Leitura na quarentena

por equipe da biblioteca

 

Leitoras e leitores dessa quarentena! A leitura, assim como diversas outras atividades da nossa vida, foi bastante afetada por essa pandemia. São tantos estímulos, tantas dificuldades com distanciamento social e home office, tanto tédio que, por vezes, deixamos a leitura de livros um pouco de lado. Mas lemos sempre: quando assistimos um filme, quando conversamos com alguém ou quando olhamos pela janela o movimento da rua (ou a falta dele). A concentração para sentar e ler um livro (em papel ou eletrônico) tem-nos sido contada como uma grande dificuldade. Então nossa equipe resolveu contar como está sendo a rotina de leitura dentro da casa de cada um/uma:

 

Fernanda Perez:

Já há algum tempo tenho dividido minhas leituras entre os textos literários, minha paixão desde sempre, com textos de estudo, aqueles teóricos, e documentos históricos. Pode parecer chato ter que interromper aquela leitura de que gostamos por uma leitura dita obrigatória, como pode parecer o meu caso, para uma pesquisa. No entanto, fiz a feliz descoberta de que LER é a minha paixão desde sempre. Independe do gênero de texto. Depende muito mais do meu interesse e da curiosidade por determinado assunto ou acontecimento da vida. Ou seja, uma vez que decido fazer uma pesquisa, ao definir o tema dela, minha escolha estará vinculada a algum assunto pelo qual tive curiosidade, quis xeretar, conhecer melhor ou saber mais. Claro que às vezes eu cruzo com textos cujos pensamentos me desagradam por serem diversos dos meus, mas até esses “angus com caroço” são bem-vindos. Nesse sentido, ler textos de ficção ou de pesquisa atende um desejo meu … por conhecer. Conhecer outros mundos. Fantásticos ou reais. Atuais ou passados. Outros personagens, herois e heroínas da fantasia ou da história real. E até outros idiomas. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que o importante é ler: gibi, quadrinhos, literatura, biografias, enciclopédias, dicionários, manuais, fotobiografias, artigos científicos, revistas e até bula de remédio, enfim, ler…quando lemos vários sentidos e sentimentos são despertados. Acionamos mecanismos mentais cognitivos e fisiológicos que nos ajudam a compreender melhor sobre nós e o mundo em que estamos. Afinal, você já não ouviu dizer que as leituras contribuem para entendermos melhor o mundo? Então, Aproveita pra ler! Eu estou lendo Água Funda de Ruth Guimarães.

 

Fernando Santos:

Eu também fui vítima da ilusão de que a quarentena me permitiria tirar o atraso daquela lista de leitura que cresce mais depressa do que os cabelos de um confinado. Às vésperas do isolamento, minha meta era modestíssima: um livro de contos do H. P. Lovecraft que eu queria avaliar (O horror de Dunwich) e um estudo etnográfico do meu interesse sobre os nativos de um arquipélago na costa da Nova Guiné (Os argonautas do Pacífico Ocidental, de Bronislaw Malinowski). Ambos permanecem próximos à minha cabeceira e ainda inéditos para mim. 

Então, no meio do caminho tinha uma pandemia, e com ela a leitura de um turbilhão de artigos, notícias, relatórios, protocolos, e-mails, mensagens, comunicados, leis, pareceres, normas, questionários, tudo relacionado ao SarsCov-2 e à Covid-19, nos idiomas mais variados que se possa imaginar, e ainda tendo de se esquivar do fenômeno de fake news, do lobby político, do lobby econômico e de outros promotores do anticientificismo devotos do terraplanismo. 

Mas houve também a necessidade por ofício de reler vários clássicos para o trabalho com os(as) alunos(as): Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto; Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo; Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez (minha leitura favorita da quarentena, até o momento); a poesia do Drummond; as crônicas contemporâneas da Eliane Brum; ensaios e artigos literários, históricos, filosóficos, científicos, artísticos, sociais, políticos, econômicos e tudo mais que a sede por informação que uma comunidade escolar pode e deve ter. 

Assim como muitas pessoas, adquiri novos hobbies durante esta permanência doméstica. Desenvolvi um interesse acentuado pelo cultivo de plantas e a criação de peixes ornamentais que demandou cavar espaço para a leitura de obras de aquariofilia e botânica. Estou sempre consultando algum livro do prof. Harri Lorenzi, sendo o último que li de capa a contracapa recentemente foi o seu Cactos e outras suculentas para decoração. 

Enfim, ler é o que eu mais fiz e faço, seja em quarentena ou não, por ofício e desejo próprio. O importante é sempre buscar o prazer de uma novidade que te acrescenta uma nova camada de compreensão do mundo ou que te impacta simplesmente pela originalidade estética que somente a leitura de um belo texto é capaz de proporcionar. Essa busca, tal como aquela lista de leitura, nunca tem fim.

 

Lucas Meirelles:

Bom, no começo da quarentena separei os grandes livros que quero ler e estão separados há um bom tempo: “Grande Sertão: Veredas”, “Moby Dick”, “Graça infinita”, etc e falei: “agora vai!”. E não foi. Ansiedades, trabalho, medo do coronavírus, mudanças foram me tomando e a literatura não me dava mais vontade ou prazer. Parei um pouco de pensar sobre e dei um tempo nas leituras. Tempos depois, peguei um livro de não-ficção, sobre o conflito no Oriente Médio, Curdistão, Rojava y otras milongas más (que já estava me aguardando a leitura há um tempo) e, apesar de bem denso, fluiu bem a leitura. Comecei depois a ler ficção científica, mais precisamente alguns livros da Ursula K. Le Guin (“A mão esquerda da escuridão”, “Os despossuídos” e “A curva do sonho”). Foi um retorno à infância/adolescência quando lia bastante esse gênero e gostei bastante dessa volta. Nesse meio tempo foi acontecendo o VilaLê (clube de leitura do F2 da escola). Com encontros online agora nós lemos um livro inteiro já: “Anne de Green Gables”, de Lucy Maud Montgomery. E estamos lendo nesse momento “Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, um grande romance de capa e espada com a história da França como pano de fundo. Acabou que vou ler pelo menos um romance bem grande na quarentena! 🙂

 

Paula Lisboa:

Sempre fico com a sensação que eu poderia e deveria ler mais, e nesse período de quarentena não está sendo diferente. Achei que eu teria mais tempo pra pegar um livro e me entregar pra leitura sem hora pra parar. Na prática não foi bem assim, pois durante o dia inteiro eu preciso me dividir em diversas funções: trabalho, casa, filhos… Ao longo desses meses comprei alguns livros pela internet, tanto pra mim (O Conto da Aia, Moqueca de Maridos) quanto para meus filhos (Anne de Green Gables, Os Três Mosqueteiros, Fluxo-Floema), e a gente tem um combinado de sempre conversar sobre o que estamos lendo. Às vezes também lemos em voz alta um trecho que gostamos ou sentamos pra ler um conto juntos. Isso é uma boa dica pra gente não esquecer de incluir a leitura na nossa rotina: combinar de ler junto e conversar sobre a leitura com as pessoas que moram com você. Um livro que nós três gostamos de ler juntos é o Mais de 100 Histórias Maravilhosas, da Marina Colasanti. Além dos livros de contos e romance em capítulos, nessa quarentena também li alguns livros de estudo e muitos artigos na internet. Afinal, nunca paramos de estudar, estamos sempre aprendendo!

 

E vocês? O quê estão lendo? Estão com dificuldades? Conta pra gente!

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