Ação de letramento na Educação Infantil – NAA Semana da Consciência Negra

 

Por Paula Lisboa

Dia 25 de novembro estive com as turmas do Infantil 1CB e Infantil 2BB para fazer a leitura do livro Benedito, de Josias Marinho (Ed. Caramelo), como parte da programação de letramento racial promovida pelo Núcleo de Ações Antirracistas de famílias da Vila. 

Optei por não contextualizar para as crianças a leitura como sendo parte da programação da Semana da Consciência Negra. Começamos sentados em roda e contei a história do meu nome, que ganhei em homenagem ao meu avô. Assim, introduzimos a ideia de família e ancestralidade, dizendo que carregamos em nós um pouquinho de cada um e cada uma da nossa família que veio antes da gente.

Iniciei a leitura do livro projetado no telão a partir da dedicatória com Vivas a São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia. Cantei a abertura de um congo e contei que essa é uma festa onde tem tambor. 

Eis que o Benedito encontra um tambor, o que ele sente? 

“Vontade de tocar!”

“Eu acho que ele está se lembrando de alguém da família dele que tinha um tambor.”

“Ele está de olho no tambor, e com mais vontade ainda de tocar.”

“Ele tá encarando o tambor pra criar coragem de pegar!”

Nas próximas páginas Benedito se aproxima e as ideias continuam: “Eu acho que ele já encontrou a festa, mas pra entrar precisa ter um instrumento!” e conforme as páginas avançam, algumas crianças acharam que Benedito estava crescendo, ficando mais velho. Também sugeriram que ele se concentrou para conseguir levantar o tambor e andar com ele para outro lugar.

Quando Benedito se arrisca a tocar o tambor, bolinhas azuis surgem na página, e as crianças levantam ideias sobre o que elas podem ser: “eu acho que ta soltando a tinta do tambor” ou “será que são fogos da festa?”. Até que alguém organiza as tantas ideias lançadas dizendo: “Já sei, são os barulhos que o tambor fez!” e seguem “Quando ele toca o instrumento, saem as bolinhas.”, “Já que a gente não consegue ouvir nada, a gente consegue ver!”.

Quando Benedito começa seu processo de escurecimento, as crianças se deparam com o enigma do menino sendo “pintado” de preto. Pensaram que ele devia estar pintado de branco, tomou chuva e a tinta saiu; ou que as bolinhas do som do tambor são de tinta e estão pintando ele… “Enquanto tocou tambor, começou a chover.” As páginas vão passando e Benedito está cada vez mais preto, até que uma mão entrega pra ele mais um instrumento musical. “A pessoa que deu pra ele também tá com a mão, é…” é difícil pra criança dizer que ele tem a mão preta, eu ajudo confirmando: “tem a mão preta, né?”

E prontamente concluem: “Ah deve ser o pai!”, “Ou a mãe”, “Pode ser o vô…” 

“Ei, pode ser que ele só se pintou de branco e aí a cor dele de verdade apareceu.” 

“A família dele é preta!”

“Então não era tinta?”

A cor está definida, Benedito é um menino negro. Ao que uma garotinha branca de mão levantada há tempos esperando pra falar, finalmente ganha a palavra e diz:

“Ele pode ter se esquecido da cor, aí quando ele começa a tocar o tambor, ele foi descobrindo a cor dele!”

Possivelmente ela chegou a essa ideia fazendo relação com o livro A Menina Que Nasceu Sem Cor (um livro de Midria; ilustrado por Ana Teixeira. Ed. Jandaíra), lido pela professora na semana anterior e lembrado por ela durante a leitura. E assim fica evidente a importância de serem feitas várias leituras que se relacionam e reforçam as ideias levantadas.

Ao final do livro mais uma dúvida surge: ele ganha uma saia e veste a saia, então ele deve ser uma menina! Rapidamente diversas vozes protestam: “mas menino também pode usar saia!” e “Menino ou menina pode usar o que quiser!”.

