidade da personagem. Marina sabia, tinha certeza, que Dona Lili tinha um segredo. Um segredo dela e do mar. Precisava descobrir. Porém, o que a menina não sabia era que, ao descobrir o local onde a velha arranjava aquelas belezas de conchas vendidas aos turistas, viveria duas experiências. Uma seria perigosíssima – Dona Lili era uma bruxa terrível e assustadora. A outra, maravilhosa – o encontro de uma outra Marina. Igualzinha a ela. Uma outra Marina para poder brincar, brigar e enfrentar as maldades da velha feiticeira. Imaginação ou realidade?

 

 

 

 

SOMMER-BODENBURG, Angela. O pequeno vampiro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 135 p. 

Anton adora ler histórias de terror, principalmente de vampiros, aqueles seres terríveis, com dentes enormes e afiados. Mas Anton nunca tinha ouvido falar de um vampiro como Rüdiger. É um vampiro muito simpático que, como Anton, também gosta de ler. Com ele dá até para brincar de “mocinho e bandido”.

 

Livros que conversam sobre agressividade e afins

por Paula Lisboa

É verdade que ler é bom por si só, independente de tema a ser trabalhado, ou objetivo a ser alcançado. Ler é gostoso e traz uma série de benefícios pra gente, sempre! Uma leitura também traz possibilidades de conversas, e pode ser gatilho disparador de muita reflexão tanto interna quanto compartilhada.

Levantei alguns títulos que acho especialmente interessantes quando queremos refletir sobre a agressividade existente em nós e nas relações. Se você lembrar de outros livros em torno do tema, compartilhe nos comentários! 

As garras do leopardo / Chinua Achebe com John Iroaganachi ; ilustrações de Mary GrandPré ; tradução de Érico Assis. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p.

No começo, todos os bichos eram amigos. Eles não tinham garras nem dentes afiados, nem mesmo o rei, o bondoso leopardo. A única exceção era o cachorro, que, com seus caninos pontudos, era motivo de gozação entre os animais. Certo dia, o cão, cheio de rancor, resolveu usar o que tinha de diferente para enfrentar o rei leopardo e se tornar o bicho mais poderoso da selva. E foi assim, a dentadas, que ele derrotou o grande líder, mandando-o para bem longe. Mas o leopardo logo retornaria. Dotado de um rugido ainda mais forte, de garras afiadas e dentes reluzentes, o antigo rei voltou para fazer justiça – e, a partir daí, a vida na selva nunca mais seria a mesma. 

Neste conto o escritor nigeriano Chinua Achebe fala de libertação e justiça, referindo-se ao doloroso processo de colonização de um povo. Podemos também encaminhar a reflexão sobre a ideia do uso da força bruta para exercer autoridade. Tem um interessante distanciamento que os contos populares proporcionam – refletir sobre um comportamento humano a partir de uma situação entre animais.

Pinote, o fracote e Janjão, o fortão / Fernanda Lopes de Almeida ; ilustrações de Alcy Linares. São Paulo: Ática, 2006. 32 p.

Janjão era o valentão da turma e nem imaginava que um menino pequeno como Pinote fosse capaz de derrotá-lo. Como era o mais forte, Janjão obrigava todos a fazerem o que ele quisesse, mas não contava com a possibilidade de não poder controlar o pensamento!

A força bruta parecia eficiente para controlar os amigos por um tempo, até Janjão perceber que não há força capaz de controlar o pensamento – e também os sentimentos – dos outros.  

Marilu / Eva Furnari. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 31 p.

Marilu achava tudo chato e sem graça – as nuvens bobas, as montanhas cinzas. Andava sempre aborrecida em seu mundo monótono e sem cor, até que, certo dia, viu uma garota carregando uma inacreditável lanterna multicolorida. Decidida a comprar uma igual, foi em busca da loja vermelha que a garota lhe indicara. Qual não foi sua surpresa, porém, quando depois de comprado o brinquedo começou a ficar cinza. Voltou à loja decidida a protestar, gritar e espernear, mas isso não resolveria o problema, que afinal não estava nas coisas, mas em sua maneira de olhar.

