MURAL DE INDICAÇÕES LITERÁRIAS : Curadoria Antirracista e Diversidade Cultural

Foi a partir de um estudo em Ciências Humanas sobre trabalhos invisíveis que a equipe da Biblioteca das Infâncias, Cinthia e Paulinha, receberam as turmas de 5ºs anos para a apresentação de uma grande escritora. E como o estudo sobre trabalhos invisíveis vai chegar na vida e obra de Carolina Maria de Jesus? Esta foi uma grande escritora brasileira que passou a vida lutando pelo direito de exercer seu dom de escrever; mulher negra, neta de escravizado, só o que se apresentava a ela como opção de sustento era servir como trabalhadora doméstica. Carolina no entanto queria escrever, e com apenas dois anos de estudo formal tanto lutou, insistiu e resistiu, que um dia finalmente teve seu primeiro livro publicado. Seu sustento na época se dava a partir do trabalho de catadora de lixo, mais um exemplo entre tantos que são invisíveis diante dos olhos da maioria de nós.

Não vamos aqui nos estender sobre essa história tão incrível quanto triste, história esta que precisou de duas aulas para cada turma ouví-la inteira, considerando as inúmeras paradas para perguntas, comentários e observações das crianças. Fato é que essa conversa sobre uma catadora de lixo que se tornou escritora depois de muita luta foi um gancho perfeito para a seleção de uma roda de biblioteca com livros de outras “Carolinas”, vozes não ouvidas, mal divulgadas, pouco publicadas.

Realizamos então uma seleção de livros com a provocação: vocês podem conhecer histórias do mundo todo, de diversas culturas, muitas outras além das histórias européias e eurocentradas às quais somos expostos e expostas diariamente. Onde estão e o que dizem autoras e autores negros, de tantos países especialmente africanos e americanos, incluindo o Brasil?; quem são os escritores e escritoras indígenas e que literatura eles produzem?; que outras mitologias e contos tradicionais podemos conhecer de continentes distantes como Ásia e Oceania, assim como de regiões das quais pouco conhecemos, como Palestina, Índia, Marrocos?

Disponibilizamos um extenso acervo para as turmas e aproveitamos esse mesmo olhar também para os 6ºs anos, a quem fizemos a provocação de realizar uma volta ao mundo a partir da leitura de histórias.

Compartilhamos agora com vocês um registro interativo, portanto em construção, dos livros escolhidos pelas turmas de 5º a partir da nossa seleção. As e os estudantes estão sendo convocados a comentar e indicar as leituras que realizaram e que estão registradas nesse mural. Dessa forma além de fomentar conversas sobre as leituras, esses documentos também servem como um painel de indicações literárias, a partir de uma perspectiva antirracista e de ampliação do repertório cultural.

Esperamos que aproveitem!

Paulinha e Cinthia.

Histórias em Quadrinhos em destaque na Biblioteca

por Fermín Damirdjian

Nada mais natural e óbvio do que considerar as imagens como um recurso potente e onipresente. Filmes, séries inteiras, um telejornal, uma partida de futebol cabem em nosso bolso, na palma da mão, em um quadradinho qualquer alocado em paralelo a uma reunião de trabalho ou uma aula magna. Tudo isso já sabemos. Mas pode ser bom rememorar um pouco como eram as imagens que cabiam na mão antes de recursos tecnológicos tão sofisticados.

A atual imagem da biblioteca brinda os transeuntes com uma farta vitrine de quadrinhos, que vão desde Corto Maltese, Flash Gordon e Asterix, a Laerte, Angeli e Glauco, sem deixar de passar por Mafalda e mangás, dentre muitos outros. As cores das capas saltam em uma prateleira que por si só já é uma grande página de um comic.

