Por Angela Müller de Toledo
Para você que gosta de desenhar ou aprecia as ilustrações dos livros e quadrinhos, para você que gosta de histórias singelas, com personagens parecidos com aquele seu amigo ou vizinho, para você que sabe que alguns autores expressam o que todos nós sentimos de uma forma que só os verdadeiros artistas conseguem (de um jeito simples e ao mesmo tempo contundente), eu recomendo este livro.
Sempé é conhecido no Brasil principalmente pela série de histórias do Pequeno Nicolau, em que fez parceria com René Goscinny (de Asterix) e que foram lidas por muita gente que hoje tem mais de 25. Marcelino Pedregulho também é um personagem antigo do autor, mas que não tinha tradução aqui. É a história de um menino que enrubesce com extrema facilidade mas isto não lhe causa grandes transtornos, apenas o incomoda e acaba isolando o garoto da maioria dos colegas. Um dia Marcelino conhece Renê Rocha e uma grande amizade se estabelece. Renê Rocha espirra o tempo todo.
Não se preocupe, não vou contar tudo, embora o leitor experiente já possa antecipar o que vai acontecer. No entanto, por mais que você adivinhe, a leitura não perde a graça. Nesta obra, como em outras de Sempé, o traço limpo é inconfundível, o uso pontual que ele faz das cores sempre destaca uma cena ou uma ideia de forma primorosa, e o humor fino, expresso principalmente nas figuras humanas, é um prazer à parte.
Mais duas coisas: Qualquer semelhança com certa propaganda de chocolate não é coincidência mas, sim, um uso bem grosseiro da ideia que Sempé trabalhou com tanta sutileza. Este livro poderia ser recomendado para todas as outras categorias de leitores, desde os da Educação Infantil, que “lêem as figuras” e ouvem as histórias contadas por adultos, até pessoas mais velhas, com décadas de leitura. Escolhi recomendá-lo aos leitores experientes da Escola da Vila para tentar minimizar certo preconceito que alguns jovens alimentam sobre os livros para crianças. Muitas vezes eles não são tão infantis assim.
Confira.
SEMPÉ, Jean-Jacques. Marcelino Pedregulho. Trad. Mário Sérgio Conti. São Paulo: Cosac Naify, 2009.