Uma ótima história sobre olhar o mundo com bom humor e assim ser mais feliz. Não adianta querer conquistar as cores da vida com raiva e xilique, mas sim a alegria interior, um modo de ver o mundo.

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Nós / Eva Furnari. São Paulo: Moderna, 2015. 31 p.

Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Os moradores da cidade a ridicularizavam e Mel sofria muito. Como se não bastassem as borboletas, um dia descobriu um nó no dedinho do pé. Depois, mais outro no dedo da mão, e mais outros, por isso Mel resolve ir embora. Do outro lado do rio, encontrou Kiko, um garoto também cheio de nós que a ensinou a desfazer nó de nariz, e ela dividiu com ele as borboletas.

Olhando pra menina Mel podemos sentir a tristeza causada pela falta de aceitação e o despropósito do ato de ridicularizar outras pessoas.

 

 

A ponte / Heinz Janisch ; ilustrações de Helga Bansch ; tradução de José Feres Sabino. São Paulo: Brinque-Book, 2012. 27 p.

O rio e a ponte que o atravessa guardam muitas histórias. Certo dia, um urso e um gigante topam um com o outro no meio da longa e estreita ponte. Nenhum deles aceita recuar, nenhum quer arredar o pé, mas não podem passar ao mesmo tempo. Como será que os grandalhões chegarão aos seus respectivos destinos?

Dois brutalhões diante de um problema que não dá pra ser resolvido na marra, na força bruta, na agressividade. Eles precisam baixar a bola para solucionar a questão. Juntos, conseguem encontrar uma forma até um pouco afetuosa para isso!

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Tonico, o invisível / Gianni Rodari ; ilustrações, Alessandro Sanna ; tradução, Franscico Degani.. São Paulo: Biruta, 2011. 30 p.

Tonico percebeu que estava invisível. Depois disso, fez muita confusão, trapalhada e descoberta. O que parecia ser muito bom – ficar invisível – significava também não ser visto por ninguém, mesmo quando queria um abraço, um bate-papo, uma brincadeira… Além de divertir, o livro do premiado autor Gianni Rodari leva à reflexão sobre as relações sociais cotidianas e pode provocar discussões muito interessantes: se você estivesse invisível, o que você faria? Parece legal provocar os outros e não levar nenhuma bronca, já que está invisível, mas e na hora de ir brincar com os amigos, também vai ser bom estar invisível? É preciso ser invisível para provocar as outras pessoas? Provocar os outros pode ser uma forma de se mostrar pra quem não está querendo te ver? Como você sentiria se de repente ninguém te visse? Por que ninguém vê o velhinho, ele também é invisível? 

Ninguém vai ficar bravo? / Toon Tellegen, Marc Boutavant ; tradução Patricia Broers Lehmann. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 82 p.

Em 12 capítulos curtos, vemos diversos animais zangados e irritados, em diferentes circunstâncias. Alguns tentam entender sua raiva, outros tentam controlá-la, e outros, ainda, deixam-se dominar por ela. São histórias engraçadas e incomuns, mas que também propiciam uma reflexão profunda sobre a natureza das emoções humanas.

Um livro incrível que provoca muita conversa sobre as nossas emoções. 

 

 

Três ursos / Cliff Wright ; tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 2008. 32 p.

Sem poder sair de casa por causa da pata quebrada, Urso Marrom está muito preocupado. Seus amigos, Urso Negro e Urso Branco estão se divertindo sem ele – mas na verdade eles estão preparando uma linda surpresa para o Urso Marrom. 

É interessante observar “de fora” a braveza do Urso Marrom, porque a gente sabe que ele não tem motivo pra ficar bravo. Lendo a história conseguimos perceber que ele não precisava se exaltar, mas as emoções podem ser difíceis de controlar… Quem nunca ficou muito bravo porque tinha alguma certeza e depois descobriu que não era nada daquilo?

Ursula K. Le Guin

por Lucas Meirelles

 

Olás!

