Quem quer este rinoceronte?

Por Angela Müller de Toledo
Quem não gostaria de ter um bicho de estimação? Muitas crianças têm gatos, cachorros, periquitos, coelhos, tartarugas. Conheço até uma menina que tem uma joaninha de estimação, mas confesso que não tinha pensado na possibilidade de alguém ter um rinoceronte em casa. Nunca tinha pensado nisso até o dia em que li este livro. Adorei a cara do rinoceronte, o jeitão dele e, principalmente, como o bichão pode ser divertido.

Siga o meu conselho: peça um rinoceronte de estimação para seus pais. Se eles não quiserem comprar de jeito nenhum, se ficarem dando desculpa do tipo “no nosso apartamento não cabe, ele come muito, é judiação ter um bicho desses na cidade”, então peça o livro. Você vai se divertir quase o mesmo tanto e até pode colorir o SEU rinoceronte.

SILVERSTEIN, Shel. Quem quer este rinoceronte? Trad. Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

 

 

O tecido dos contos maravilhosos

Por Angela Müller de Toledo

Uma das coisas boas num livro de contos é que você pode ler um por dia, passar para outro conto se o que estiver lendo não for muito interessante, e ler na ordem que der na sua cabeça. Em um livro de contos sempre há aquele que a gente mais gosta.

Pois bem, este livro que indico hoje é tão bom que não consigo dizer qual é o melhor conto. São sete histórias de lugares distantes e todas estão relacionadas a um tipo de tecido. Explico: as histórias falam de personagens que trabalham com tapeçaria ou brocado, de personagens que procuram um tecido encantado protegido por uma serpente de sete cabeças, de personagens que encontram roupas finas dentro da boca de um crocodilo e por aí vai. Cada história tem uma introdução explicando sua origem, como eram feitos os tecidos, qual a importância deles para as pessoas do lugar e esclarece o sentido de algumas palavras ou expressões contidas nos contos.

As ilustrações, como não poderia deixar de ser, são feitas em tecido. A artista usa botões, contas, conchas e bordados para confeccionar um trabalho maravilhoso e cheio de detalhes.
Tudo neste livro contribui para a gente sentir pena quando chega no final.

BATT, Tanya Robyn. O tecido dos contos maravilhosos. Ilust. Rachel Griffin. Trad. Waldéa Barcellos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

O ratinho se veste

Por Angela Müller de Toledo
O ratinho, personagem desta história em quadrinhos, não é nada parecido com os pequenos guardiões que vocês tanto gostam. Ele é menorzinho, quase um ratinho nenê, e a grande aventura para ele é ir ao celeiro com a família comer os restos de aveia dos cavalos ou as sementinhas que as galinhas deixam cair.

Os desenhos também são muito diferentes da série que vocês conhecem, são maiores, mais claros. Nos quadrinhos, assim como nas ilustrações de livros de histórias comuns, o estilo do artista pode variar muito.

Mas o que vale é que, embora diferente, tenho certeza que vocês vão se divertir bastante com esse trapalhão e com a surpresa reservada para o final do livro.

SMITH, Jeff. O ratinho se veste. Trad. Érico Assis. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2010.

 

Halibut Jackson / Senhor casacão

Por Angela Müller de Toledo
Você conhece alguém bem tímido? Alguém que tem vergonha de tudo e de todos? Pois eu conheço algumas pessoas assim e também conheço livros de histórias com personagens assim, super tímidos.

Um dos livros traz a história de Halibut Jackson, menino que só saía de casa bem disfarçado para que ninguém percebesse sua presença. Só que um dia… algo aconteceu.
O outro livro que indico não tem a história de alguém que é tímido, não exatamente, mas tem um personagem que sente muito, muito, mas MUUUUUITO frio. O homenzinho sentia tanto frio que nenhum casaco o aquecia. Não se trata de uma história triste, tem um final feliz porque um fato novo muda tudo na vida do personagem (como em Halibut e como em quase todas as histórias).

As ilustrações das duas obras têm estilos bem diferentes e ambas são bonitas. A primeira é cheia de detalhes e esconde o menino tímido em todas as páginas.  Já as imagens do segundo livro mostram a história de maneira bem engraçada.

Tanto Halibut quanto o Sr. Casacão estão sempre nas rodas de biblioteca e fazem o maior sucesso.

