por Mariana Sequeira Rocha
6ºA – Unid. Butantã
Título: Fallen
Autora: Lauren Kate
Editora: Galera Record
406 páginas
Uma cidadezinha normal, igual a maioria das outras, onde na maioria dos dias o Sol brilha constante no céu, onde tudo era legal, onde tudo parecia perfeito, tão perfeito que até se tornava um tanto assustador, é o cenário onde o livro “Fallen”, de Lauren Kate, se passa. Ali era onde vivia a protagonista dessa história, Lucinda, uma menina de 16 anos que sempre viu sombras a sua volta, vultos pretos, e sombrios, rodeando seus momentos felizes, escuros e amedrontadores, trazendo apenas o medo e a escuridão para sua vida.
Antes ela as via perto de lagos, rios, ou lagoas escuras, onde o Sol não se expunha. Ou de florestas, estranhas e com uma neblina densa, que deixava as pálpebras de Luce pesadas, na maioria das vezes, como se pudessem se fechar a qualquer momento, deixando que no momento em que elas se fecharem o corpo caísse junto ao chão, fazendo com que ela acordasse com o impacto. E onde, em uma noite com o céu totalmente escuro, onde não havia nenhuma estrela sequer, foi nesta noite que aconteceu, aconteceu o inesperado, aconteceu algo que mudaria completamente sua vida.
Em uma floresta escura, com um lago perto dela, um pouco afastado da cidade, foi onde houve um incêndio. Esse cenário invadia a cabeça da garota diversas vezes depois do incidente, e não tinha nada que ela pudesse fazer para tirá-la de lá. E isso trouxe mais sombras para perto dela, as lembranças frequentes de um lugar e de uma noite, que a aterrorizava a qualquer momento. E depois daquilo tinham mais vultos lhe seguindo e lhe assustando. Se espremendo por baixo de portas, percorrendo quilômetros em segundos, tomando conta do tempo, e das lembranças de Luce. Depois de um tempo, depois do que aconteceu perto de uma floresta, a menina começou a vê-las em qualquer lugar e a qualquer momento.
As sombras representam o medo, que aparece em todo o momento, e de repente, invadindo lugares, quebrando barreiras, porém todos falam que isso é coisa de sua cabeça. Ninguém mais vê, apenas você, o que faz tudo ficar mais assustador. Isso também acontece com as sombras de Luce. Isso acontece com ela. Luce sente medo daqueles misteriosos vultos a sua volta, perto dela, mais precisamente, ela sente medo do medo. Medo de sentir medo.
Elas aparecem em qualquer momento, e cada vez conseguem fazer mais coisas com a garota. No começo nunca haviam encostado nela, apenas aparecido de vez em quando, aqui e ali, sem nem chegar perto da garota, mas depois de um tempo começaram a puxá-la, empurrá-la, jogá-la contra paredes, arremessá-la no chão, e até afastá-la daqueles que ama.
As sombras ocupam discretamente todos os momentos felizes de Luce, nos sonhos, nas lembranças, nos sentimentos, e em tudo que ela acredita e que a faz feliz, se escondendo em cada página da história da menina, aterrorizando até os momentos mais bonitos. E quando as sombras finalmente tem forças o suficiente, tomam conta dessa felicidade, aos poucos, tirando dolorosamente tudo o que ela ama de perto dela. Afastando tudo aquilo que pode fazê-la parar de temê-las. Fazendo com que ela fique longe daqueles que podiam protegê-la.
Um dia, assim que entra no internato Sword & Cross, Luce conhece um menino chamado Daniel. Assim que olhou para ele, as sombras tomam conta do lugar. As sombras estavam se movendo por todo lugar, tapando a visão de Luce, do menino, elas estão como se implorando para que ela não prestasse atenção nele. Como se implorando para não cometer o mesmo erro de sempre.
Mas que sempre? Nunca havia visto aquele menino na vida, apesar de sentir que já lhe conhecia, de algum lugar desse longo mundo. Nunca havia falado com ele, apesar de sentir sua voz vibrando dentro de seu peito, apesar de ouvir isso em sua mente. Ela nunca havia visto ele correndo, apesar de saber que ele era bem rápido. Ela nunca havia o abraçado, apesar sentia que quando fizesse isso ela se sentiria voando pelos ares. E no momento em que ela o viu, ela soube que a amava , mas que não podia amá-lo. E isso a assustou. Sentia que ele lhe escondia alguma coisa, mesmo não o conhecendo. Ela sentia que ele sabia de algo que ela não sabia, ou que, pelo menos não deveria saber. Não podia saber, como se aquilo pudesse prejudicá-la. Como se o conhecimento pudesse ferir alguém. Pode. Sempre pode. E sempre poderá. Principalmente com Lucinda.
“Todos acreditam em alguma coisa.”. E ela acreditava, sim, acreditava, e como acreditava. Acredita que algum dia ela conseguiria afastar aquelas sombras de perto dela. Acreditava que valia a pena lutar pela única coisa que não era traiçoeira, pela única coisa que trazia paz a ela, pela única coisa que as sombras não podiam tirar de perto dela. O amor.
As sombras representam um pouco o medo do que é real, o medo em si, o medo de estar ali naquele momento, e não ser salva, e morrer dentro daquela escuridão. Morrer por aquilo que todos acham que é irreal, morrer por aquilo em que você nunca deveria ter acreditado.
Todos temos medos, coisas que nos assustam, e todos sabemos o que é se sentir sufocado por algo irreal. Se sentir preso por um nada, por algo que não deveria conseguir te manipular, mas quanto mais forte o seu medo é mais ou menos, mais ele consegue mandar em você. Nós temos medo de sofrer por algo que obviamente não existe, ou que pelo menos não deveria existir. Todos nós sabemos o que é saber que algo não vai te fazer mal, que nem as sombras da Luce no começo, que apenas apareciam e não lhe faziam nada. Mas mesmo assim temos medo, e tentamos evitar tudo que faz com que aquele sentimento pare.
“Era difícil de explicar, mas subitamente se deu conta de que, assim como ela, todo mundo tinha um passado. Todos provavelmente escondiam coisas que não queriam dividir. Mas ela não conseguiu concluir se isso a fazia se sentir mais ou menos isolada.” Todos à volta de Luce tinham histórias tão aterrorizantes quanto a de Luce, às vezes até mais, mas que haviam às vencido, e que todos tinham vencido o medo que aqueles lembranças traziam para perto dela. Agora era a vez de Luce, e isso a assustava, como quase qualquer coisa que lhe lembrasse das perseguições que aqueles vultos faziam.
A Lauren Kate apresenta muito bem o medo nas páginas desse livro, e, nas mesmas páginas, Luce vive e conta sua historia, novamente e repetitivamente, depois de 17 anos, que sempre foi a mesma, sempre, apesar de alguns detalhes, que mudam a cada certo tempo. E a cada 17 anos, ela volta. Para reviver tudo aquilo, mais uma vez, na esperança de dessa vez conseguir. Na esperança de dessa vez poder descobrir mais coisas sobre si mesma, e não morrer apenas de ouvir certas palavras. Na esperança de dessa vez poder amá-lo.