Obras de HQs em exposição na entrada da Biblioteca. Foto: Fermín Damirdjian

Roteiristas lendários, desenhistas impecáveis. E alguns autores que concentram ambas virtudes. Esse modo de desenhar quadros com imagens prestou-se fortemente a narrar histórias épicas, tanto quanto a retratar em um só cartum uma situação política instantânea, uma espécie de crônica ou artigo de opinião em linguagem gráfica. Livros clássicos, como a Ilha do Tesouro ou A Metamorfose, ganham vida em um recurso imagético e literário cujas origens remonta à indústria gráfica do início da Revolução Industrial.

A oferta desse recurso prosaico e rico, na Biblioteca da Vila das Juventudes, é um convite não apenas à história recente das tramas seriadas, mas também a uma linguagem que se mantém viva e ativa em época de alta tecnologia – quiçá hoje mais traduzida no sucesso dos mangás, mas com certeza não apenas por isso.

Em todo caso, fica feito o convite. As aventuras e desventuras resguardadas dentro dessas páginas não dependem de assinaturas nem de wi-fi. Basta abrir e ler.

Fermín Damirdjian – Orientador Educacional Ensino Médio

 

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 9 e 10 anos

Por Paula Lisboa

Seguindo com nossas sugestões de leitura em capítulos para as crianças de Fundamental 1, trago aqui um apanhado de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para as crianças que estão no final desse ciclo.

Nunca é demais lembrar que um bom livro não tem indicação etária exata para ser lido, é mais uma sugestão, considerando a complexidade da narrativa, a linguagem utilizada pelo autor ou autora, e a capacidade leitora média de crianças com tal idade. Também reforçamos o quanto a mediação de um adulto continua sendo bem vinda, para tirar dúvidas, trazer mais informações, oferecer apoio na compreensão, expandir as reflexões a partir da narrativa… Sem falar que continua valendo o aconchego que uma leitura compartilhada, mesmo depois que a criança está plenamente alfabetizada!

É possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa através desse link de acesso , onde você pode fazer a busca pelo título ou autor, verificar a qual biblioteca pertence e ler as sinopses de cada livro.

Aqui estão dez sugestões de livros para crianças entre 9 e 10 anos!

BARBIERI, Stela. Como mudar o mundo?. 1. ed. São Paulo: FTD, 2015.

Os contos deste livro foram inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU, em 2000, mas que ainda continuam sendo desafios para toda a humanidade. Entre os objetivos, estão o combate à pobreza, à fome, à mortalidade infantil, à Aids, à malária e a outras doenças, a luta por educação, igualdade entre os sexos, autonomia das mulheres, saúde das gestantes, sustentabilidade ambiental e parceria mundial para o desenvolvimento.

 

 

CHAMLIAN, Regina. Gigantes também nascem pequenos. 1. ed. São Paulo: SM, 2006. 

Mindinho é uma criança-gigante que fica órfã de repente: seus pais são assassinados pelo gigante Zarrão, que foge depois de cometer o crime. Um casal de anões tem a difícil missão de contar ao pequeno gigante o que aconteceu. Nessa viagem fantástica a um mundo encantado, o leitor terá de fazer uso, com Mindinho, da perseverança e da imaginação para enfrentar os temores, as perdas e a injustiça.

 

 

 

 

COELHO, Marcelo. Minhas férias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2011. 

“Eu sempre achava que devia entrar em alguma aventura. Não é que eu fosse muito corajoso. Mas achava bacana imaginar alguma coisa como as que acontecem nos livros – garotos que se perdem numa ilha misteriosa, numa caverna, descobrem um tesouro, enfim, aquilo tudo que se sabe”. Entrava ano, saía ano, e lá vinha uma professora de português propondo aos alunos que contassem todas as coisas interessantes que tinham vivido durante as férias. Os alunos eram obrigados a escrever – mesmo que nada de interessante tivesse acontecido com eles. Pois o que o autor faz neste livro é, de certa forma, escrever várias redações sobre as férias. Suas “redações” são especiais pelo jeito de contar as coisas – e porque ele, como a maioria dos meninos e meninas, sabia descobrir pequenas aventuras em situações muito cotidianas, ali onde menos se poderia esperar.

