VilaLê Butantã

por Lucas Meirelles

 

Num misto de testemunho e chamada para novos leitores, escrevo esse texto sobre o livro que estamos lendo no VilaLê do Butantã e como estão acontecendo os encontros desse clube de leitura nos tempos da quarentena.

Antes da pandemia acontecer, tivemos um encontro presencial na unidade Butantã onde nos conhecemos, comemos pipoca e escolhemos o livro para iniciar a leitura.

Assim que o isolamento foi iniciado e a escola fechou por conta disso os encontros foram cancelados, voltando depois de algumas reuniões e acertos. Fizemos também uma nova escolha de livro, por questões de adequação do escolhido anteriormente, e finalmente iniciamos a leitura, no dia 17 de abril, de Anne de Green Gables (1908), de Lucy Maud Montgomery.

 

 

 

 

 

 

 

 

A leitura desse clássico tem sido uma grata surpresa. É uma história que se passa numa fazenda no Canadá. Um casal de irmãos resolve adotar um menino para ajudar na fazenda Green Gables, porém chega uma menina, Anne. A partir dessa confusão inicial, a história da menina vai tocando em temas como identidade, aceitação, preconceito o que, com ajuda da série “Anne with an E”, tornou o livro mais popular e atual.

Agora os encontros estão acontecendo semanalmente, via Google Meet, e mantivemos a pipoca. Cada integrante do clube além de ser responsável por ler os capítulos, também pode fazer (ou pedir aos responsáveis) sua pipoca, que antes era compartilhada por todos no dia do encontro.

Estamos quase terminando o livro e, em breve, escolheremos outros títulos para lermos juntos (tomara que já consigamos estar na escola quando isso acontecer, mas se não acontecer, tudo bem). Todas e todos do Fundamental 2 do Butantã e Morumbi podem participar. Vamos?

Bebês também ouvem histórias!

Por Paula Lisboa

De maneira geral sabemos que bebês gostam de ouvir as vozes das pessoas ao seu redor, são curiosos, interessados em tudo que veem, sensíveis às diferentes linguagens e abertos aos estímulos. Para serem bons leitores, só o que precisamos fazer é ler para eles! Ler para as crianças desde bebês pode trazer benefícios para o desenvolvimento da linguagem, ampliar seus recursos interiores e estimular sua capacidade de imaginação – além, é claro, de iniciar desde cedo sua relação com o objeto livro, e proporcionar momentos de estreitamento de vínculo entre o adulto e o bebê.


O livro sozinho não é nada demais, somente um objeto parado sem grande significado. Quando escolhemos um livro e sentamos com a criança, olhando juntos para o mesmo objeto, apreciando as ilustrações, dedicando nosso tempo e atenção para a mesma história, isso cria um momento de afeto marcante na memória emocional do bebê. O importante nesse momento não é a compreensão racional da história, nem acompanhar o desenrolar da narrativa. O importante é a troca de afeto, assim como a nutrição emocional e cultural que estamos proporcionando a eles. Um momento diário para a leitura é um prato cheio para a saúde emocional do bebê!

Como explica a pedagoga Edi Fonseca, especialista em contação de histórias e pesquisadora da leitura para bebês: “Isso é alimento afetivo, alimento emocional, bagagem cultural para o resto da vida.”

Considerando sempre que não precisamos exigir do bebê ou da criança pequena a atenção focada por muito tempo nem a compreensão completa da narrativa, levantamos algumas dicas de como aproveitar ainda mais esse momento de troca e encontro.

Com relação à escolha do texto, um tipo de texto que eles gostam muito são aqueles que brincam com as palavras, com rimas, ritmos, jogo de som. Isso porque os bebês são especialmente atraídos por todo tipo de musicalidade e ritmo. Poesias, parlendas, jogos com palavras, brincadeira fonéticas, histórias de repetição são ótimas escolhas!

Buscar histórias e livros que você goste vai trazer ainda mais afeto nessa relação, lembre-se disso na hora de escolher o que ler. Busque livros que atraiam a sua atenção, que você também aprecie e tenha prazer em ler.

