De volta a Istambul

Por Marilena Penha Reyes (Lena)

As questões de identidade, de origem e dos reflexos do passado na vida presente estão narrados de forma surpreendente neste romance. Os segredos que interligam duas famílias determinam os caminhos e as decisões de seus descendentes diante de questões que todos nós nos colocamos:

Quem sou? De onde vim? A que cultura pertenço?

Com uma narrativa envolvente e clara entrecortada de toques bem-humorados a autora nos revela detalhes da cultura do oriente (turca e armênia) no passado e no presente da jovem Armanoush, que, vivendo ao lado de uma cultura ocidental (norte americana), decide buscar no passado as referências para recomeçar sua vida. Em Istambul, se depara com outra jovem da sua idade nascida e criada por lá sem nunca ter ido para a América: Asya Kazanci.

A diferença cultural envolve as duas numa grande amizade, mas o segredo abafado pelas famílias determinará o afastamento das duas jovens.

A autora é nascida na França e passou grande parte da sua juventude na Espanha. Formou-se em Ciências Políticas na Turquia e atualmente divide seu tempo entre Istambul e a Universidade do Arizona onde é professora assistente de Estudos sobre o Oriente Próximo.

SHAFAK, Elif. De volta a Istambul. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

O dia do curinga

Por Washington Nunes Silva Júnior

História de um pai e um filho que viajam juntos até a Grécia à procura da mãe que saiu de casa há 8 anos. Nessa viagem acontecem coisas surpreendentes: o menino ganha de um anão (que mais parece um duende) um livro que é do tamanho da palma da mão, e só pode lê-lo com a ajuda de uma lupa. Este livro tem muito a ver com a própria viagem e com a vida do menino. Um final fantástico em uma história que agrada crianças e adultos.

 

GAARDER, Jostein. O dia do curinga. Trad. João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

A cidade inteira dorme e outros contos breves

Por Angela Müller de Toledo
Indicar um livro de Ray Bradbury, principalmente uma coletânea de contos já publicados em outras obras, pode parecer redundância. Milhares de pessoas em todo o mundo são apaixonadas por suas histórias fantásticas, bizarras e na maioria das vezes ternas e com um profundo sentido humanista. Sim, porque mesmo quando ele fala de um marciano, é da natureza humana que se trata. Em textos profundamente metafóricos, penetrando no íntimo de seus personagens, o que está por trás das paisagens descritas minuciosamente e das relações pessoais mais corriqueiras é a crítica ao mundo contemporâneo.

No prefácio deste livro, Carlos Vogt ressalta o caráter melancólico da escrita de Bradbury, a melancolia como valor estético, aquele sentimento de incompletude e saudade de algo não muito bem definido.

Difícil dizer qual o conto preferido, O Homem Ilustrado, que fez parte da minha juventude na forma de um livro com vários outros contos ligados pela mesma ideia: um corpo completamente tatuado, que carrega as imagens de um futuro nada agradável. As prosaicas velhinhas de Uma pequena viagem, que usam suas economias para embarcar em um foguete para encontrar Deus? Ou a belíssima relação de afeto e cumplicidade que se estabelece entre um velho e um menino entediado em A autêntica múmia egípcia feita em casa?

Há muito tempo andava afastada dos relatos poéticos de Badbury, de sua ironia fina, do medo profundo que os enredos às vezes causam, das ideias brilhantes que nos fazem pensar “de onde ele tirou isso?” e de sua temática futurista que sempre me atraiu. No entanto, ao revisitá-lo nesta coletânea, tudo o que descrevi acima voltou envolvido por intensa emoção. Pretendo assim justificar mais uma resenha enaltecendo quem já foi elogiado por Borges e mereceu versos de Mário Quintana cujo trecho transcrevo a seguir: “Ray Bradbury é a nossa segunda vovozinha velha que nos vai desfiando suas histórias à beira do abismo – e nos enche de susto, esperança e amor.”

BRADBURY, Ray. A cidade inteira dorme e outros contos breves. Trad. Deisa Chamahum Chaves. São Paulo: Globo, 2008.

Marcelino Pedregulho

Por Angela Müller de Toledo
Para você que gosta de desenhar ou aprecia as ilustrações dos livros e quadrinhos, para você que gosta de histórias singelas, com personagens parecidos com aquele seu amigo ou vizinho, para você que sabe que alguns autores expressam o que todos nós sentimos de uma forma que só os verdadeiros artistas conseguem (de um jeito simples e ao mesmo tempo contundente), eu recomendo este livro.