 

COLLODI, Carlo. As aventuras de Pinóquio. São Paulo: Iluminuras, 2002. 

Versão integral do texto clássico do escritor italiano Carlo Collodi. Esta obra-prima da literatura infanto-juvenil, conhecida pelo leitor sempre através de adaptações, tem aqui a oportunidade de conhecer o texto original em toda a sua grandiosidade.

 

 

 

 

DUPRÉ, Maria José. A ilha perdida. 37. ed. São Paulo: Ática, 1998.

Eduardo e Henrique resolvem explorar a misteriosa ilha e descobrir se as histórias sobre o lugar são reais. E acabam por se envolver em uma aventura na qual aprendem o respeito e o amor à natureza.

 

 

 

 

 

FUNKE, Cornelia. Os caçadores de fantasmas: atrás de uma pista fria. São Paulo: Brinque-Book, 2011. 

Tom quer apenas uma coisa: fugir. Mas eis que Erva Cidreira, a experiente caçadora de fantasmas, oferece sua ajuda. Quando os dois começam a conhecer melhor o fantasma, Tom vai percebendo que ele não é tão temível assim. Juntos, os três formam uma equipe imbatível de caçadores de fantasmas e logo encaram sua primeira tarefa: perseguir pistas frias..

 

 

 

GOMES, Alexandre de Castro. Quem matou o saci?. São Paulo: Escarlate, 2017. 

A detetive Billy Conrado e o detetive Joaquim de Jeremias colhem pistas e não poupam esforços para solucionar o misterioso assassinato de um conhecidíssimo personagem do folclore brasileiro. Quem teria motivos para matar o Saci Perereira? Muitos personagens são suspeitos, mas quem seria o verdadeiro culpado? De forma bem-humorada e original, Alexandre de Castro Gomes cria uma história de detetive instigante ao mesmo tempo em que faz um surpreendente passeio pelo folclore brasileiro.

 

 

 

HARTNETT, Sonya. O burrinho prateado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. 

Em uma manhã luminosa de primavera, duas irmãs encontram na floresta um soldado cego. O soldado conta para elas histórias maravilhosas envolvendo sempre a pequena escultura prateada de um burrinho que ele carrega no bolso. Os dias vão passando, e as duas meninas se esforçam, em segredo, para ajudar o soldado a voltar para casa enquanto aprendem o que esse precioso objeto significa. ‘O Burrinho Prateado’ é um tributo à coragem, à lealdade e ao sacrifício. Os belos contos nele reunidos proporcionam uma visão serena, mas firme, tanto dos horrores da guerra quanto do poder da inocência.

 

 

KIPLING, Rudyard. Mogli, o menino lobo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016. 

Tendo como cenário a Índia Central, a história de Mogli, o menino criado por uma alcateia de lobos, é cheia de ação, aventura e amizade. Ao longo de sua jornada, para provar que merece ser respeitado pela Lei da Selva, ele encontra personagens memoráveis, como o perverso tigre Shere Khan, a sábia pantera-negra, Baguera, e o afável urso Balu.

 

 

 

SEPÚLVEDA, Luis. A história de Mix, Max e Mex. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2014. 

Mix e Max eram amigos inseparáveis, como só um garoto e um gato podem ser. Enquanto Max estava na escola, Mix protegia os cereais preferidos de seu dono; enquanto Mix passeava pelos telhados da vizinhança, Max enchia o pote de comida de seu parceiro – e assim, lado a lado, eles cresciam. Acontece que o tempo dos gatos é diferente do tempo das pessoas, e quando Max se tornou um jovem cheio de planos, Mix já estava velho e mal conseguia enxergar. Mas, sem poder se aventurar pelos terrenos vizinhos, ele não imaginava que conheceria um rato tagarela disposto a lhe mostrar com palavras tudo aquilo que seus olhos não viam mais – e muito menos que esse rato pudesse virar seu companheiro leal e fazê-lo sentir-se feliz mais uma vez. Esse era o Mex.