Temos uma larga oferta de livros infantis no mercado, busque escolher livros que são obras de arte, que proporcionam boa apreciação estética, que provoquem os sentidos. Belas ilustrações que ampliem as expressões de representação do mundo, fugindo das imagens padronizadas e simplistas, de traços infantilizados ou estereotipados.

Na hora de fazer a leitura não é necessário simplificar a linguagem ou explicar demais o que está acontecendo. Basta confiar na capacidade do bebê de apreensão do mundo em toda grandeza, assim como acreditar que boas referências resultam em uma boa bagagem conforme acontece o desenvolvimento da linguagem. Ainda que não compreendem racionalmente o texto, vão aprendendo palavras, nomeações, sons, ritmos, imagens…

Por outro lado, você pode ter a liberdade de explorar a sua maneira de contar aquela história, sem excesso de rigor na leitura do texto exatamente igual como se apresenta. Caso sinta vontade de modificar palavras, acrescentar interjeições, fazer comentários com expressão facial, tudo é permitido! O importante é estar à vontade para interagir com a narrativa presente no livro, fazendo da leitura um momento de fruição criativa e envolvente.

 

Por fim, não se decepcione caso a criança levante, mexa o corpo, saia e volte durante a leitura, fale junto com você, adiante ou volte as páginas. Nada disso significa falta de interesse ou atenção, mas tão somente a maneira como eles envolvem o corpo inteiro em suas atividades.

É uma delícia ler com uma criança, aproveite!!

Breve História das Bibliotecas

por Lucas Meirelles

Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura (RJ)

Como parte das atividades realizadas pela equipe das bibliotecas após as férias entre maio e junho de 2020, a oficina “História das Bibliotecas” foi apresentada ao F2. Parte relato, parte apresentação, esse post apresenta também algumas outras curiosidades sobre a história das bibliotecas.

Biblioteca vem do grego, composto de biblion — “livro” e theca — “depósito”.

Mas antes de falar sobre como a humanidade tratou de organizar suas informações em bibliotecas, seus pergaminhos, papiros e livros, é importante falar antes sobre a mudança que os suportes da informação sofreram durante a história, sejam eles minerais, vegetais ou animais.

Os primeiros suportes de informação, possíveis de serem reunidos em uma biblioteca, foram os tabletes de argila nos quais, com o auxílio de pedras e cunhas, registravam-se as informações.

Imagem possível do acervo da Biblioteca de Alexandria

Depois apareceu o pergaminho (possivelmente com esse nome por conta da cidade de Pérgamo, onde também tinha uma grande biblioteca), feito de pele de animais como ovelhas, cabras e carneiros. Elas eram esticadas e tratadas quimicamente e fisicamente para ficarem lisas, limpas e claras o suficiente para escrever em cima. Bem próximo ao pergaminho, o papiro e tempos depois, o papel, apareceu para fechar os suportes vegetal, animal e, agora, o vegetal. O papiro vem da planta de mesmo nome e suas fibras eram trançadas para dar um aspecto liso e claro para a escrita poder ser feita.

As bibliotecas acompanharam a trajetória dos suportes e foram se organizando para as informações e a(s) história(s) serem preservadas. Na Antiguidade e até meados da Idade Média as bibliotecas eram principalmente lugares de registro e preservação do conhecimento. E é importante apontar que esse conhecimento era para poucos que sabiam ler e escrever e que, com isso, detinham o poder de decisão de como as informações circulavam.

Já na Grécia, começam as primeiras bibliotecas públicas e o espaço das bibliotecas também é utilizado em discussões, pesquisas, etc. E assim, esse espaço vai evoluindo, durante o período da Idade Média na Europa. Passam a figurar três tipos de biblioteca: monacais (mosteiros e conventos com seus monges copistas), particulares (principalmente de sacerdotes, reis e imperadores) e universitárias (início das primeiras universidades e maior possibilidade do conhecimento circular entre mais camadas das populações).

Da Idade Média aos dias de hoje as bibliotecas foram evoluindo, mudando práticas e pensando não só em registrar e preservar, mas em disseminar de forma organizada o conhecimento. E essa disseminação foi em grande parte ajudada pela revolução da imprensa, aperfeiçoada por Johannes Gutenberg e a invenção da prensa móvel, que facilitaram aos códices e ao livro ser mais difundido e popularizado.

