Por Paula Lisboa
Fechando a trilogia iniciada com A casa dos espíritos e Filha da Fortuna, em Retrato em Sépia Isabel Allende encerra uma linda saga familiar cujo pano de fundo é a conturbada história política do Chile. Escrito em primeira pessoa, o livro se propõe como memória de Aurora del Valle, que tenta resgatar seu passado e sua origem.
Descendente de espanhóis por parte de pai e nascida no bairro de Chinatown, em São Francisco, a menina perde a mãe durante o parto e é criada pelos avós maternos até a morte de seu avô, figura interessantíssima e especialmente marcante tanto para a própria narradora quanto para o leitor: “Se não fosse pelo fato de esse avô ser a memória mais nítida e perseverante de minha vida, o amor mais antigo contra o qual se desfazem todos os homens que conheci, pois nenhum consegue igualá-lo, não acreditaria que levo sangue chinês em minhas veias. Tao Chi’en vive sempre comigo.”
Passando então aos cuidados da avó paterna, a enérgica, austera e empreendedora Paulina del Valle, Aurora apaga de sua memória os primeiros cinco anos de sua vida. Posteriormente, é atormentada por horríveis e constantes pesadelos e passa por uma grande decepção amorosa, o que a motiva a iniciar uma exploração sobre o mistério de seu passado. É aí que tem início a narrativa, ora em primeira pessoa, ora com a narradora referindo-se a si mesma em terceira pessoa.
Toda a ação se desenrola no Chile em final do século XIX, o que acrescenta um caráter de romance histórico à saga familiar. A narrativa cativa do início ao fim, escrita de maneira envolvente e absolutamente humana.
ALLENDE, Isabel. Retrato em sépia. Trad. Mario Pontes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.