Leitura de escritores indígenas com crianças de 1º, 2º e 3º anos

Por Paula Lisboa

Nesse momento de ensino remoto e híbrido, uma das atividades que oferecemos foi um momento de leitura virtual no contraturno para as crianças de 1º, 2º e 3º anos. Em um dos horários da atividade, fiz a proposta de apresentar às crianças histórias escritas por autores indígenas. A atividade é optativa e as crianças poderiam escolher outras propostas de leitura. Desde o início, achei que poderia ter um grupo menor de interesssados nas histórias indígenas, uma vez que somos pouco familiarizados com a cultura dos nossos povos originários.

Felizmente desde o primeiro encontro um grupo de crianças chegou com muito interesse em ouvir essas narrativas, e se interessaram ainda mais quando eu contei que faríamos a leitura de livros escritos por autores indígenas. Trouxe as fotos dos autores, imagens de seu povo, contei onde eles vivem.

Em dois meses de leitura ouvimos narrativas dos povos Guarani, Munduruku e Karajá, contadas por Olívio Jekupé e Daniel Munduruku, além dos poemas do poeta Tiago Hakiy, do povo Sateré-Mawé. Apreciamos os desenhos feitos por crianças Guarani no livro Verá, o Contador de Histórias, o que encantou a todos e todas, inspirando que também fizessem seus desenhos enquanto ouviam as histórias. Aprendemos algumas palavras nas línguas Guarani e Munduruku, e ampliamos nosso conhecimento sobre a cosmovisão dos povos indígenas no Brasil.

Fui supreendida pela vontade e capacidade das nossas crianças em absorver as referências de outras culturas de forma muito tranquila, de retomar as narrativas depois de semanas da leitura feita, de reconhecer as palavras nas diferentes línguas indígenas, de se envolver com o contexto trazido pela leitura, conectando diferentes narrativas e ampliando sua sensibilidade para a diversidade étnica e cultural.

Está sendo muito rico acompanhar as conexões que eles fazem ao longo das leituras, reflexões sobre bom e mau, sobre a relação entre indígenas e não indígenas, e sobre os saberes trazidos nas histórias. Nesse tempo já concluímos a leitura de dois livros e começamos um terceiro, além dos poemas que estão intermeando os contos.

Mais uma vez testemunhei o quanto vale a pena acreditar no poder das narrativas para conhecer, sensibilizar e ampliar conhecimento.

Referência dos livros lidos:

JEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003.

MUNDURUKU, Daniel. Um dia na aldeia: uma história munduruku. São Paulo: Melhoramentos, c2012.

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004.

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

 

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