Biblioteca da Universidade de Oxford

Para finalizar e pensando na história dos suportes, as bibliotecas digitais são uma volta às bibliotecas minerais, já que muitos componentes dos servidores nos quais as bibliotecas estão locadas, fazem parte de famílias dos minerais.

Então, fica o convite para conhecerem a World Digital Library, biblioteca criada em acordos entre Library of Congress, UNESCO e diversas bibliotecas particulares e nacionais do mundo todo, que reúne manuscritos, fotos, mapas e diversos outros documentos desde 8.000 a.C.!

Graciliano Ramos

por Lucas Meirelles

Graciliano com duas netas

 

Chegou a vez do Graciliano dar as graças e aparecer por aqui!

O Velho Graça, apelido de Graciliano Ramos de Oliveira, foi um grande escritor do Modernismo, do Ciclo das Secas, dos retratos do Nordeste, das memórias do Brasil.

Nascido em Quebrangulo, na Zona da Mata de Alagoas, no ano de 1892, foi o primeiro de 16 irmãos. Sua infância se passou em diversas cidades entre Pernambuco e Alagoas. Antes de terminar o segundo grau (hoje conhecido por Ensino Médio) em Maceió, escrevia prosas e poesias para vários jornais e revistas da época (O Malho, Jornal de Alagoas, Correio de Maceió) sob vários pseudônimos, entre eles Feliciano de Olivença, Soares de Almeida Cunha e Soeiro Lobato.

Assim que terminou, mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou como revisor em alguns jornais. Porém, no ano seguinte, em 1915, volta rapidamente para Palmeira dos Índios (AL), onde sua família morava, por conta da morte de três irmãos e um sobrinho durante a epidemia de peste bubônica. Durante esse tempo em Alagoas, se casou, teve filhos, trabalhou em uma loja de tecidos e aos poucos foi voltando a escrever para os jornais. Inclusive Caetés (1933), seu primeiro romance, foi iniciado em 1928, durante sua morada em Palmeira dos Índios. Um ano antes, foi eleito prefeito da cidade, ficando apenas por dois anos no cargo, tempo suficiente para fazer dois relatórios ao Governador do Estado de Alagoas que chamaram a atenção do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, que encorajou Graciliano a escrever mais.

Até 1936, vai morar em Maceió, trabalha na Imprensa Oficial, na Secretaria Estadual de Educação de Alagoas, publica São Bernardo (1934) e Angústia (1936) e, em março desse ano, é preso pelo regime de Getúlio Vargas, sendo levado para o Rio de Janeiro e ficando onze meses presos sem ser acusado de nada e sendo liberado sem julgamento.

Em 1938, lança seu quarto romance, Vidas Secas, tratado como uma de suas maiores obras. Esse livro e São Bernardo foram posteriormente adaptados para o cinema em grandes produções brasileiras, a primeira por Nelson Pereira dos Santos e a segunda por Leon Hirszman.

No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro e continua escrevendo livros infantis, outros romances, livros de contos e crônicas e traduz alguns livros. Um outro fato importante de sua vida foi o convite do secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes a se filiar ao PCB. Esse fato possibilitou ou Velho Graça uma viagem, em 1952, à antiga União Soviética, Tchecoeslováquia, França e Portugal, o que, postumamente, virou um livro, chamado Viagem (1954).

Porém, ao voltar dessa viagem, ele já estava bem doente com problemas respiratórios. Em 1953, após algumas cirurgias e internações, falece no Rio de Janeiro. Seus filhos, filhas, netos e netas mantém seu legado com livros póstumos. Seu arquivo e biblioteca, encontram-se atualmente no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), na USP.

Aqui estão os livros dele (e alguns sobre sua vida e sua literatura) que temos nas nossas unidades:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. 22. ed. Rio de Janeiro: Record, 1982. 198 p. ISBN 8501005207.

RAMOS, Graciliano. Angústia. 25. ed. São Paulo: Record, 1982. 247 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Angústia. 61. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. 335 p. ISBN 8501067121.