Livros infantis de autores indígenas

Por Paula Lisboa

O dia 19 de abril consta em nosso calendário como sendo o Dia do Índio, um dia para celebrar os povos originários do nosso país. Considerando que os indígenas lutam por sua permanência nessas terras desde a invasão dos europeus em 1500 até os dias atuais, esse não seria tanto um dia para comemorar ou festejar. É um dia sim para honrar, agradecer e também pedir perdão por tanta violência historicamente já cometida a esses povos, que de 3.000.000 de habitantes em 1500 chegaram a menos de 818 mil segundo o censo de 2010.

Como forma de honrar esses povos e sua cultura, trouxemos a indicação de alguns livros do nosso acervo infantojuvenil que foram escritos por autores indígenas. Temos mais livros que trazem contos da tradição indígena escritos por autores não indígenas, que também vale a pena conhecer. Mas hoje nosso objetivo é destacar não somente a cultura e os contos, como também os escritores e narradores indígenas.

Você conhece algum desses livros? Sugere outros que a gente não incluiu aqui? Vamos sempre trocar indicações e ampliar nosso repertório!

Nós: Uma antologia de literatura indígena - 9788574068640 - Livros na Amazon BrasilNós: uma antologia de literatura indígena / organização e ilustrações Maurício Negro. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

Tratando dos mais diversos temas ― dos mitos de origem às histórias de amor impossível ―, as narrativas conduzem o leitor por situações e desenlaces muito próprios, sempre acompanhadas por um glossário e um texto informativo sobre o povo indígena de origem de cada autor. Traz histórias contadas ou recontadas por escritores das nações indígenas Mebengôkre Kayapó, Saterê-Mawé, Maraguá, Pirá-Tapuya Waíkhana, Balatiponé Umutina, Desana, Guarani Mbyá, Krenak e Kurâ Bakairi. Esta é uma chance preciosa para todos aqueles que desejam entrar em contato com as raízes mais profundas de nossa cultura, ainda pouco valorizadas e respeitadas, por puro desconhecimento.

Contos indígenas brasileiros | Amazon.com.brMUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros / il. Rogério Borges. São Paulo: Global, 2004.

Os oitos contos selecionados pelo autor, a partir de um critério linguístico, têm a intenção de retratar, através de seus mitos – o roubo do fogo, a origem do fumo, depois do dilúvio, entre outros -, a caminhada de alguns de nossos povos indígenas do norte ao sul do país – Guarani, Karajá, Munduruku, Tukano, entre outros. A leitura dessas histórias dá às crianças uma rica visão de nossa herança cultural.

 

 

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

Tiago Hakiy mora no coração da floresta amazônica. Descendente do povo sateré mawé, neste livro ele apresenta a cultura indígena em forma de poesia. A fauna e a flora da região amazônica, os costumes do povo e sua interação com a natureza são retratados em poemas que revelam a beleza e a riqueza da vida na floresta.  

 

Ajuda do Saci - Kamba´i » Editora DCLJEKUPÉ, Olívio. Ajuda do saci: kamba’i. São Paulo: DCL, 2006.

Em edição bilíngue – português e guarani –, Olívio Jekupé conta a história de Vera, um kunumi (indiozinho) que sonhava em ir para a escola dos não-índios.

Queria aprender tudo que eles sabiam para poder defender o seu povo. 

 

 

 

Livro: Verá, o contador de histórias | blog da mamãe sustentávelJEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003. (Memórias ancestrais Povo Guarani).

Todos pensam que só os índios mais velhos têm boas histórias para contar. Mas agora você conhecerá Verá Mirim, um curumim guarani que conta histórias fantásticas e emocionantes, e que diverte a todos com sua criatividade e inteligência.

