Por Eliana Scavarelli Arnoldi
No momento em que nossos olhos se voltam cada vez mais para a gigante China, este livro nos dá a oportunidade de conhecer o peculiar tratamento que este país dispensou às suas mulheres durante os anos da Revolução Cultural.
O livro é fruto de inúmeros relatos coletados por uma jornalista chinesa, Xinran, durante os dez anos em que essa esteve à frente do programa de rádio Palavras na Brisa Noturna, uma espécie de oásis dentro da tão fechada mídia chinesa, no qual as pessoas podiam falar de seus problemas pessoais.
As histórias têm como protagonistas mulheres que devido ao peso das tradições e dos anos de totalitarismo e repressão sofreram os mais diversos tipos de violência e humilhação. São histórias como as de Jingyi que foi separada de seu amado pela Revolução Cultural e o procurou por 45 anos; a de Yang que viu a morte de sua filha durar 14 lentos dias após um terremoto e que hoje cuida de um orfanato que abriga crianças cujos pais morreram no mesmo abalo sísmico; e a de uma mulher cujo casamento foi arranjado pelo Partido Comunista.
Escritas em uma linguagem agradável e fácil, as histórias prendem a atenção do leitor a cada página graças à profundidade e sensibilidade do estilo da autora. O livro nos revela situações inimagináveis, chocantes e comoventes que aconteceram, e talvez ainda aconteçam, no gigante asiático.
XINRAN. As boas mulheres da China. Companhia das Letras, 2007.