RAMOS, Graciliano. Angústia. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. 210 p. (Grandes da Literatura Brasileira; 10).

RAMOS, Graciliano. Angústia: (75 anos). 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013. 384 p. ISBN 9788501095046.

AMADO, Jorge; MACHADO, Aníbal; QUEIROZ, Rachel de; RAMOS, Graciliano; REGO, José Lins do. Brandão, entre o mar e o amor: romance. Rio de Janeiro: Record, [1981]. 157 p.

RAMOS, Graciliano. Caetés. 18. ed. Rio [de Janeiro]: Record, 1982. 231 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Caetés. Rio de Janeiro: Record, 2013. 320 p. ISBN 9788501009203.

RAMOS, Graciliano. O estribo de prata. Rio de Janeiro: Record, c1984. Não paginado (Abre-te Sésamo).

VIANA, Vivina de Assis. Graciliano Ramos. São Paulo: Abril, 1981. 111 p. (Literatura comentada).

MIRANDA, Wander Melo. Graciliano Ramos. São Paulo: Publifolha, 2004. 88 p. (Folha explica ; 62). ISBN 8574024805.

LEMOS, Taísa Vliese de. Graciliano Ramos: a infância pelas mãos do escritor : um ensaio sobre a formação da subjetividade na psicologia sócio-histórica. São Paulo: Musa, 2002. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 162 p. ISBN 8585252693

RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008. 221 p. (Folha Grandes Escritores Brasileiros ; 16) ISBN 9788599896419

DANTAS, Audálio. A infância de Graciliano Ramos. São Paulo: Callis, 2005. 31 p. ISBN 8598750131.

RAMOS, Graciliano. Insônia. 18. ed. São Paulo: Record, 1982. 175 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Linhas tortas: obra póstuma. 10. ed. Rio de Janeiro: São Paulo: Record, 1983. 306 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 15. ed. [Rio de Janeiro]: Record, 1982. 2 v., (378 + 319) p.

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 49. ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. 728 p. ISBN 9788501073785.

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. 2 v. (558p.)

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 39. ed. Rio [de Janeiro]: Record, [1983]. 213 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 228 p. (Viagem Nestlé pela Literatura). ISBN 8501009059.

RAMOS, Graciliano. A terra dos meninos pelados. 41. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. 79 p. ISBN 9788501054548.

RAMOS, Graciliano. Viagem: Tcheco-Eslováquia-URSS. 12. ed. [Rio de Janeiro]: Record, 1983. 193 p.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 140. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. 174 p. ISBN 9788501114785.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 94. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. 175 p. ISBN 8501067342

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Ed. comemorativa 80 anos. Rio de Janeiro: Record, 2018. 320 p. ISBN 9788501114778.

BRANCO, Arnaldo. Vidas secas. Rio de Janeiro: Galera Record, 2015. 97, [1] p. ISBN 9788501104618.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas: 70 anos. Ed. especial comemorativa ilustrada. Rio de Janeiro: Record, 2008. 203 p. ISBN 9788501085290.

RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas: quadros e costumes do Nordeste. 12. ed. Rio [de Janeiro]: Record, 1983. 197 p. (Obras de Graciliano Ramos).

 

A Conferência dos Pássaros: um conto clássico recontado em forma de Arte

Por Paula Lisboa

Existem livros que são verdadeiras obras de arte, tamanho o cuidado estético em sua criação. Sem dúvida é o caso desse A Conferência dos Pássaros, criado pelo grande autor e ilustrador Peter Sís, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, um dos maiores prêmios da Literatura Infantil.

A história em si não é de sua autoria, trata-se de um conto da tradição oral sufi, atribuída ao poeta persa Farid Ud-di Attar e datada do século XII. Peter Sís inclui o poeta Attar no início do livro, quando conta que um dia ele acordou de um sonho inquietante e se viu transformado em uma poupa, uma ave que tem como característica marcante uma crista na cabeça. Essa poupa convoca todos os pássaros para uma conferência, e assim tem início a tradicional narrativa oriental. A reunião tem por objetivo convidar a todos para partirem juntos em busca de um rei que vive numa montanha distante, e que poderia ter as respostas para os problemas que eles enfrentam, como a ganância, a vaidade, a disputa e a destruição.