 

 

 

Arandu Ymanguaré | Amazon.com.brJEKUPÉ, Olívio. Arandu ymanguaré: sabedoria antiga. São Paulo: Evoluir, 2003.

Para que saibam valorizar e defender os povos indígenas é preciso que desde cedo nossas crianças conheçam a força, a beleza e riquezas daquelas culturas. E é isso que o índio Guarani Olivio Jakupé, da aldeia Kurukutu nos mostra neste livro, por meio de três lindas histórias, do dicionário tupi guarani e da entrevista em que responde às perguntas de como é o estilo de vida na aldeia.

O Pássaro Encantado | Amazon.com.br

POTIGUARA, Eliane. O pássaro encantado. São Paulo: Jujuba, 2014. 

Os avós são figuras muito importante para os povos indígenas. Trazem os costumes, as memórias e os ensinamentos para a vida. Neste livro, Eliane Potiguara nos conta sobre a relação com esta figura poderosa e mágica, a avó, que traz as histórias vivas dentro de si. Aline Abreu, com suas ilustrações, nos carrega para esse tempo de magia. 

A Terra Partida

por Lucas Meirelles

 

Retomando as leituras da quarentena – do final do ano passado para esse – me programei a ler uma trilogia. Há muito tempo indicado por amigos e podcasts comecei a ler os três livros da série A Terra Partida, da escritora N. K. Jemisin. Ela é negra, norte-americana e já tem uma grande produção de ficção científica e fantasia. Essa série especificamente – mas conta-se que faz parte da literatura dela – aborda temas como violência, justiça social, racismo e relações humanas (o que é que pode ser identificado como “humano” dentro da ficção científica?). E além disso, traz protagonismo feminino para as personagens principais.

Barcelona 06 06 2017. A ganhadora do prêmio Hugo de ficção científica 2016, a escritora N. K. Jemisin posa na livraria Gigamesh. Fotografia de Jordi Cotrina.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os livros da série são na ordem: A Quinta Estação, O Portão do Obelisco e O Céu de Pedra.

Foram publicados originalmente entre 2015 e 2017 e foram vencedores do Prêmio Hugo de Melhor Romance, nos anos de 2016 a 2018. Sou geralmente muito cético quanto a ler críticas, saber de um júri que escolhe uma obra para alguma premiação, mas dessa vez tive que dar o braço a torcer e reconhecer o merecimento de tanta aclamação. É realmente uma ótima série e vale cada minuto lido.

A história se baseia num planeta com um continente chamado Quietude e, de tempos em tempos, o mundo é destruído por falhas sísmicas, explosões de gases letais, para dar início a um novo mundo renascido das cinzas. Cada renascimento é conhecido como uma nova Estação. As pessoas que moram nesse continente são divididas em sete castas que não permitem mobilidade social. Cor de pele, gênero e sexualidade têm peso dentro de cada casta também, com medidas diferentes. As protagonistas desde o começo do primeiro livro são orogenes (palavra criada pela autora para designar pessoas que tem o poder de sentir e criar/destruir a partir dos movimentos da terra) que sofrem por terem o poder da orogenia. Há também um jogo de palavras com o diminutivo – e pejorativo – de orogene que é “rogga”, inspirado na palavra do inglês “nigga”. Então elas sofrem com o poder, com o nome e usam isso para transformar relações e o mundo a sua volta.

A saga das personagens é de sobrevivência contra as forças da natureza nesse fim do mundo, e tudo o que leva a esse término. É confuso no começo para se ambientar com as personagens, o enredo, os nomes, mas bastante cativante durante esse processo fazendo os três volumes serem rapidamente lidos.