 

LUCAS, David.  Halibut Jackson. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

POSTHUMA, Sieb. Senhor casacão. São Paulo: Martins Fontes, 2007

A espada na pedra

Por Angela Müller de Toledo
O escritor T. H. White nasceu na Índia em 1906, foi educado na Inglaterra e tornou-se mundialmente conhecido graças à sua versão da história do rei Arthur, intitulada O único e eterno rei.  No Brasil a obra foi publicada em cinco volumes, à semelhança da edição original inglesa lançada a partir de 1938. O primeiro livro da série é o que recomendo no momento e chama-se A espada na pedra.

Nesta primeira parte o que se conta é a infância de Arthur, que vivia às margens de uma grande floresta da Velha Inglaterra sob a proteção de Sir Ector, seu padrasto, e tendo o mago Merlin como tutor. O menino era chamado de Wart e não tinha a menor ideia de suas origens, muito menos do que lhe reservava o futuro.

O tom geral deste primeiro volume é de humor, que aparece principalmente na caracterização do mago. Merlin é todo atrapalhado, pois vive de trás pra frente. Isto quer dizer que ele fica mais jovem a cada ano e que conhece o futuro. O bruxo fala com naturalidade sobre coisas que ainda não foram inventadas, como a água encanada, a cirurgia plástica e a psicanálise. O autor abusa dos anacronismos não só através de Merlin, mas o tempo todo. Em determinado momento ele faz surgir no meio da narrativa o personagem Robin Hood, que pertence a outra história e a um momento diferente da literatura inglesa.

Tudo isso causa certa estranheza, mas logo o leitor entra no “clima” e se diverte com as situações absurdas.

T.H. White é o responsável pela popularização da saga do rei Arthur e influenciou grandes escritores como C. S. Lewis em As crônicas de Nárnia e Tolkien em O senhor dos anéis. Não há como negar a grande semelhança entre os magos Merlin e Gandalf, por exemplo.

O livro termina quando morre Uther Pedragon, rei da Inglaterra e verdadeiro pai de Wart, e o rapaz tira a espada da pedra tornando-se rei.

As belíssimas ilustrações de Alan Lee, responsável também pelo universo visual de O senhor dos anéis, enriquecem a leitura dessa história clássica.

 

WHITE, T. H. A espada na pedra. Ilust. Alan Lee. Trad. Maria José Silveira. São Paulo: W11, 2004.

O fazedor de velhos

Por Angela Müller de Toledo
Pedro está em crise, é um jovem de 17 anos, não tem uma auto-imagem muito favorável, sofre por uma grande decepção amorosa e, além de tudo, pensa ter escolhido a faculdade errada.

Uma série de coincidências faz com que seu caminho se cruze com o de um velho professor aposentado chamado Nabuco e, por incrível que pareça, esse encontro é benéfico para os dois.

É claro que o professor não soluciona os problemas de Pedro, mas a amizade mexe com seus sentimentos, transforma seu cotidiano e abre novas perspectivas em sua vida.

Também é claro que Pedro não é uma pessoa acomodada, que espera que as coisas aconteçam por si só, ao contrário, é um personagem que aceita os desafios.

Poucas ilustrações, mas muito delicadas, estão em estreita integração com o texto.

Vale a pena conferir.

 

LACERDA, Rodrigo. O fazedor de velhos. Ilust. Adrianne Gallinari. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

Sandman: noites sem fim

Por Angela Müller de Toledo
Sandman, ou homem-areia, é um personagem originalmente criado por Hans Christian Andersen para a narrativa que no Brasil foi intitulada “O Velho-do-Sono”.

No conto de Andersen, o velho-do-sono sopra areia nos olhos das crianças para fazê-las dormir, é uma espécie de contador de histórias que beneficia as crianças boas com sonhos bons e castiga as más fazendo-as ter um sono pesado e sem sonhos.

O quadrinista inglês Neil Gaiman partiu dessa figura, expandiu a ideia e criou roteiros de histórias em quadrinhos que misturam fantasia, terror e mistério em enredos intrincados e cheios de referências literárias e filosóficas.

Sandman, também chamado de Sonho, ou pelo seu nome grego Morpheus, pertence à família dos Perpétuos e tem seis irmãos: Destino, o mais velho de todos; Morte a personagem mais querida da maioria dos leitores da série; Desejo, uma figura andrógena que Sandman chama de “irmão-irmã”; Desespero; Destruição; e Deleite, a caçula da família, que mais tarde se transformará e será renomeada como Delirium. Cada um desses personagens representa uma condição humana e protagoniza histórias ligadas a esses grandes temas.