Todos partem em viagem, voando por um caminho cheios de dúvidas, ressentimentos e medo de mudanças, em uma verdadeira jornada rumo à transformação pessoal. Se por um lado sentem medo e dúvida, por outro são impulsionados pela poupa, que os incentiva a percorrer todos os cantos do mundo com a esperança de atingir seu propósito. Passam, assim, por sete vales: da procura, do amor, da compreensão, do desapego, da unidade, do deslumbramento e da morte. São tantos desafios enfrentados que muitos pássaros desistem no caminho e não continuam a jornada.

E assim vamos seguindo por profundos mergulhos em nossa existência.

Essa história já foi narrada muitas vezes, mas nessa edição ela tem um tratamento especial pelas ilustrações de Peter Sís, que pesquisou sobre a cultura oriental persa e também sobre a anatomia dos pássaros. O resultado são ilustrações impressionantes, que ampliam ainda mais a grandiosidade dessa história tão antiga quanto atual, e que ao final nos revela que a resposta está muito mais próxima do que imaginamos.

É bem verdade que não há nada como ter o livro nas mãos para apreciar essa bela obra de arte, mas se quiser você também pode acompanhar a leitura assistindo os vídeos abaixo.





SÍS, Peter. A conferência dos pássaros. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013.

Chinua Achebe

por Lucas Meirelles

Chinua Achebe, nascido com o nome de Albert Chinualumogu Achebe, resolveu adotar somente o nome africano como forma de se libertar da dominação colonial inglesa em seu país de origem: Nigéria.

E é sobre esse romancista, professor e poeta que vamos falar sobre agora!

Ele nasceu na cidade de Ogidi, em 1930, ou seja, trinta anos antes da Nigéria se tornar independente do Reino Unido. Durante sua infância teve bastante contato com a cultura europeia, porém ao passar dos anos foi percebendo que sua cultura ancestral carregava mais valor.

Sua obra de maior sucesso é O mundo se despedaça (Things fall apart), lançado em 1958. Ele faz parte de uma trilogia com outros dois romances: No longer at ease (1960) e Arrow of God (1964). Nesse primeiro romance, temos a história de Okonkwo, guerreiro da etnia ibo, no sudeste da Nigéria, e sua luta contras os missionários britânicos que trazem para sua tribo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

Em sua literatura aparece bastante sua vivência, seja como escritor ou mediador de conflitos, e também a história da Nigéria, com impressões em primeira pessoa dos acontecimentos. Essa literatura foi construída não só em ficção, mas em poesia, literatura infantojuvenil e ensaios.

Há um entrevista de Chinua para Bill Moyers, em 1988, disponível no YouTube. A transcrição da entrevista também está disponível (em português de Portugal). Nessa entrevista ele fala, entre outros assuntos, sobre os desafios de forjar a identidade cultural na África pós-colonial.

Chinua Achebe nos deixou em 2013, aos 82 anos.

Eis os livros do autor disponíveis em nossas bibliotecas:


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ACHEBE, Chinua. Arrow of God. New York: Penguin, [2016]. 230 p. ISBN 9780385014809.

ACHEBE, Chinua; IROAGANACHI, John. As garras do leopardo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p. ISBN 9788574065922.

ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 236 p. ISBN 9788535915501.

ACHEBE, Chinua. No longer at ease. New York: Penguin, [2017]. 194 p. ISBN 9780385474559.

ACHEBE, Chinua. Things fall apart. New York: Penguin, 2017. 212 p. ISBN 9780385474542.

“Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?”

Por Paula Lisboa

Sabemos que uma rotina bem estruturada é importante para organizar as crianças internamente, e por isso a família toda se esforça para garantir uma programação semanal bem definida: de segunda à sexta as crianças vão pra escola e o final de semana costuma ser dedicado ao lazer, com passeios, encontros sociais e familiares.