 

A quinta estação/ O Portão do Obelisco/ O Céu de Pedra
Série: A Terra Partida
Autora: N. K. Jemisin
Tradutora: Aline Storto Pereira
Editora: Morro Branco
Ano de publicação: 2017/ 2018/ 2019

 

O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos

por Lucas Meirelles

 

Final do ano chegando: festas, encontros e celebrações. Um fim de um ano muito estranho e diferente. E que com bastante cuidado e afeto pode ser celebrado e resoluções de ano-novo são muito bem vindas.

Pensamos, em uma de nossas reuniões, em muitas histórias de Natal, de fim de ano, e decidimos, numa espécie de celebração, pela história do Quebra-Nozes para ser feita a leitura e presentear nossas leitoras e nossos leitores.

“O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos” é um romance natalino de E.T.A. (Ernest Theodor Amadeus) Hoffmann, publicado em 1816. É uma fantasia muito conhecida dentro do imaginário ocidental, sendo adaptado para outras obras literárias, para o balé, cinema, teatro, música, etc. Muitas transformações de um grande romance.

Adotamos essa versão da editora Zahar (que conta também com a versão de Alexandre Dumas, que inspirou o balé “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky). Resolvemos, então, cada membro da equipe revezar a leitura dos capítulos. Vocês podem acompanhar os vídeos nessa playlist aqui.

 

Boas festas, um ótimo ano novo e até breve!

Os três mosqueteiros

Imagem do filme “Os três mosqueteiros”, de 1948, dirigido por George Sidney.

“Um por todos, todos por um!”

 

O lema acima citado faz parte do imaginário criado pela obra de Alexandre Dumas, Os três mosqueteiros. É um romance de capa e espada publicado em 1844 e fez parte da segunda leitura do ano do VilaLê (clube de leitura da Escola da Vila), da unidade Butantã. Durante quase 800 páginas, vivemos as aventuras e amores de D’Artagnan, Porthos, Athos e Aramis e seus lacaios, com histórias ficcionalizadas do Cardeal de Richelieu e do rei francês Luís XIII, do cerco de La Rochelle e outras personalidades da nobreza francesa e inglesa da época.

 

 

Teremos no nosso último encontro desse ano, no dia 30 de novembro, a participação de um dos tradutores do livro, o escritor Rodrigo Lacerda. Perguntas como “Por que são quatro mosqueteiros e no título são só três?”, “Quem governava a França? O cardeal ou o rei?” poderão ser respondidas nesse dia. Faremos um debate virtual sobre o livro, cada um com sua pipoca!

Ursula K. Le Guin

por Lucas Meirelles

 

Olás!

Antes de apresentar essa escritora e criar um perfil biobibliográfico, vou contar que ela – e seus livros – têm me acompanhado durante esse período de quarentena. Já li dois e estou no terceiro livro que falarei mais para frente sobre.
Então vamos à autora e sua obra!

Ursula Kroeber Le Guin, escritora estadunidense, nasceu em 1929 e faleceu em 2018. Filha de dois grandes antropólogos, Alfred L. Kroeber e Theodora Kracow-Kroeber, escreveu romances, contos, novelas, poesias e literatura infantojuvenil, além de ensaios e traduções. Durante sua vida recebeu diversas premiações literárias e algumas de suas produções foram adaptadas para o cinema e a TV. A crítica que ela recebia sobre sua literatura foi de encontro à educação e questionamentos que lhe foram dados desde o começo de sua infância.

Ela é muito conhecida por ser uma autora de ficção científica. Então em muitos de seus escritos temos distopias e utopias, mundos extraterrestres, vida artificial e os impactos de tecnologias e avanços científicos nas sociedades. Além dessa característica, outros temas e influências são notados e merecem vir à tona. Ela se declarava taoísta e anarquista, trazia em seus horizontes o feminismo, o pacifismo e diversos elementos da antropologia e outras ciências sociais.

