O sorteio da morte

Por Angela Müller de Toledo
Esta é a história de um homem comum, em plena saúde e bastante apegado à vida, que tem sua morte anunciada.

O portador da má notícia é um “recolhedor de almas”, um diabo não graduado incumbido por seus superiores de entregar um “prêmio” ao infeliz.

Dentre todos os que vão morrer, uma pessoa é sorteada para desfrutar seus últimos momentos da maneira que quiser, podendo pedir qualquer coisa.

No início o diabo precisa convencer o sorteado de que fala a verdade e usa todas as suas habilidades para isso. Descreve em detalhes a vida presente e passada do homem, atravessa paredes, desmaterializa-se, transforma água em enxofre e persegue Jean Trumel por todos os lugares tentando-o com prazeres de toda ordem: fama, glória, fortuna, mulheres, poder, felicidade, tudo. O diabo é um tremendo chato e isso torna a narrativa muito cômica.

Trumel, por sua vez, passa por vários sentimentos ao longo da narrativa: incredulidade debochada, incredulidade desconfiada, clareza súbita, raiva, desespero, revolta, até chegar à determinação de não se entregar, de sabotar os planos da morte.

Trata-se de um texto ágil, de humor ácido, com enredo inteligente que vai crescendo em dramaticidade e que, ao mesmo tempo, propõe uma reflexão sobre a vida e a morte.

Imperdível.

KEMOUN, Hubert Ben. O sorteio da morte. Trad. Carlos Sussekind. São Paulo: Cia das Letras, 2001.