Antes de apresentar essa escritora e criar um perfil biobibliográfico, vou contar que ela – e seus livros – têm me acompanhado durante esse período de quarentena. Já li dois e estou no terceiro livro que falarei mais para frente sobre.
Então vamos à autora e sua obra!

Ursula Kroeber Le Guin, escritora estadunidense, nasceu em 1929 e faleceu em 2018. Filha de dois grandes antropólogos, Alfred L. Kroeber e Theodora Kracow-Kroeber, escreveu romances, contos, novelas, poesias e literatura infantojuvenil, além de ensaios e traduções. Durante sua vida recebeu diversas premiações literárias e algumas de suas produções foram adaptadas para o cinema e a TV. A crítica que ela recebia sobre sua literatura foi de encontro à educação e questionamentos que lhe foram dados desde o começo de sua infância.

Ela é muito conhecida por ser uma autora de ficção científica. Então em muitos de seus escritos temos distopias e utopias, mundos extraterrestres, vida artificial e os impactos de tecnologias e avanços científicos nas sociedades. Além dessa característica, outros temas e influências são notados e merecem vir à tona. Ela se declarava taoísta e anarquista, trazia em seus horizontes o feminismo, o pacifismo e diversos elementos da antropologia e outras ciências sociais.

O primeiro livro que li dela é o “A mão esquerda da escuridão“, que traz o protagonista Genly Ai, um terráqueo que vai ao planeta Gethen e tem a missão de convencer o povo desse planeta a participar do Ekumen, uma confederação informal dos planetas. A característica marcante desse planeta, e que deixa Genly Ai com muita dificuldade, é o fato das pessoas serem ambissexuais, ou seja, ninguém tem um sexo biológico fixo. Vê-se, então, como o sexo e o gênero influenciam nessa sociedade e como pode se dar o Ekumen.

Depois li “Os despossuídos“, que traz uma utopia anarquista. São dois planetas próximos, Urras e Anarres, que têm sistemas políticos bem distintos: um é capitalista, outro anarquista. Dentro desse pano de fundo, um cientista de Anarres viaja para Urras para fazer um intercâmbio tecnológico e, por conta dessa grande diferença entre os planetas, alguns acontecimentos dão certo, outros nem tanto.

E agora estou terminando “A curva do sonho“, que é a história de George Orr, um homem que, depois de sonhar, altera e transforma a realidade. Ele então começa a ter medo de dormir e sonhar. Em consultas com um psiquiatra e com algumas máquinas eles tentam entender esse fenômeno e, ao mesmo tempo, vão “consertando” com os sonhos a realidade do que está errado no mundo.

Muito mais informações sobre ela e seus livros (além de fotos e ilustrações dos mapas de alguns títulos!!) estão no site oficial dela: https://www.ursulakleguin.com/ (em inglês apenas)

Por enquanto ainda não temos nenhum livro dela de literatura adulta, mas temos em nossas bibliotecas um título infantojuvenil que é o:

LE GUIN, Ursula K. Gatos alados. São Paulo: Ática, 1996. 45, [1] p. ISBN 8508062087.

A Conferência dos Pássaros: um conto clássico recontado em forma de Arte

Por Paula Lisboa

Existem livros que são verdadeiras obras de arte, tamanho o cuidado estético em sua criação. Sem dúvida é o caso desse A Conferência dos Pássaros, criado pelo grande autor e ilustrador Peter Sís, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, um dos maiores prêmios da Literatura Infantil.

A história em si não é de sua autoria, trata-se de um conto da tradição oral sufi, atribuída ao poeta persa Farid Ud-di Attar e datada do século XII. Peter Sís inclui o poeta Attar no início do livro, quando conta que um dia ele acordou de um sonho inquietante e se viu transformado em uma poupa, uma ave que tem como característica marcante uma crista na cabeça. Essa poupa convoca todos os pássaros para uma conferência, e assim tem início a tradicional narrativa oriental. A reunião tem por objetivo convidar a todos para partirem juntos em busca de um rei que vive numa montanha distante, e que poderia ter as respostas para os problemas que eles enfrentam, como a ganância, a vaidade, a disputa e a destruição.