O primeiro livro que li dela é o “A mão esquerda da escuridão“, que traz o protagonista Genly Ai, um terráqueo que vai ao planeta Gethen e tem a missão de convencer o povo desse planeta a participar do Ekumen, uma confederação informal dos planetas. A característica marcante desse planeta, e que deixa Genly Ai com muita dificuldade, é o fato das pessoas serem ambissexuais, ou seja, ninguém tem um sexo biológico fixo. Vê-se, então, como o sexo e o gênero influenciam nessa sociedade e como pode se dar o Ekumen.

Depois li “Os despossuídos“, que traz uma utopia anarquista. São dois planetas próximos, Urras e Anarres, que têm sistemas políticos bem distintos: um é capitalista, outro anarquista. Dentro desse pano de fundo, um cientista de Anarres viaja para Urras para fazer um intercâmbio tecnológico e, por conta dessa grande diferença entre os planetas, alguns acontecimentos dão certo, outros nem tanto.

E agora estou terminando “A curva do sonho“, que é a história de George Orr, um homem que, depois de sonhar, altera e transforma a realidade. Ele então começa a ter medo de dormir e sonhar. Em consultas com um psiquiatra e com algumas máquinas eles tentam entender esse fenômeno e, ao mesmo tempo, vão “consertando” com os sonhos a realidade do que está errado no mundo.

Muito mais informações sobre ela e seus livros (além de fotos e ilustrações dos mapas de alguns títulos!!) estão no site oficial dela: https://www.ursulakleguin.com/ (em inglês apenas)

Por enquanto ainda não temos nenhum livro dela de literatura adulta, mas temos em nossas bibliotecas um título infantojuvenil que é o:

LE GUIN, Ursula K. Gatos alados. São Paulo: Ática, 1996. 45, [1] p. ISBN 8508062087.

A Conferência dos Pássaros: um conto clássico recontado em forma de Arte

Por Paula Lisboa

Existem livros que são verdadeiras obras de arte, tamanho o cuidado estético em sua criação. Sem dúvida é o caso desse A Conferência dos Pássaros, criado pelo grande autor e ilustrador Peter Sís, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, um dos maiores prêmios da Literatura Infantil.

A história em si não é de sua autoria, trata-se de um conto da tradição oral sufi, atribuída ao poeta persa Farid Ud-di Attar e datada do século XII. Peter Sís inclui o poeta Attar no início do livro, quando conta que um dia ele acordou de um sonho inquietante e se viu transformado em uma poupa, uma ave que tem como característica marcante uma crista na cabeça. Essa poupa convoca todos os pássaros para uma conferência, e assim tem início a tradicional narrativa oriental. A reunião tem por objetivo convidar a todos para partirem juntos em busca de um rei que vive numa montanha distante, e que poderia ter as respostas para os problemas que eles enfrentam, como a ganância, a vaidade, a disputa e a destruição.

Todos partem em viagem, voando por um caminho cheios de dúvidas, ressentimentos e medo de mudanças, em uma verdadeira jornada rumo à transformação pessoal. Se por um lado sentem medo e dúvida, por outro são impulsionados pela poupa, que os incentiva a percorrer todos os cantos do mundo com a esperança de atingir seu propósito. Passam, assim, por sete vales: da procura, do amor, da compreensão, do desapego, da unidade, do deslumbramento e da morte. São tantos desafios enfrentados que muitos pássaros desistem no caminho e não continuam a jornada.

E assim vamos seguindo por profundos mergulhos em nossa existência.

Essa história já foi narrada muitas vezes, mas nessa edição ela tem um tratamento especial pelas ilustrações de Peter Sís, que pesquisou sobre a cultura oriental persa e também sobre a anatomia dos pássaros. O resultado são ilustrações impressionantes, que ampliam ainda mais a grandiosidade dessa história tão antiga quanto atual, e que ao final nos revela que a resposta está muito mais próxima do que imaginamos.

É bem verdade que não há nada como ter o livro nas mãos para apreciar essa bela obra de arte, mas se quiser você também pode acompanhar a leitura assistindo os vídeos abaixo.





SÍS, Peter. A conferência dos pássaros. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013.