Lembro de voltar ao livro. Afinal, como se chama essa história mesmo? “Benedito”. Se esse é o nome dele, então é mesmo um menino. 

E agora vou mostrar pra vocês que não é só ele que usa saia nessa festa chamada Congada, onde dá pra ver que a maioria das pessoas também é negra, como o Benedito, e todos vestem saia, alguns tocam tambor, outros trazem o chocalho na canela, como no livro.

Conto pras crianças que essa é uma festa para coroar os reis do Congo, um reino africano. Conto que foram os negros que criaram essa festa, com ideias trazidas da África e reinventadas no Brasil. Mostro as imagens do Rei e da Rainha sendo coroados em festa e procissão, mostro também o autor do livro, um homem negro. Então uma criança grita com convicção:

“É por isso que os negros são importantes!” 

As crianças dançam imitando os brincantes do vídeo de congada.

Seguimos plantando sementinhas e regando as mudas. 

 

CONTOS COM REPETIÇÃO

Por Paula Lisboa

Quando observamos as estruturas das histórias tradicionais, ou seja, a forma como a narrativa dessas histórias é organizada, podemos identificar com muita frequência contos com repetição de diferentes tipos. Pode ser uma fala que se repete, ou algum evento ou ainda uma ação. Os chamados contos com repetição se caracterizam por apresentar uma estrutura que contém sequências recorrentes, que se repetem ao longo da trama.

Um exemplo de conto de repetição que é bem conhecido e muito adorado pelas crianças é o Caso do Bolinho, aposto que você conhece! A versão que mais circula é essa da Tatiana Belinky, com diferentes ilustrações em cada edição, mas o reconto é o mesmo.

O Caso do Bolinho |O Caso Do Bolinho - Coleção Hora Da Fantasia (Em Portuguese do Brasil): Tatiana Belinky: 9788516041328: Amazon.com: Books

 

Entre os contos tradicionais, é muito comum encontrarmos diferentes versões de uma mesma história, que trazem variações em função da região de origem e da forma como cada pessoa reconta. Vou apresentar pra vocês outra história muito semelhante ao Caso do Bolinho, recontada pela Linda Rode, no livro Na Terra do Nunca Jamais. 

“Rola, pãozinho, rola”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em um dia frio e nevoento, uma mulher fez três pãezinhos redondos para o marido, que ficaria no campo o dia todo, carpindo um lote de terra. A mulher pôs os três pãezinhos em um prato para que esfriassem. O maior e o médio repousaram tranquilos e fumegantes no prato. Mas o menor deles, tostadinho de dar água na boca, remexeu-se e agitou-se até ficar de pé. Rolou para fora do prato, saiu pela porta e desceu girando e rodando pela encosta da colina onde ficava a pequena casa.

-Ninguém vai me comer! – ria ele, com sua risada rouca de pãozinho. – Eeeeeeee! Estou livre, livre, liiiivre!

Mas, ah, não!, no pé da colina, o pãozinho chegou à margem de um rio largo e agitado. E agora? Como chegar ao outro lado? Os juncos que cresciam à margem suspiraram e sussurraram, e no meio deles uma raposa ruiva mostrou a ponta de seu tocinho preto.

-Ah, pobre pãozinho – disse a raposa, lambendo os lábios com sua longa língua cor-de-rosa. – Vejo que está com um problema. Mas eu posso levá-lo até o outro lado.

-Não, não, obrigado – respondeu o pãozinho, com sua vozinha rouca. Você quer me comer, eu sei.

-De jeito nenhum! – protestou a raposa. – Sente-se na ponta da minha cauda, onde ficará seguro, e eu o levarei para o outro lado.

O pãozinho rolou para cá, rolou para lá e então disse:

-Está bem. Assim parece seguro. – Ele pulou para a ponta da cauda da raposa, e a raposa entrou na água.

Logo o rio ficou mais fundo. A raposa começou a nadar e disse:

-Venha para minhas costas, pãozinho, ou ficará molhado.

E o pãozinho rolou para as costas da raposa.

