Livro velho, livro novo: livro!

por Paula Lisboa

Agora que estamos em casa sem poder aproveitar a biblioteca pra trocar e indicar livros, a gente tem se virado como pode, aproveitando toda a tecnologia que temos à nossa disposição: fazendo leituras ou indicações de leitura em vídeo, lives com contação de histórias, baixando livros disponíveis em PDF ou aproveitando as opções em e-books.

E justamente nesse momento eu encontrei na minha casa uma coisa linda, uma preciosidade: um livro antigo de quando eu era bem pequena, um livro que eu e minhas irmãs gostávamos tanto, lemos tanto, que ele até ficou destruído, a capa dura caiu e a tentativa de remendo não foi muito bem sucedida. Mas o mais legal é que esse mesmo livro foi reeditado recentemente e distribuído por uma campanha bem feita de leituras de qualidade, de forma que muitas crianças hoje também o conhecem!

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1979 pela editora Berlendis & Vertecchia

Se eu disser pra vocês que esse aqui é o “meu” Chapeuzinho Amarelo, acreditem: ele conta exatamente a mesma história do Chapeuzinho Amarelo que vocês conhecem! O texto é o mesmo, escrito pelo Chico Buarque. A diferença é que o livro que eu tinha quando era criança foi feito pela editora Berlendis & Vertecchia em 1979, numa época em que estavam começando a lançar livros escritos e ilustrados especialmente para as crianças. Esse foi um dos primeiros livros lançados pela editora, no mesmo ano de sua fundação e foi a própria fundadora da editora, a designer gráfica Donatella Berlendis, que fez as ilustrações. Mas ao invés de estar escrito que ela fez as “ilustrações”, está escrito que ela fez o “planejamento gráfico” do livro, ou seja, tanto os desenhos como a forma como eles são dispostos nas páginas e a relação com o texto. Isso tudo era uma grande novidade naquela época e logo o livro ganhou indicação de Altamente Recomendável para Crianças e foi um sucesso.

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1997 com ilustrações de Ziraldo

Só 18 anos depois, em 1997, foi lançado o mesmo texto do Chico Buarque dessa vez feito por outra editora e com desenhos de outro ilustrador. Agora a editora passou a ser a José Olympio e quem ilustrou a história foi o Ziraldo, autor e ilustrador que já tinha bastante reconhecimento por seu trabalho naquela época. Essa é a versão da Chapeuzinho Amarelo que a maioria de vocês conhece.

A história pode ser a mesma, mas pra mim é muito mais gostoso ler o livro que eu lia quando era pequena, pois é como se eu enxergasse o livro com olhos de criança. Além das ilustrações terem estilos bem diferentes – a ponto de muita gente se debruçar a estudar e escrever trabalhos de pesquisa comparando as duas versões -, pra mim a maior diferença está mesmo na memória afetiva, na lembrança carinhosa.

E nesse momento eu confirmo: não tem e-book, PDF ou vídeo de história que seja capaz de substituir a relação tão especial que temos com um livro em papel, que depois de virado tantas vezes pelas mãos ágeis da criança pode até rasgar, mas continua inteiro e vivo na memória do dedos, dos olhos, dos ouvidos e até do nariz – ou vai dizer que você não sente o cheiro do seu livro preferido?

Aqui nesse link você pode assistir a leitura que eu fiz do livro!

Lobo desenhado só com o contorno, na edição de 79 com projeto gráfico de Donatella Berlendis

Lobo medonho ilustrado pelo Ziraldo, nas publicações de 97 em diante

Essa era minha parte preferida e única ilustração colorida em todo o livro!


BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia, 1979.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

Deixe uma resposta