Brinquedos e companhia

Por Marilene Penha Reyes
O autor analisa de modo surpreendente os brinquedos e suas implicações na vida e na cultura das crianças.

Uma reflexão do papel da produção dos brinquedos, suas implicações no universo cultural infantil, mantendo uma distância da crítica à sua indústria e chegando muito perto do lugar que eles ocupam na vida das crianças.

Os brinquedos refletem as mudanças culturais e também permitem o acesso a elas. Gilles nos mostra que eles não se limitam apenas a uma dimensão material, mas possuem significados sociais mais ou menos estáveis. É através deles que podemos compreender melhor o lugar da criança na sociedade. Eles representam antes de tudo, a relação entre o mundo adulto e o mundo das crianças.

Uma análise de grande interesse para pais e educadores. Afinal, sem criança não há brinquedo, é por ela que ele é construído; mas onde estão os adultos que os produzem? Quais as relações destes adultos com o universo infantil?

Vale a pena ler sua análise e ir um pouco mais além da nossa nostalgia em relação aos brinquedos!

BROUGÈRE, GILLES. Brinquedos e companhia. Trad. Maria Alice Sampaio Dória. São Paulo: Cortez, 2004.

Stardust

Por Angela Müller de Toledo
A Vila de Wall tem esse nome porque no seu lado Leste existe um extenso muro de pedras cinzentas que a separa do reino das fadas. Só há uma abertura no muro, guardada por dois homens armados com bastões de madeira. Eles a vigiam para impedir a travessia das crianças do vilarejo ou de algum adulto distraído.

No entanto, uma vez a cada 9 anos, no festival da primavera, uma feira se instala na pradaria do lado de lá do muro. Nessa ocasião abre-se a passagem entre os dois mundos para o livre comércio e ambos os lados ficam lotados de forasteiros. No mercado das fadas vende-se de tudo: tecidos, flores, instrumentos musicais, sonhos engarrafados, camadas de crepúsculo, varinhas de poder, olhos de todos os tipos e cores, cremes, poções, comidas e bebidas.

A primeira frase desta fascinante obra já a inclui no tipo de narrativa na qual a fantasia e o imaginário norteiam o enredo:  “Certa vez, existiu um jovem que queria conquistar o Desejo de Seu Coração”.

A história tem um eixo central e vários episódios paralelos que se desenvolvem de maneira independente juntando-se no final. É um conto de fadas para jovens e adultos com características que lembram as aventuras de RPG (Role-playing games).  Há nela humor, romance e suspense, é rica em descrições detalhadas de paisagens, os valores são explícitos através das falas e comportamentos dos personagens, além, é claro, de muita aventura e magia.

As ilustrações são requintadas, oníricas. A dupla Neil Gaiman e Charles Vess é bastante conhecida dos apaixonados por quadrinhos. Fizeram juntos “Sonhos de uma noite de verão”, episódio premiado da série “Sandman”.

GAIMAN, Neil. Stardust. Ilust. Charles Vess. Trad. Ana Ban Pedroso. São Paulo: Conrad, 2001.

O dom da história: uma fábula sobre o que é suficiente.

Por Marilene Penha Reyes
Autora de grandes obras como: “As mulheres que correm com os lobos” e “O jardineiro que tinha fé”, ganhadora de importantes prêmios literários como: Keeper of the Lore, ou ainda: Las Primeras, de Mana, da fundação Latino Nacional em Washington.

Clarissa vem demonstrar que a sequência de histórias proporciona um insight mais mplo e mais profundo do que uma história única. Uma puxa a outra, ou melhor, uma se encaixa na outra, numa alusão às bonecas Matrióchka.

Para quem aprecia boas histórias, este livro certamente vai proporcionar bons momentos e boas referências de outras histórias para além desta, como um despertar para o dom que todos têm: de viver o que é suficiente para sua própria vida.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. O dom da história: uma fábula sobre o que é suficiente. Trad. Waldea Barcellos.  Rio de Janeiro: Rocco.

Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil

Por Angela Müller de Toledo
Esta indicação de leitura é, na verdade, uma sugestão para consultas.

Trata-se da Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil publicada pelo Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

A publicação relaciona os lançamentos anuais de obras literárias feitas para crianças e jovens, apresentando resenhas críticas para aquelas que se destacaram pela qualidade dentro da produção. As resenhas são elaboradas por uma equipe de especialistas.