-Venha para meu pescoço, pãozinho, a água está ficando muito funda. Na metade do caminho, a raposa falou:

E o pãozinho rolou para o pescoço da raposa. A três quartos do caminho, a raposa disse:

-Venha para a ponta do meu focinho, pãozinho, ou você vai se encharcar!

Ainda acreditando que estava seguro, o pãozinho, tostadinho de dar água na boca, rolou para a ponta do focinho preto da raposa. Vuup. A raposa balançou o focinho no ar, apanhou o pãozinho na descida e crunch-crunch, comeu-o sem cerimônia.

Rindo de satistação, virou-se e nadou de volta.

Esse é um exemplo de repetição de fala e de ação, quando uma mesma sequência de fala e ação se repete, com uma pequena mudança a cada vez. Outra forma de repetição são as situações que se justapõem, que vão se somando em sequência, como quando um ou mais personagens realizam ações sucessivas que se repetem, podendo ser de acumulação – daí as histórias acumulativas -, ou de subtração – como os tangolomangos.

Os contos acumulativos são muito comuns nas Américas e em Portugal, mas aparecem no folclore de diversas partes do mundo.  Muitos contos desse gênero e em diferentes versões já foram recolhidos no Brasil por vários autores, em muitos casos de origem portuguesa, espanhola ou africana, com acréscimos e alterações locais.

No mesmo livro já citado, a compiladora de contos Linda Rode conta uma história que é um bom exemplo de conto acumulativo, onde as situações vão se justapondo, se somando sucessivamente.

“Piggy-Wiggy vem do mercado”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em uma região na África, onde cacaueiros e bananeiras crescem altos e viçosos, certo dia um menino foi ao mercado. Seu nome era Kofi. Sua mãe lhe deu dinheiro, um punhado de amendoins para comer pelo caminho e lhe disse para comprar um porco.

Kofi escolheu um porco pequeno e gordo. Ele assobiava enquanto voltava com seu porquinho. Porém, antes de chegar em casa, havia um rio para atravessar. Piggy-Wiggy empacou.

-Oinc, óinc- grunhiu ele., -Não vou entrar na água.

Kofi pediu:

-Por favor, Piggy-Wiggy, não se negue a se molhar,

Ou a gente não chega até a hora de deitar.

Mas Piggy não quis entrar na água.
Koi caminhou pela margem do rio. Viu um cachorro e disse:
-Cachorro, Cachorro, por favor, morda o Porco.
O Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Cachorro não quis morder o porco.
Kofi continuou andando. Ele viu uma vareta e disse:
-Vareta, Vareta, por favor, bata no Cachorro.
O Cachoro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Vareta não quis bater no Cachorro.
Koi andou um pouco mais pela margem do rio. Ele viu um fogo aceso e disse:
– Fogo, Fogo, por favor, queime a Vareta.
A Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu no vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Fogo não quis queimar a Vareta.
Então, Kofi falou com a água do rio:
-Água, Água, por favor, apague o Fogo.
O Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Água não quis apagar o Fogo.
Kofi viu, então, uma enorme cobra enrolada entre os juncos e disse:
-Cobra, Cobra, por favor, beba a Água.
A Água não quer apagar o Fogo,
o Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
-SSsSssim – sibilou a enorme cobra, -Essstou messsmo sssedenta. Bassstam algunsss golesss, e o rio ssserá terra barrenta.
E a Cobra começou a beber a Água. Sssip, sssip, sssip…
A água ficou com medo e apagou o Fogo.
O Fogo queimou a Vareta.
A Vareta bateu no Cachorr0.
O Cachorro mordeu o Porco.
O Porco atravessou o rio, splish-splash-splosh!
E Kofi chegou à sua casa antes da hora de deitar, com Piggy-Wiggy trotando na frente.
-Muito bem, Kofi -disse sua mãe, antes de lhe servir mandiocas cozidas bem molinhas para o jantar.
E quem quiser ler ou ouvir mais exemplos de contos com repetição, aqui vão algumas dicas disponíveis na internet.