Todos partem em viagem, voando por um caminho cheios de dúvidas, ressentimentos e medo de mudanças, em uma verdadeira jornada rumo à transformação pessoal. Se por um lado sentem medo e dúvida, por outro são impulsionados pela poupa, que os incentiva a percorrer todos os cantos do mundo com a esperança de atingir seu propósito. Passam, assim, por sete vales: da procura, do amor, da compreensão, do desapego, da unidade, do deslumbramento e da morte. São tantos desafios enfrentados que muitos pássaros desistem no caminho e não continuam a jornada.

E assim vamos seguindo por profundos mergulhos em nossa existência.

Essa história já foi narrada muitas vezes, mas nessa edição ela tem um tratamento especial pelas ilustrações de Peter Sís, que pesquisou sobre a cultura oriental persa e também sobre a anatomia dos pássaros. O resultado são ilustrações impressionantes, que ampliam ainda mais a grandiosidade dessa história tão antiga quanto atual, e que ao final nos revela que a resposta está muito mais próxima do que imaginamos.

É bem verdade que não há nada como ter o livro nas mãos para apreciar essa bela obra de arte, mas se quiser você também pode acompanhar a leitura assistindo os vídeos abaixo.





SÍS, Peter. A conferência dos pássaros. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013.

“Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?”

Por Paula Lisboa

Sabemos que uma rotina bem estruturada é importante para organizar as crianças internamente, e por isso a família toda se esforça para garantir uma programação semanal bem definida: de segunda à sexta as crianças vão pra escola e o final de semana costuma ser dedicado ao lazer, com passeios, encontros sociais e familiares.

Ilustração de Anna Cunha

Eis que de repente da noite pro dia tudo mudou: a escola fechou, não podemos ver os amigos, nem pensar em ir na casa da vó ou do vô. Não dá pra passear por aí sem usar máscara, nem podemos ir ao cinema ou comer num restaurante. Todos fomos impactados, mas para alguns o impacto pode ser ainda maior, pois a medida simplesmente aparece pronta, sem qualquer participação nos eventos que a precederam. Crianças pequenas, e crianças e adolescentes do espectro autista merecem de nós uma dedicação para que ajudá-los a compreender um pouco o que está se passando.

Com esse intuito, ainda no mês de março foi elaborada uma carta pelo Fórum Mineiro de Educação Infantil da FAE/UFMG e o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil e Infâncias – NEPEI, da Faculdade de Educação da UFMG, a Carta às meninas e aos meninos em tempos de Covid-19.

Ilustração de Raquel Matsushita

Ricamente ilustrada por 11 artistas da literatura para a infância, pode-se dizer que o resultado é uma obra de arte. O texto, de autoria de Mônica Correia Baptista, foi inspirado na Carta para los niños y niñas en este momento de crisis, de Carla infanta e Isídora Lobo.

Iniciando a carta com a proposta de “Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?” essa pode ser uma ótima leitura para todas as famílias realizarem juntas enquanto estão em casa.

Acesse pelo Instagram: instagram.com/criancasdobrasil
Acesse pelo Issuu: bit.ly/CartaCriançasCovid-19
Baixe o PDF: bit.ly/downloadCartaCrianças

Outras duas produções merecem ser divulgadas nesse momento, focadas especificamente na conscientização e reflexão sobre o autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA), elaboradas pelo Laboratório de Terapia Ocupacional e Saúde Mental.

O primeiro material visa criar uma rede de solidariedade, como parte de um movimento de conscientização do autismo. Traz informações sobre o transtorno e convida à reflexão sobre as particularidades das famílias de crianças e adolescentes com autismo, em meio ao cenário atual. O segundo material é destinado a essas famílias e traz orientações que podem contribuir para o melhor enfrentamento da situação.

É possível acessar ambos os materiais direto na página no Facebook do Laboratório.

E por fim, mas não menos interessante, temos a produção da editora inglesa Nosy Crow, traduzida e também distribuída gratuitamente no Brasil pela editora Brinque-Book, chamada Coronavírus – um livro para crianças.