Noites sem fim traz sete contos desenhados por sete artistas diferentes, um para cada irmão dos Perpétuos, e é difícil dizer qual é o melhor. Talvez a história preferida seja a primeira, que traz a bela e gótica Morte desenhada por Craig Russell. Ou pode ser que a arte de Miguelanxo Prado, no belíssimo “O coração de uma estrela”, atraia mais a atenção do leitor. No entanto, a história mais impressionante pela beleza plástica e pungência é, sem dúvida, “Quinze retratos de Desespero”, com ilustrações de Barron Storey e design do conhecido Dave McKean. Há uma história inteira em cada quadro e todos os detalhes têm seu valor para a compreensão do todo. São imagens eloquentes que sintetizam com maestria este difícil tema.

Na introdução assinada pelo autor há uma explicação a respeito dos personagens que é bastante esclarecedora: “se este é o seu primeiro encontro com Sandman, é interessante entender que os Perpétuos não são deuses, pois quando as pessoas param de acreditar nos deuses eles deixam de existir. Mas enquanto houver pessoas para viver, sonhar, destruir, desejar, se desesperar, se deleitar ou enlouquecer, viver suas vidas e gostar umas das outras, então existirão os Perpétuos executando suas funções. Eles não se importam nem um pouco se você crê ou não neles.”

Imperdível para aqueles que já gostam do gênero e uma boa oportunidade para os que desejam conhecer uma obra-prima das histórias em quadrinhos.

GAIMAN, Neil. Sandman: noites sem fim. Ilust. Glenn Fabry et al. Trad. Sérgio Codespoti. São Paulo: Conrad, 2003.

Kafka e a boneca viajante

Por Angela Müller de Toledo
O livro que recomendo em seguida é próprio para aqueles que já se encontram a certa distância da infância para melhor apreciá-lo.

O autor cria, a partir de indícios reais, a história do encontro do escritor Franz Kafka e uma menina que perdeu sua boneca. Para acalmá-la de sua tristeza Kafka redige uma série de cartas supostamente mandadas pela boneca à sua dona.

O livro é profundo porque na realidade conta sobre um deprimido e doente escritor diante do desespero genuíno de uma criança desconhecida, e sobre a relação que se estabelece entre eles. Kafka fica encantado com a ingenuidade da menina e, pela primeira vez, inventa uma história com destino certo. Também trata do processo de superação da perda propiciado pelo enredo contido nas cartas.
Enfim, um texto fluido, rápido, encantador.

FABRA, Jordi Sierra i. Kafka e a boneca viajante. Ilust. Pep Montserrat. Trad. Rubia P. Goldoni. São Paulo: Martins, 2008.

O nervo da noite

Por Angela Müller de Toledo
Você quer um conto bem pequeno e lindo? Leia O nervo da noite. Mas aviso: não espere aquela historinha linear, sem dificuldades, com final bem marcadinho e comum. Na verdade, trata-se de um “conto-poema”, uma imagem de adolescente em crescimento, uma ideia de relação com a vida. Mas também não se assuste com esta interpretação, pois dá perfeitamente para entender o texto. É assim que escrevem os grandes autores: temas universais, linguagem trabalhada, leitura que inspira e permanece na mente e no coração.

NOLL, João Gilberto. O nervo da noite. Ilustração Alexandre Matos. São Paulo: Scipione, 2009.

A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour

Por Angela Müller de Toledo
Junho é um dos meses mais emocionantes do ano. Tem festa junina e dia dos namorados. Junho só não é melhor que o mês do aniversário da gente (a não ser que você seja do signo de gêmeos, faça aniversário este mês).

Por isso, primeiro pensei recomendar livros que falam sobre quadrilha, forró, São João ou contos populares, mas depois resolvi que a indicação de leitura de junho vai pela linha do amor.

Mesmo que você não tenha namorada(o), nem entenda muito do assunto, acho que vai gostar do livro sugerido, pois nele também há muitas aventuras e desafios a serem vencidos pelo jovem protagonista.

Embora Pecopin fosse apaixonado por Bauldour e fosse correspondido, ele vai se afastando dela cada vez mais e quando resolve voltar percebe que não será assim tão fácil. Pecopin tem muitos inimigos em seu caminho e todos se disfarçam muito bem para tentar enganá-lo.

Este conto foi o único escrito para jovens pelo famoso autor francês Victor Hugo e as ilustrações também são bem legais, parecem com as de quadrinhos. Vale a pena conferir.

HUGO, Victor. A lenda do belo Pecopin e da bela Bauldour. Adap. Ligia Cademartori. Trad. Joana Canêdo. Ilust. Rui de Oliveira. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2002.