A bibliografia é um instrumento de grande ajuda aos mediadores de leitura em geral, já que a produção editorial é muito grande e heterogênea. Ela possui vários índices para facilitar a consulta, inclusive um de faixa etária/competência de leitura.

A bibliografia pode ser consultada nas bibliotecas das duas unidades da Escola da Vila ou em todas as bibliotecas municipais de São Paulo.

Manolito

Por Angela Müller de Toledo

      

Apesar de muitos alunos negarem, aposto que a volta às aulas é sempre uma grande alegria. Rever os amigos, conhecer gente nova, saber das novidades da galera e, aos poucos, conhecer mais uma porção de coisas sobre o mundo em que vivemos e seus habitantes, principalmente o Homem. Porque, resumindo, todas as matérias dos currículos nos contam como funciona a natureza e o que pensam, imaginam, projetam e fazem os homens e mulheres “desde que o mundo é mundo”.

Alguém que diz que detesta ter que voltar ao colégio depois das férias é Manolito, um menino espanhol de nove anos, protagonista de uma série de histórias muito divertidas. O primeiro livro chama-se justamente Manolito, e é a melhor forma de você começar a conhecer este personagem, sua família e amigos. Depois vem o título Super Manolito em que ele conta várias passagens engraçadas do seu cotidiano e uma triste: ficou de recuperação em matemática. Por causa disso, suas férias de verão foram seriamente comprometidas. O que aconteceu nesse período você vai saber lendo Manolito é demais!.

Há outros volumes na coleção, mas nesses três primeiros o leitor já pode perceber que apesar de Manolito encontrar dificuldades na escola, ele as supera com a ajuda da família e por ser um menino inteligente, observador, criativo e, acima de tudo, de muito bom humor.

LINDO, Elvira. Manolito. Trad. Mônica Stahel. Ilustrações Emílio Urberuaga. São Paulo: Martins fontes, 1999.

LINDO, Elvira. Manolito é demais!. Trad. Mônica Stahel. Ilustrações Emílio Urberuaga. São Paulo: Martins fontes, 2002.

LINDO, Elvira. Super Manolito. Trad. Mônica Stahel. Ilustrações Emílio Urberuaga. São Paulo: Martins fontes, 2001

Louise, as aventuras de uma galinha

Por Angela Müller de Toledo
Conheço muitas histórias de galinhas, mas esta é uma das que mais gosto.

Louise é uma galinha que sai pelo mundo em busca de aventuras. Cada capítulo deste livro conta sobre as peripécias de Louise em alto mar, no circo e em um país distante.

As ilustrações são grandes e coloridas, ocupam a página inteira dando a impressão que a paisagem vai escapar das margens do livro.

Não vou contar o final, mas tenho certeza que você que me conhece vai adivinhar porque esta é uma das minhas histórias preferidas. Espero que você também goste.

DiCAMILLO, Kate. Louise, as aventuras de uma galinha. Ilust. Harry Bliss. Trad. Luzia Aparecida dos Santos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

As três irmãs

Por Paula Lisboa
Ao longo de sua obra, Tchekhov retratou como ninguém a tragédia do trivial, o drama permanente da vida cotidiana, mostrando aos homens o terrível caos de sua existência passageira e sem importância, explorando a realidade burguesa e expressando sua preocupação com a inação da classe média provinciana. Preocupado em mostrar o drama da trivialidade, Tchekhov nos apresenta uma sucessão de quadros registrando acontecimentos da vida de suas personagens, sem se preocupar com a construção dramática tradicional, segundo a qual deve haver o desenvolvimento de uma ação até seu clímax e desfecho. O autor sequer estabelece um conflito declarado, apresentando apenas as diferentes impressões das personagens, em que muita coisa fica apenas nas entrelinhas, ou melhor, no subtexto que deve preencher o silêncio. E o silêncio, longe de ser apenas um detalhe, é um elemento fundamental nas peças de Tchekhov, muitas vezes mais significativo que as próprias palavras.