Ilustração de Anna Cunha

Eis que de repente da noite pro dia tudo mudou: a escola fechou, não podemos ver os amigos, nem pensar em ir na casa da vó ou do vô. Não dá pra passear por aí sem usar máscara, nem podemos ir ao cinema ou comer num restaurante. Todos fomos impactados, mas para alguns o impacto pode ser ainda maior, pois a medida simplesmente aparece pronta, sem qualquer participação nos eventos que a precederam. Crianças pequenas, e crianças e adolescentes do espectro autista merecem de nós uma dedicação para que ajudá-los a compreender um pouco o que está se passando.

Com esse intuito, ainda no mês de março foi elaborada uma carta pelo Fórum Mineiro de Educação Infantil da FAE/UFMG e o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil e Infâncias – NEPEI, da Faculdade de Educação da UFMG, a Carta às meninas e aos meninos em tempos de Covid-19.

Ilustração de Raquel Matsushita

Ricamente ilustrada por 11 artistas da literatura para a infância, pode-se dizer que o resultado é uma obra de arte. O texto, de autoria de Mônica Correia Baptista, foi inspirado na Carta para los niños y niñas en este momento de crisis, de Carla infanta e Isídora Lobo.

Iniciando a carta com a proposta de “Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?” essa pode ser uma ótima leitura para todas as famílias realizarem juntas enquanto estão em casa.

Acesse pelo Instagram: instagram.com/criancasdobrasil
Acesse pelo Issuu: bit.ly/CartaCriançasCovid-19
Baixe o PDF: bit.ly/downloadCartaCrianças

Outras duas produções merecem ser divulgadas nesse momento, focadas especificamente na conscientização e reflexão sobre o autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA), elaboradas pelo Laboratório de Terapia Ocupacional e Saúde Mental.

O primeiro material visa criar uma rede de solidariedade, como parte de um movimento de conscientização do autismo. Traz informações sobre o transtorno e convida à reflexão sobre as particularidades das famílias de crianças e adolescentes com autismo, em meio ao cenário atual. O segundo material é destinado a essas famílias e traz orientações que podem contribuir para o melhor enfrentamento da situação.

É possível acessar ambos os materiais direto na página no Facebook do Laboratório.

E por fim, mas não menos interessante, temos a produção da editora inglesa Nosy Crow, traduzida e também distribuída gratuitamente no Brasil pela editora Brinque-Book, chamada Coronavírus – um livro para crianças.

Em uma produção que juntou especialistas em saúde, profissionais da educação e as divertidas ilustrações de Axel Scheffler, o livro traz explicações simples e diretas a respeito do coronavírus e seu impacto na saúde e no dia a dia de todos nós. As crianças certamente irão reconhecer os traços dos desenhos de Axel Scheffler, ilustrador de livros como O Grúfalo, Macaco Danado, entre outros.

A obra pode ser acessada online ou baixada no computador através do site da editora.

Livro velho, livro novo: livro!

por Paula Lisboa

Agora que estamos em casa sem poder aproveitar a biblioteca pra trocar e indicar livros, a gente tem se virado como pode, aproveitando toda a tecnologia que temos à nossa disposição: fazendo leituras ou indicações de leitura em vídeo, lives com contação de histórias, baixando livros disponíveis em PDF ou aproveitando as opções em e-books.

E justamente nesse momento eu encontrei na minha casa uma coisa linda, uma preciosidade: um livro antigo de quando eu era bem pequena, um livro que eu e minhas irmãs gostávamos tanto, lemos tanto, que ele até ficou destruído, a capa dura caiu e a tentativa de remendo não foi muito bem sucedida. Mas o mais legal é que esse mesmo livro foi reeditado recentemente e distribuído por uma campanha bem feita de leituras de qualidade, de forma que muitas crianças hoje também o conhecem!