A história da pimenta: uma das muitas variações da história do macaco que perdeu a banana

Doze contos acumulativos: doze exemplos de contos acumulativos transcritos

Malaquias, o macaco cismado: outra versão do macaco que perde alguma coisa, áudio 

Baú de Histórias – Coca Recoca : vídeo de conto com repetição, com música

Baú de Histórias – A Velha a fiar: vídeo da música cantada, com narrativa acumulativa

Livros que conversam sobre agressividade e afins

por Paula Lisboa

É verdade que ler é bom por si só, independente de tema a ser trabalhado, ou objetivo a ser alcançado. Ler é gostoso e traz uma série de benefícios pra gente, sempre! Uma leitura também traz possibilidades de conversas, e pode ser gatilho disparador de muita reflexão tanto interna quanto compartilhada.

Levantei alguns títulos que acho especialmente interessantes quando queremos refletir sobre a agressividade existente em nós e nas relações. Se você lembrar de outros livros em torno do tema, compartilhe nos comentários! 

As garras do leopardo / Chinua Achebe com John Iroaganachi ; ilustrações de Mary GrandPré ; tradução de Érico Assis. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p.

No começo, todos os bichos eram amigos. Eles não tinham garras nem dentes afiados, nem mesmo o rei, o bondoso leopardo. A única exceção era o cachorro, que, com seus caninos pontudos, era motivo de gozação entre os animais. Certo dia, o cão, cheio de rancor, resolveu usar o que tinha de diferente para enfrentar o rei leopardo e se tornar o bicho mais poderoso da selva. E foi assim, a dentadas, que ele derrotou o grande líder, mandando-o para bem longe. Mas o leopardo logo retornaria. Dotado de um rugido ainda mais forte, de garras afiadas e dentes reluzentes, o antigo rei voltou para fazer justiça – e, a partir daí, a vida na selva nunca mais seria a mesma. 

Neste conto o escritor nigeriano Chinua Achebe fala de libertação e justiça, referindo-se ao doloroso processo de colonização de um povo. Podemos também encaminhar a reflexão sobre a ideia do uso da força bruta para exercer autoridade. Tem um interessante distanciamento que os contos populares proporcionam – refletir sobre um comportamento humano a partir de uma situação entre animais.

Pinote, o fracote e Janjão, o fortão / Fernanda Lopes de Almeida ; ilustrações de Alcy Linares. São Paulo: Ática, 2006. 32 p.

Janjão era o valentão da turma e nem imaginava que um menino pequeno como Pinote fosse capaz de derrotá-lo. Como era o mais forte, Janjão obrigava todos a fazerem o que ele quisesse, mas não contava com a possibilidade de não poder controlar o pensamento!

A força bruta parecia eficiente para controlar os amigos por um tempo, até Janjão perceber que não há força capaz de controlar o pensamento – e também os sentimentos – dos outros.  

Marilu / Eva Furnari. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 31 p.

Marilu achava tudo chato e sem graça – as nuvens bobas, as montanhas cinzas. Andava sempre aborrecida em seu mundo monótono e sem cor, até que, certo dia, viu uma garota carregando uma inacreditável lanterna multicolorida. Decidida a comprar uma igual, foi em busca da loja vermelha que a garota lhe indicara. Qual não foi sua surpresa, porém, quando depois de comprado o brinquedo começou a ficar cinza. Voltou à loja decidida a protestar, gritar e espernear, mas isso não resolveria o problema, que afinal não estava nas coisas, mas em sua maneira de olhar.

Uma ótima história sobre olhar o mundo com bom humor e assim ser mais feliz. Não adianta querer conquistar as cores da vida com raiva e xilique, mas sim a alegria interior, um modo de ver o mundo.

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Nós / Eva Furnari. São Paulo: Moderna, 2015. 31 p.

Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Os moradores da cidade a ridicularizavam e Mel sofria muito. Como se não bastassem as borboletas, um dia descobriu um nó no dedinho do pé. Depois, mais outro no dedo da mão, e mais outros, por isso Mel resolve ir embora. Do outro lado do rio, encontrou Kiko, um garoto também cheio de nós que a ensinou a desfazer nó de nariz, e ela dividiu com ele as borboletas.

Olhando pra menina Mel podemos sentir a tristeza causada pela falta de aceitação e o despropósito do ato de ridicularizar outras pessoas.

 

 

A ponte / Heinz Janisch ; ilustrações de Helga Bansch ; tradução de José Feres Sabino. São Paulo: Brinque-Book, 2012. 27 p.

O rio e a ponte que o atravessa guardam muitas histórias. Certo dia, um urso e um gigante topam um com o outro no meio da longa e estreita ponte. Nenhum deles aceita recuar, nenhum quer arredar o pé, mas não podem passar ao mesmo tempo. Como será que os grandalhões chegarão aos seus respectivos destinos?

Dois brutalhões diante de um problema que não dá pra ser resolvido na marra, na força bruta, na agressividade. Eles precisam baixar a bola para solucionar a questão. Juntos, conseguem encontrar uma forma até um pouco afetuosa para isso!

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Tonico, o invisível / Gianni Rodari ; ilustrações, Alessandro Sanna ; tradução, Franscico Degani.. São Paulo: Biruta, 2011. 30 p.

Tonico percebeu que estava invisível. Depois disso, fez muita confusão, trapalhada e descoberta. O que parecia ser muito bom – ficar invisível – significava também não ser visto por ninguém, mesmo quando queria um abraço, um bate-papo, uma brincadeira… Além de divertir, o livro do premiado autor Gianni Rodari leva à reflexão sobre as relações sociais cotidianas e pode provocar discussões muito interessantes: se você estivesse invisível, o que você faria? Parece legal provocar os outros e não levar nenhuma bronca, já que está invisível, mas e na hora de ir brincar com os amigos, também vai ser bom estar invisível? É preciso ser invisível para provocar as outras pessoas? Provocar os outros pode ser uma forma de se mostrar pra quem não está querendo te ver? Como você sentiria se de repente ninguém te visse? Por que ninguém vê o velhinho, ele também é invisível? 

Ninguém vai ficar bravo? / Toon Tellegen, Marc Boutavant ; tradução Patricia Broers Lehmann. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 82 p.

Em 12 capítulos curtos, vemos diversos animais zangados e irritados, em diferentes circunstâncias. Alguns tentam entender sua raiva, outros tentam controlá-la, e outros, ainda, deixam-se dominar por ela. São histórias engraçadas e incomuns, mas que também propiciam uma reflexão profunda sobre a natureza das emoções humanas.

Um livro incrível que provoca muita conversa sobre as nossas emoções. 

 

 

Três ursos / Cliff Wright ; tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 2008. 32 p.

Sem poder sair de casa por causa da pata quebrada, Urso Marrom está muito preocupado. Seus amigos, Urso Negro e Urso Branco estão se divertindo sem ele – mas na verdade eles estão preparando uma linda surpresa para o Urso Marrom. 

É interessante observar “de fora” a braveza do Urso Marrom, porque a gente sabe que ele não tem motivo pra ficar bravo. Lendo a história conseguimos perceber que ele não precisava se exaltar, mas as emoções podem ser difíceis de controlar… Quem nunca ficou muito bravo porque tinha alguma certeza e depois descobriu que não era nada daquilo?

“Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?”

Por Paula Lisboa

Sabemos que uma rotina bem estruturada é importante para organizar as crianças internamente, e por isso a família toda se esforça para garantir uma programação semanal bem definida: de segunda à sexta as crianças vão pra escola e o final de semana costuma ser dedicado ao lazer, com passeios, encontros sociais e familiares.