Em uma produção que juntou especialistas em saúde, profissionais da educação e as divertidas ilustrações de Axel Scheffler, o livro traz explicações simples e diretas a respeito do coronavírus e seu impacto na saúde e no dia a dia de todos nós. As crianças certamente irão reconhecer os traços dos desenhos de Axel Scheffler, ilustrador de livros como O Grúfalo, Macaco Danado, entre outros.

A obra pode ser acessada online ou baixada no computador através do site da editora.

Livro velho, livro novo: livro!

por Paula Lisboa

Agora que estamos em casa sem poder aproveitar a biblioteca pra trocar e indicar livros, a gente tem se virado como pode, aproveitando toda a tecnologia que temos à nossa disposição: fazendo leituras ou indicações de leitura em vídeo, lives com contação de histórias, baixando livros disponíveis em PDF ou aproveitando as opções em e-books.

E justamente nesse momento eu encontrei na minha casa uma coisa linda, uma preciosidade: um livro antigo de quando eu era bem pequena, um livro que eu e minhas irmãs gostávamos tanto, lemos tanto, que ele até ficou destruído, a capa dura caiu e a tentativa de remendo não foi muito bem sucedida. Mas o mais legal é que esse mesmo livro foi reeditado recentemente e distribuído por uma campanha bem feita de leituras de qualidade, de forma que muitas crianças hoje também o conhecem!

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1979 pela editora Berlendis & Vertecchia

Se eu disser pra vocês que esse aqui é o “meu” Chapeuzinho Amarelo, acreditem: ele conta exatamente a mesma história do Chapeuzinho Amarelo que vocês conhecem! O texto é o mesmo, escrito pelo Chico Buarque. A diferença é que o livro que eu tinha quando era criança foi feito pela editora Berlendis & Vertecchia em 1979, numa época em que estavam começando a lançar livros escritos e ilustrados especialmente para as crianças. Esse foi um dos primeiros livros lançados pela editora, no mesmo ano de sua fundação e foi a própria fundadora da editora, a designer gráfica Donatella Berlendis, que fez as ilustrações. Mas ao invés de estar escrito que ela fez as “ilustrações”, está escrito que ela fez o “planejamento gráfico” do livro, ou seja, tanto os desenhos como a forma como eles são dispostos nas páginas e a relação com o texto. Isso tudo era uma grande novidade naquela época e logo o livro ganhou indicação de Altamente Recomendável para Crianças e foi um sucesso.

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1997 com ilustrações de Ziraldo

Só 18 anos depois, em 1997, foi lançado o mesmo texto do Chico Buarque dessa vez feito por outra editora e com desenhos de outro ilustrador. Agora a editora passou a ser a José Olympio e quem ilustrou a história foi o Ziraldo, autor e ilustrador que já tinha bastante reconhecimento por seu trabalho naquela época. Essa é a versão da Chapeuzinho Amarelo que a maioria de vocês conhece.

A história pode ser a mesma, mas pra mim é muito mais gostoso ler o livro que eu lia quando era pequena, pois é como se eu enxergasse o livro com olhos de criança. Além das ilustrações terem estilos bem diferentes – a ponto de muita gente se debruçar a estudar e escrever trabalhos de pesquisa comparando as duas versões -, pra mim a maior diferença está mesmo na memória afetiva, na lembrança carinhosa.

E nesse momento eu confirmo: não tem e-book, PDF ou vídeo de história que seja capaz de substituir a relação tão especial que temos com um livro em papel, que depois de virado tantas vezes pelas mãos ágeis da criança pode até rasgar, mas continua inteiro e vivo na memória do dedos, dos olhos, dos ouvidos e até do nariz – ou vai dizer que você não sente o cheiro do seu livro preferido?

Aqui nesse link você pode assistir a leitura que eu fiz do livro!

Lobo desenhado só com o contorno, na edição de 79 com projeto gráfico de Donatella Berlendis

Lobo medonho ilustrado pelo Ziraldo, nas publicações de 97 em diante

Essa era minha parte preferida e única ilustração colorida em todo o livro!


BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia, 1979.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.