Por Angela Müller de Toledo
Outra pedida para as férias é ler ou reler um clássico. O que recomendo é Kim um romance de aventuras de 1901.
Nele Kipling nos conta a história de um garoto chamado Kimball O’Hara que vive nas ruas da cidade de Lahore na Índia. Kim é órfão de um militar do regimento irlandês e por isso é considerado europeu, embora tenha a pele morena como a dos nativos. Muito esperto, é conhecido como o “amigo de todo o mundo”. Um dia, encontra um velho Lama tibetano que saiu do monastério em busca de um rio sagrado que, acredita, o libertará da Roda da Vida, ou seja, das sucessivas reencarnações. Kim mendiga para alimentar o velho, consegue um local para que ele descanse e aceita acompanhá-lo em peregrinação pelo interior do país.
Quando um negociante de cavalos contrata o menino para levar um bilhete a um determinado militar inglês na cidade de Umballa, começa a viagem que mudará a vida de Kim pois, a partir daí, ele será preparado para tornar-se um agente do serviço secreto britânico.
Kim é considerado um romance exemplar do imperialismo, o que melhor retrata o ápice do domínio colonial inglês na Índia. Em vários momentos a idéia de superioridade racial aparece, em geral na caracterização dos personagens nativos como mentirosos, fingidos ou através da depreciação de algumas de suas crenças. É um retrato da arrogância do homem ocidental. Mas é também uma leitura apaixonante. Kipling, nascido em Bombaim, sabia do interesse dos ocidentais por países desconhecidos e retratados como exóticos. Explorou como ninguém os cenários e a cultura da Índia nesta história. É preciso, no entanto, contextualizá-la dentro da época em que foi escrita.
Não é uma obra de fácil leitura, pois há uma quantidade enorme de palavras estrangeiras, muitos nomes próprios e referências à religião e filosofia que, para o leitor inexperiente, pode ser um entrave. Mas, por outro lado, quem enfrentar suas 248 páginas viverá uma experiência que não se daria de outra maneira a não ser pela literatura.
A edição recomendada tem o mérito de ter sido traduzida por Monteiro Lobato e não possui ilustrações.
KIPLING, Rudyard. Kim. Trad. Monteiro Lobato. São Paulo: Cia Editora Nacional, 2002.