Ilustração de Anna Cunha

Eis que de repente da noite pro dia tudo mudou: a escola fechou, não podemos ver os amigos, nem pensar em ir na casa da vó ou do vô. Não dá pra passear por aí sem usar máscara, nem podemos ir ao cinema ou comer num restaurante. Todos fomos impactados, mas para alguns o impacto pode ser ainda maior, pois a medida simplesmente aparece pronta, sem qualquer participação nos eventos que a precederam. Crianças pequenas, e crianças e adolescentes do espectro autista merecem de nós uma dedicação para que ajudá-los a compreender um pouco o que está se passando.

Com esse intuito, ainda no mês de março foi elaborada uma carta pelo Fórum Mineiro de Educação Infantil da FAE/UFMG e o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil e Infâncias – NEPEI, da Faculdade de Educação da UFMG, a Carta às meninas e aos meninos em tempos de Covid-19.

Ilustração de Raquel Matsushita

Ricamente ilustrada por 11 artistas da literatura para a infância, pode-se dizer que o resultado é uma obra de arte. O texto, de autoria de Mônica Correia Baptista, foi inspirado na Carta para los niños y niñas en este momento de crisis, de Carla infanta e Isídora Lobo.

Iniciando a carta com a proposta de “Vamos conversar sobre o que está acontecendo no planeta?” essa pode ser uma ótima leitura para todas as famílias realizarem juntas enquanto estão em casa.

Acesse pelo Instagram: instagram.com/criancasdobrasil
Acesse pelo Issuu: bit.ly/CartaCriançasCovid-19
Baixe o PDF: bit.ly/downloadCartaCrianças

Outras duas produções merecem ser divulgadas nesse momento, focadas especificamente na conscientização e reflexão sobre o autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA), elaboradas pelo Laboratório de Terapia Ocupacional e Saúde Mental.

O primeiro material visa criar uma rede de solidariedade, como parte de um movimento de conscientização do autismo. Traz informações sobre o transtorno e convida à reflexão sobre as particularidades das famílias de crianças e adolescentes com autismo, em meio ao cenário atual. O segundo material é destinado a essas famílias e traz orientações que podem contribuir para o melhor enfrentamento da situação.

É possível acessar ambos os materiais direto na página no Facebook do Laboratório.

E por fim, mas não menos interessante, temos a produção da editora inglesa Nosy Crow, traduzida e também distribuída gratuitamente no Brasil pela editora Brinque-Book, chamada Coronavírus – um livro para crianças.

Em uma produção que juntou especialistas em saúde, profissionais da educação e as divertidas ilustrações de Axel Scheffler, o livro traz explicações simples e diretas a respeito do coronavírus e seu impacto na saúde e no dia a dia de todos nós. As crianças certamente irão reconhecer os traços dos desenhos de Axel Scheffler, ilustrador de livros como O Grúfalo, Macaco Danado, entre outros.

A obra pode ser acessada online ou baixada no computador através do site da editora.

Livro velho, livro novo: livro!

por Paula Lisboa

Agora que estamos em casa sem poder aproveitar a biblioteca pra trocar e indicar livros, a gente tem se virado como pode, aproveitando toda a tecnologia que temos à nossa disposição: fazendo leituras ou indicações de leitura em vídeo, lives com contação de histórias, baixando livros disponíveis em PDF ou aproveitando as opções em e-books.

E justamente nesse momento eu encontrei na minha casa uma coisa linda, uma preciosidade: um livro antigo de quando eu era bem pequena, um livro que eu e minhas irmãs gostávamos tanto, lemos tanto, que ele até ficou destruído, a capa dura caiu e a tentativa de remendo não foi muito bem sucedida. Mas o mais legal é que esse mesmo livro foi reeditado recentemente e distribuído por uma campanha bem feita de leituras de qualidade, de forma que muitas crianças hoje também o conhecem!

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1979 pela editora Berlendis & Vertecchia

Se eu disser pra vocês que esse aqui é o “meu” Chapeuzinho Amarelo, acreditem: ele conta exatamente a mesma história do Chapeuzinho Amarelo que vocês conhecem! O texto é o mesmo, escrito pelo Chico Buarque. A diferença é que o livro que eu tinha quando era criança foi feito pela editora Berlendis & Vertecchia em 1979, numa época em que estavam começando a lançar livros escritos e ilustrados especialmente para as crianças. Esse foi um dos primeiros livros lançados pela editora, no mesmo ano de sua fundação e foi a própria fundadora da editora, a designer gráfica Donatella Berlendis, que fez as ilustrações. Mas ao invés de estar escrito que ela fez as “ilustrações”, está escrito que ela fez o “planejamento gráfico” do livro, ou seja, tanto os desenhos como a forma como eles são dispostos nas páginas e a relação com o texto. Isso tudo era uma grande novidade naquela época e logo o livro ganhou indicação de Altamente Recomendável para Crianças e foi um sucesso.

Chapeuzinho Amarelo publicado em 1997 com ilustrações de Ziraldo

Só 18 anos depois, em 1997, foi lançado o mesmo texto do Chico Buarque dessa vez feito por outra editora e com desenhos de outro ilustrador. Agora a editora passou a ser a José Olympio e quem ilustrou a história foi o Ziraldo, autor e ilustrador que já tinha bastante reconhecimento por seu trabalho naquela época. Essa é a versão da Chapeuzinho Amarelo que a maioria de vocês conhece.

A história pode ser a mesma, mas pra mim é muito mais gostoso ler o livro que eu lia quando era pequena, pois é como se eu enxergasse o livro com olhos de criança. Além das ilustrações terem estilos bem diferentes – a ponto de muita gente se debruçar a estudar e escrever trabalhos de pesquisa comparando as duas versões -, pra mim a maior diferença está mesmo na memória afetiva, na lembrança carinhosa.

E nesse momento eu confirmo: não tem e-book, PDF ou vídeo de história que seja capaz de substituir a relação tão especial que temos com um livro em papel, que depois de virado tantas vezes pelas mãos ágeis da criança pode até rasgar, mas continua inteiro e vivo na memória do dedos, dos olhos, dos ouvidos e até do nariz – ou vai dizer que você não sente o cheiro do seu livro preferido?

Aqui nesse link você pode assistir a leitura que eu fiz do livro!

Lobo desenhado só com o contorno, na edição de 79 com projeto gráfico de Donatella Berlendis

Lobo medonho ilustrado pelo Ziraldo, nas publicações de 97 em diante

Essa era minha parte preferida e única ilustração colorida em todo o livro!


BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: Berlendis & Vertecchia, 1979.

BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

Ônibus, de Marianne Dubuc

André Neves

Olá!

Seguimos com a apresentação de perfis das nossas escritoras e escritores. Hoje temos o caso de um ilustrador que sempre escreveu, com outros autores ou sozinho, histórias muito poéticas e que trazem muitas reflexões. Trata-se do pernambucano, radicado em Porto Alegre, André Neves.

Ele nasceu em 1973, em Recife e se formou em Relações Públicas e em Artes Plásticas.

De 1997, quando lançou seu primeiro livro como ilustrador, já ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti (que premia a excelência em produção literária nacional), uma em 2011 pela categoria Infantil, com o livro Obax e a outra em 2013, pela categoria Ilustração de Livro Infantil e Juvenil, com o livro Tom.

Suas ilustrações brincam muito com o brincar e conversam bastante com o texto das criações das histórias. Sua infância em Recife parece trazer muitas referências para seus livros.

Em 2004 recebeu ainda o “Prêmio Açorianos” de melhor ilustração. E também recebeu por parte de sua obra selos “Altamente Recomendável”, concedidos pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).

Ele tem um blog (que não é atualizado desde 2013) que tem informações de livros que ele fez, homenagens que recebeu, outros prêmios que ganhou e ilustrações que não estão em livros.

Temos em nossas bibliotecas 34 títulos deste autor, 19 em que ele aparece como ilustrador ou co-autor e 15 em que ele é o autor principal.

Ei-los:

Antonia, de Anke de Vries e Piet Grobler