Sempé é conhecido no Brasil principalmente pela série de histórias do Pequeno Nicolau, em que fez parceria com René Goscinny (de Asterix) e que foram lidas por muita gente que hoje tem mais de 25. Marcelino Pedregulho também é um personagem antigo do autor, mas que não tinha tradução aqui. É a história de um menino que enrubesce com extrema facilidade mas isto não lhe causa grandes transtornos, apenas o incomoda e acaba isolando o garoto da maioria dos colegas. Um dia Marcelino conhece Renê Rocha e uma grande amizade se estabelece. Renê Rocha espirra o tempo todo.

Não se preocupe, não vou contar tudo, embora o leitor experiente já possa antecipar o que vai acontecer. No entanto, por mais que você adivinhe, a leitura não perde a graça. Nesta obra, como em outras de Sempé, o traço limpo é inconfundível, o uso pontual que ele faz das cores sempre destaca uma cena ou uma ideia de forma primorosa, e o humor fino, expresso principalmente nas figuras humanas, é um prazer à parte.

Mais duas coisas: Qualquer semelhança com certa propaganda de chocolate não é coincidência mas, sim, um uso bem grosseiro da ideia que Sempé trabalhou com tanta sutileza. Este livro poderia ser recomendado para todas as outras categorias de leitores, desde os da Educação Infantil, que “lêem as figuras” e ouvem as histórias contadas por adultos, até pessoas mais velhas, com décadas de leitura. Escolhi recomendá-lo aos leitores experientes da Escola da Vila para tentar minimizar certo preconceito que alguns jovens alimentam sobre os livros para crianças. Muitas vezes eles não são tão infantis assim.
Confira.

SEMPÉ, Jean-Jacques. Marcelino Pedregulho. Trad. Mário Sérgio Conti. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

O vento nos salgueiros

Por Angela Müller de Toledo

Às margens de um rio e perto de uma floresta vivem quatro amigos: o rato d’água, o toupeira, o texugo e o sapo.

A vida boa e pacata, com comida farta, sonecas sob o sol de verão, histórias contadas ao pé do fogo e conversas agradáveis só é interrompida quando o excêntrico sapo apronta uma das suas. O sapo é o único milionário do grupo, mora numa mansão, é vaidoso, aventureiro e bastante irresponsável. Para colocá-lo “na linha” só chamando o temível texugo, animal sábio e muito respeitado na mata. Mas será que o sapo vai obedecê-lo?

Você, leitor desta resenha, não faz ideia das enrascadas que o sapo se mete e o quanto seus amigos se preocupam com ele. Aliás, o afeto que une animais tão diferentes é uma das coisas bonitas deste livro. O forte sentimento inclui o apoio nos momentos difíceis, o companheirismo, a cumplicidade e também as broncas quando necessárias.

O texto tem algumas palavras difíceis, mas alunos da Vila já sabem que isso não prejudica a leitura. O que devemos fazer é continuar lendo, porque o sentido se apresenta mais adiante, pelo contexto da história, e se a dificuldade persistir é só dar uma olhada no dicionário.

Tenho certeza que você vai se apaixonar por esta turminha.

GRAHAME, Kenneth. O vento nos salgueiros. Ilust. Carlos Brito. Trad. Ivan Angelo. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 2007.

Raj

Por Fernanda de Lima Passamai Perez

Durante a transição da Índia monárquica, também conhecida como Raj,  para uma democracia parlamentar livre da ocupação Britânica, acompanhamos a saga da princesa Jaya Singh.  Jovem educada conforme os costumes da  purdah, Jaya  é entregue como esposa a um dos herdeiros da linhagem Sirpur, uma das mais antigas e tradicionais da Índia.  De caráter firme, porém sereno, nossa heroína subverte valores milenares, supera diversas perdas e humilhações, conduzindo seu reino à modernidade e à democracia.

A leitura é difícil, inicialmente, por conta dos termos específicos daquele país – faltam notas. Contudo, à medida que nos apropriamos dos muitos simbolismos e vocabulário, a leitura torna-se prazerosa e fica fácil vencer as 502 páginas deste emocionante romance histórico.

Escrito por uma mulher indiana, Gita Mehta, cuja família  é conhecida pelo engajamento na luta pela liberdade, Raj descreve mais de 60 anos da história moderna da Índia, trazendo fatos importantes deste país tão encantador quanto misterioso. Pelo menos para nós, ocidentais.