O enredo de As três irmãs é muito simples, basicamente girando em torno da vida de três irmãs que sonham em voltar para Moscou, de onde têm lembranças felizes da infância. Com o decorrer da peça, a inação da vida provinciana e a inércia que toma conta de seu cotidiano acabam por impedir qualquer tentativa de realização desse projeto. Durante toda a trama, as irmãs, seu irmão e a cunhada, além de alguns oficiais militares que frequentam a casa conversam para passar o tempo, discursando banalidades aparentemente superficiais. No entanto, o subtexto sustenta a força do diálogo de Tchekhov, que escolhe as palavras e constrói suas frases de modo a deixar sob máscaras o verdadeiro sentido de suas falas. As personagens põem em discussão a razão da existência humana, mas com todo o cuidado do autor de não cair em nenhuma “pregação ideológica”.

Ao fim da leitura de um enredo tão simples, é incrível constatar que nossos olhos se enchem de lágrimas. O envolvimento com a vida dessas personagens é inevitável, tamanha humanidade e fragilidade com que são traçadas. Sentimos a impotência do ser humano diante do rumo de sua própria vida. E não se trata de uma impossibilidade de ação necessariamente imposta por um regime político rigoroso ou por uma sociedade sufocante, a inação é quase que opção de vida de todos eles, que não vivem, mas deixam-se viver, entregando-se mais e mais à inércia, como se fossem levados pela correnteza de um rio. É uma peça triste, onde as personagens dão pequenas “dicas” de seus maiores desejos, mas não têm coragem e força de vontade de realizá-los. Apenas sabem que “É preciso viver”.

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs. Trad.: Clara Gourianova. São Paulo: Peixoto Neto.

As boas mulheres da China

Por Eliana Scavarelli Arnoldi
No momento em que nossos olhos se voltam cada vez mais para a gigante China, este livro nos dá a oportunidade de conhecer o peculiar tratamento que este país dispensou às suas mulheres durante os anos da Revolução Cultural.

O livro é fruto de inúmeros relatos coletados por uma jornalista chinesa, Xinran, durante os dez anos em que essa esteve à frente do programa de rádio Palavras na Brisa Noturna, uma espécie de oásis dentro da tão fechada mídia chinesa, no qual as pessoas podiam falar de seus problemas pessoais.

As histórias têm como protagonistas mulheres que devido ao peso das tradições e dos anos de totalitarismo e repressão sofreram os mais diversos tipos de violência e humilhação. São histórias como as de Jingyi que foi separada de seu amado pela Revolução Cultural e o procurou por 45 anos; a de Yang que viu a morte de sua filha durar 14 lentos dias após um terremoto e que hoje cuida de um orfanato que abriga crianças cujos pais morreram no mesmo abalo sísmico; e a de uma mulher cujo casamento foi arranjado pelo Partido Comunista.

Escritas em uma linguagem agradável e fácil, as histórias prendem a atenção do leitor a cada página graças à profundidade e sensibilidade do estilo da autora. O livro nos revela situações inimagináveis, chocantes e comoventes que aconteceram, e talvez ainda aconteçam, no gigante asiático.

XINRAN. As boas mulheres da China. Companhia das Letras, 2007.

Marcas de nascença

Por Maria Eugênia Kira (Tucha)

Marcas de Nascença é um romance da escritora canadense, radicada na França, Nancy Houston, vencedor do Prêmio Femina. O livro conta a história de uma família de origem judaica de modo bem humorado e ao mesmo tempo muito comovente. Esta obra tem quatro narradores e vários assuntos abordados ao longo da narrativa: a educação infantil, a violência, o exílio, a força da memória, os legados familiares, as experiências traumáticas e as conseqüências do silêncio e da vergonha. Vale a pena ler!

HUSTON, Nancy. Marcas de nascença. Trad. Ilana Heineberg. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Eric Clapton: a autobiografia

Por Cristina Di Cianni
O percurso profissional do guitarrista Eric Clapton é entretecido por sua história pessoal. E de sua trajetória também faz parte a narrativa de outros grandes nomes do rock.

Para além dos acontecimentos da história musical, Eric Clapton nos oferece o que tem de mais caro: um mergulho profundo e consciente na construção de sua identidade. E é na identidade que as transformações têm origem.

Com delicadeza, somos convidados a olhar para a persona pública sem deixar de refletir sobre suas sutilezas… que muito bem poderiam ser as nossas.

CLAPTON, Eric. Eric Clapton: a autobiografia. São Paulo: Planeta, 2007