por Dora de Carvalho Frankenberg
6ºA – Unid. Butantã
Livro: Entre cabras e ovelhas
Editora: Morro Branco
Autor: Joanna Cannon
472 páginas
“Entre cabras e ovelhas”, de Joanna Cannon, é um livro complicado que apresenta muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. A história se baseia em uma pequena vila na Inglaterra, onde Sra. Creasy repentinamente desaparece, sem dar nem um aviso. Com isso vem a lembrança do bebê que foi roubado há 10 anos, e todos os vizinhos, que borbulham em fofocas, por algum motivo decidem colocar a culpa de todos os acontecimentos em um único senhor, Walter Bishop. O tal passa a ser excluído por todos os outros, e é julgado em qualquer pequena situação.
O livro apresenta dois pontos de vista. O do narrador onisciente, e a narrativa delicada da pequena Grace, de 10 anos, que tem enorme necessidade em contar todos os mínimos detalhes. “Era sexta-feira de manhã. Tilly e eu estávamos sentadas na sala da frente com o catálogo de roupas da Kays e uma garrafa de refrigerante. As cortinas estavam fechadas para manter o calor lá fora, mas ainda assim ele dava um jeito de entrar, e cada vez que eu virava uma página, o papel brilhante colava em meus dedos e não queria se soltar“. Grace e sua melhor amiga, Tilly decidem que é dever delas arrumar a vila, e com a indicação de um padre, passam de casa em casa procurando por deus.
O livro nos mostra de maneira marcante e profunda como estamos acostumados a definir alguém por algo que deduzimos. Todos pensam que sabem às ideias que o Sr. Bishop tem sobre o mundo, apenas pelo modo como ele age, fotografando tudo e todos, e seu modo quieto de ser. O menosprezo é fortemente apresentado no livro por todos, que estão acostumados em julgar sem saber. Apenas julgar. “Era sexta-feira de manhã. Tilly e eu estávamos sentadas na sala da frente com o catálogo na sala da frente com o catálogo de roupas da Kays e uma garrafa de refrigerante. As cortinas estavam fechadas para manter o calor lá fora “. A vida de Walter Bishop por trás do que todos sabem é diferente e serena, e Grace e Tilly parecem ser as únicas a se importarem em entender seu outro lado, aquele que todos preferem esquecer, ou até descartarem a possibilidade desse lado existir. É interessante ver que as únicas que se importam com o homem são duas crianças. Ver que tão pequenas pessoas sentem a necessidade de entender mais sobre isso mostra que nós nos construímos, formamos nossa opinião. Se Grace e Tilly seguissem a ideologia da vila, elas nunca ousariam a trocar palavras com o estranho Walter Bishop.
Todos guardam segredos, e a única pessoa que sabe de tudo é Margaret Creasy. “Margaret era a única que sabia de tudo. Agora nossos segredos estão soltos, sem rumo. Ninguém sabe o que esperar. Se Margaret estiver morta, nossos segredos morreram com ela “. Margaret era a única que conversava com Walter. Era a única pessoa que o entendia. Com seu sumiço, ele é ainda mais . É bonito e ao mesmo tempo triste ver como ele pensa sobre como o julgam. “Acho que você pode suportar qualquer coisa se às experimentar por tempo o suficiente(…)”
“-Às pessoas acreditam em coisas mesmo sem saber se são verdadeiras – Eu disse.
– Porque, todo mundo acredita na mesma coisa, isso faz com que se identifiquem. É como se pertencessem ao mesmo grupo. – Disse Walter.
– Como um rebanho de ovelhas – Disse Tilly
John Creasy, o marido, também desamparado com o desaparecimento de sua amada esposa, passa a se excluir de tudo e todos, que começam a estranhá-lo, como se não entendessem a sua dor. Comentários como “Ela está morta, certeza” ou “Se fosse para voltar ela já teria voltado” o deixam para baixo, e ninguém parece se importar.
É uma linda narrativa para quem está se descobrindo, ou quer alterar sua visão sobre o mundo e refletir sobre suas ações.