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1979 pela editora Berlendis & Vertecchia

Se eu disser pra vocês que esse aqui é o “meu” Chapeuzinho Amarelo, acreditem: ele conta exatamente a mesma história do Chapeuzinho Amarelo que vocês conhecem! O texto é o mesmo, escrito pelo Chico Buarque. A diferença é que o livro que eu tinha quando era criança foi feito pela editora Berlendis & Vertecchia em 1979, numa época em que estavam começando a lançar livros escritos e ilustrados especialmente para as crianças. Esse foi um dos primeiros livros lançados pela editora, no mesmo ano de sua fundação e foi a própria fundadora da editora, a designer gráfica Donatella Berlendis, que fez as ilustrações. Mas ao invés de estar escrito que ela fez as “ilustrações”, está escrito que ela fez o “planejamento gráfico” do livro, ou seja, tanto os desenhos como a forma como eles são dispostos nas páginas e a relação com o texto. Isso tudo era uma grande novidade naquela época e logo o livro ganhou indicação de Altamente Recomendável para Crianças e foi um sucesso.

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1997 com ilustrações de Ziraldo

Só 18 anos depois, em 1997, foi lançado o mesmo texto do Chico Buarque dessa vez feito por outra editora e com desenhos de outro ilustrador. Agora a editora passou a ser a José Olympio e quem ilustrou a história foi o Ziraldo, autor e ilustrador que já tinha bastante reconhecimento por seu trabalho naquela época. Essa é a versão da Chapeuzinho Amarelo que a maioria de vocês conhece.

A história pode ser a mesma, mas pra mim é muito mais gostoso ler o livro que eu lia quando era pequena, pois é como se eu enxergasse o livro com olhos de criança. Além das ilustrações terem estilos bem diferentes – a ponto de muita gente se debruçar a estudar e escrever trabalhos de pesquisa comparando as duas versões -, pra mim a maior diferença está mesmo na memória afetiva, na lembrança carinhosa.

E nesse momento eu confirmo: não tem e-book, PDF ou vídeo de história que seja capaz de substituir a relação tão especial que temos com um livro em papel, que depois de virado tantas vezes pelas mãos ágeis da criança pode até rasgar, mas continua inteiro e vivo na memória do dedos, dos olhos, dos ouvidos e até do nariz – ou vai dizer que você não sente o cheiro do seu livro preferido?

Aqui nesse link você pode assistir a leitura que eu fiz do livro!

Lobo desenhado só com o contorno, na edição de 79 com projeto gráfico de Donatella Berlendis

Lobo medonho ilustrado pelo Ziraldo, nas publicações de 97 em diante

Essa era minha parte preferida e única ilustração colorida em todo o livro!


BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia, 1979.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

Ônibus, de Marianne Dubuc

José J. Veiga

O realismo fantástico, ou realismo mágico é um estilo literário que brinca com a realidade cotidiana junto com criaturas, situações e elementos fantásticos. No Brasil, um grande escritor desse estilo é o José J. Veiga.

Goiano de Corumbá de Goiás, José Jacinto Veiga nasceu em 1915 e morava em uma fazenda. Foi estudar no Rio de Janeiro e trabalhou como jornalista no Brasil e em Londres, na Inglaterra.

Estreou na literatura em 1959, com Os cavalinhos de Platiplanto, livro que reúne 12 contos com a atmosfera das memórias de sua infância e com narradores que envolvem o leitor com os sonhos do cotidiano.

Começou como um grande contista, mas escreveu novelas e ótimos romances também. A hora dos ruminantes, de 1966, é uma romance sobre uma pequena cidade que começa vendo a chegada de forasteiros que constroem alguns edifícios nas redondezas da região, passa por uma invasão de cachorros na cidade, alguns invadindo casas também, e por uma de bois. A alteração na rotina da aldeia é retratada com a desconfiança dos moradores e as especulações da causa dessas invasões.

Há, nas leituras de suas histórias, margem para muitas interpretações e muitas simbologias, inclusive sobre as questões sociais e políticas no país quando foram escritas.

Segue um trecho d’A hora dos ruminantes, quando da invasão dos bois:

“[…] Não se podia mais sair de casa, os bois atravancavam as portas e não davam passagem, não podiam; não tinham para onde se mexer. Quando se abria uma janela não se conseguia mais fechá-la, não havia força que empurrasse para trás aquela massa elástica de chifres, cabeças e pescoços que vinha preencher o espaço.”

Temos em nossas bibliotecas, além dos títulos destacados, outros dois: