Sandman: noites sem fim

Por Angela Müller de Toledo
Sandman, ou homem-areia, é um personagem originalmente criado por Hans Christian Andersen para a narrativa que no Brasil foi intitulada “O Velho-do-Sono”.

No conto de Andersen, o velho-do-sono sopra areia nos olhos das crianças para fazê-las dormir, é uma espécie de contador de histórias que beneficia as crianças boas com sonhos bons e castiga as más fazendo-as ter um sono pesado e sem sonhos.

O quadrinista inglês Neil Gaiman partiu dessa figura, expandiu a ideia e criou roteiros de histórias em quadrinhos que misturam fantasia, terror e mistério em enredos intrincados e cheios de referências literárias e filosóficas.

Sandman, também chamado de Sonho, ou pelo seu nome grego Morpheus, pertence à família dos Perpétuos e tem seis irmãos: Destino, o mais velho de todos; Morte a personagem mais querida da maioria dos leitores da série; Desejo, uma figura andrógena que Sandman chama de “irmão-irmã”; Desespero; Destruição; e Deleite, a caçula da família, que mais tarde se transformará e será renomeada como Delirium. Cada um desses personagens representa uma condição humana e protagoniza histórias ligadas a esses grandes temas.

Noites sem fim traz sete contos desenhados por sete artistas diferentes, um para cada irmão dos Perpétuos, e é difícil dizer qual é o melhor. Talvez a história preferida seja a primeira, que traz a bela e gótica Morte desenhada por Craig Russell. Ou pode ser que a arte de Miguelanxo Prado, no belíssimo “O coração de uma estrela”, atraia mais a atenção do leitor. No entanto, a história mais impressionante pela beleza plástica e pungência é, sem dúvida, “Quinze retratos de Desespero”, com ilustrações de Barron Storey e design do conhecido Dave McKean. Há uma história inteira em cada quadro e todos os detalhes têm seu valor para a compreensão do todo. São imagens eloquentes que sintetizam com maestria este difícil tema.

Na introdução assinada pelo autor há uma explicação a respeito dos personagens que é bastante esclarecedora: “se este é o seu primeiro encontro com Sandman, é interessante entender que os Perpétuos não são deuses, pois quando as pessoas param de acreditar nos deuses eles deixam de existir. Mas enquanto houver pessoas para viver, sonhar, destruir, desejar, se desesperar, se deleitar ou enlouquecer, viver suas vidas e gostar umas das outras, então existirão os Perpétuos executando suas funções. Eles não se importam nem um pouco se você crê ou não neles.”

Imperdível para aqueles que já gostam do gênero e uma boa oportunidade para os que desejam conhecer uma obra-prima das histórias em quadrinhos.

GAIMAN, Neil. Sandman: noites sem fim. Ilust. Glenn Fabry et al. Trad. Sérgio Codespoti. São Paulo: Conrad, 2003.