MEHTA, Gita. Raj. São Paulo: Cia das Letras, 2008.

O Meio-irmão

Por Sônia Barreira
Nem todos os irmãos de pais diferentes são considerados meios irmãos, não é mesmo? Fred e Barnum, personagens deste romance, não são filhos do mesmo pai, mas esta é a menor das diferenças que existem entre eles. Na perspectiva de Barnum, o filho mais novo, conhecemos um Fred corajoso, forte, decidido e transgressor. Mas esta é a visão de um rapazinho que sofre toda a vida com sua baixa estatura e que vive por causa dela uma história de exclusão e preconceito.

Narrado de modo sensível e intenso, o romance nos proporciona aquela rara experiência de mergulho e viagem da qual não conseguimos sair. Com uma linguagem contemporânea e audaciosa, Laers Saabye nos mostra como na distante Noruega do pós-guerra, a passagem da infância para a vida adulta pode estar repleta dos mesmos medos, angústias e desapontamentos que vivem aqui nossos jovens.

 

CHRISTENSEN, Lars Saabye. O Meio-irmão. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

Vampíria

Por Angela Müller de Toledo

Quer dar boas risadas?  Então leia Vampíria, o livro recomendado aqui.

Para você ter uma idéia, trata-se da história da última família de vampiros da Terra que, por circunstâncias que não vou explicar, tornou-se prisioneira em um apartamento. O pior de tudo é que frequentemente eles são obrigados a fazer uma encenação patética para assustar os turistas. Um daqueles teatrinhos de horror básico.

Papai Voivoda é o mais inconformado com a situação. Afinal, ele pertence a uma linhagem especial de vampiros, é descendente direto de Drácula da Transilvânia. Sua filha Letúcia também anda mal dizendo o fato de ser vampira, pois gosta de namorar jovens mortais, o que é expressamente proibido.

Além desses personagens há um mordomo que gosta de tomar umas e outras, o avô já sem os dentes, mamãe Dárvula e um vampirinho adolescente chamado Horloc.

Enfim, esta história de vampiros não tem nada de “terrorífica”, ao contrário, é super cômica.

 

JACOB, Dionísio. Vampíria. Ilust. de Eduardo Albini e César Landucci. São Paulo:Saraiva, 2005.

Elefantes nunca esquecem!

Por Angela Müller de Toledo
Esta é a história de um pequeno elefante que ficou sozinho no meio da floresta depois de uma tempestade. O elefantinho ficou muito assustado, mas decidiu andar em direção ao rio. Lá chegando encontrou uma manada de búfalos. Será que os enormes
animais atacarão o elefantinho? O título do livro tem algo a ver com a história? Não vou contar. Só adianto que na floresta existem muitos perigos para um filhote desgarrado.

Mais uma coisa: vocês já viram na biblioteca inúmeros livros maravilhosos cujas ilustrações não são, necessariamente, multicoloridas. Este, do elefantinho, é um exemplo de como é possível usar apenas três cores nos desenhos e compor uma obra emocionante.

Mais outra coisa: esta autora tem outros livros também muito bonitos, vale a pena conferir.

RAVISHANKAR, Anushka. Elefantes nunca esquecem! Ilustr. Christiane Pieper. Trad. Bia Hetzel. Rio de Janeiro: Manati, 2009.

Os comes e bebes nos velórios das Gerais e outras histórias

Por Wanilda Tieppo

“Os comes e bebes nos velórios das Gerais e outras histórias” é um livro de culinária mineira.

A autora, Dea Rodrigues da Cunha Rocha (Editora Auana) teve um “trabalhão” para traduzir os pesos e as medida das receitas mineiras tradicionais que, oralmente, são passadas de mãe para filha, de Dinda pra afilhada de avó pra neta.

Um pucadinho de sar transformou-se em 1 colher de café, um tiquinho de açúcar em uma colher de sobremesa, uma mãozada de farinha nada mais é que uma xícara de chá…

É um livro pra deixar na cozinha e se divertir na sala. Junto com as receitas são narradas histórias que aconteceram (será verdade?) nos velórios da Gerais. Muito engraçadas! Causos de mineirim !

ROCHA, Dea Rodrigues da Cunha. Os comes e bebes nos velórios das gerais e outras histórias. São Paulo: Auana.