MURAL DE INDICAÇÕES LITERÁRIAS : Curadoria Antirracista e Diversidade Cultural

Foi a partir de um estudo em Ciências Humanas sobre trabalhos invisíveis que a equipe da Biblioteca das Infâncias, Cinthia e Paulinha, receberam as turmas de 5ºs anos para a apresentação de uma grande escritora. E como o estudo sobre trabalhos invisíveis vai chegar na vida e obra de Carolina Maria de Jesus? Esta foi uma grande escritora brasileira que passou a vida lutando pelo direito de exercer seu dom de escrever; mulher negra, neta de escravizado, só o que se apresentava a ela como opção de sustento era servir como trabalhadora doméstica. Carolina no entanto queria escrever, e com apenas dois anos de estudo formal tanto lutou, insistiu e resistiu, que um dia finalmente teve seu primeiro livro publicado. Seu sustento na época se dava a partir do trabalho de catadora de lixo, mais um exemplo entre tantos que são invisíveis diante dos olhos da maioria de nós.

Não vamos aqui nos estender sobre essa história tão incrível quanto triste, história esta que precisou de duas aulas para cada turma ouví-la inteira, considerando as inúmeras paradas para perguntas, comentários e observações das crianças. Fato é que essa conversa sobre uma catadora de lixo que se tornou escritora depois de muita luta foi um gancho perfeito para a seleção de uma roda de biblioteca com livros de outras “Carolinas”, vozes não ouvidas, mal divulgadas, pouco publicadas.

Realizamos então uma seleção de livros com a provocação: vocês podem conhecer histórias do mundo todo, de diversas culturas, muitas outras além das histórias européias e eurocentradas às quais somos expostos e expostas diariamente. Onde estão e o que dizem autoras e autores negros, de tantos países especialmente africanos e americanos, incluindo o Brasil?; quem são os escritores e escritoras indígenas e que literatura eles produzem?; que outras mitologias e contos tradicionais podemos conhecer de continentes distantes como Ásia e Oceania, assim como de regiões das quais pouco conhecemos, como Palestina, Índia, Marrocos?

Disponibilizamos um extenso acervo para as turmas e aproveitamos esse mesmo olhar também para os 6ºs anos, a quem fizemos a provocação de realizar uma volta ao mundo a partir da leitura de histórias.

Compartilhamos agora com vocês um registro interativo, portanto em construção, dos livros escolhidos pelas turmas de 5º a partir da nossa seleção. As e os estudantes estão sendo convocados a comentar e indicar as leituras que realizaram e que estão registradas nesse mural. Dessa forma além de fomentar conversas sobre as leituras, esses documentos também servem como um painel de indicações literárias, a partir de uma perspectiva antirracista e de ampliação do repertório cultural.

Esperamos que aproveitem!

Paulinha e Cinthia.

Leitura de escritores indígenas com crianças de 1º, 2º e 3º anos

Por Paula Lisboa

Nesse momento de ensino remoto e híbrido, uma das atividades que oferecemos foi um momento de leitura virtual no contraturno para as crianças de 1º, 2º e 3º anos. Em um dos horários da atividade, fiz a proposta de apresentar às crianças histórias escritas por autores indígenas. A atividade é optativa e as crianças poderiam escolher outras propostas de leitura. Desde o início, achei que poderia ter um grupo menor de interesssados nas histórias indígenas, uma vez que somos pouco familiarizados com a cultura dos nossos povos originários.

Felizmente desde o primeiro encontro um grupo de crianças chegou com muito interesse em ouvir essas narrativas, e se interessaram ainda mais quando eu contei que faríamos a leitura de livros escritos por autores indígenas. Trouxe as fotos dos autores, imagens de seu povo, contei onde eles vivem.

Em dois meses de leitura ouvimos narrativas dos povos Guarani, Munduruku e Karajá, contadas por Olívio Jekupé e Daniel Munduruku, além dos poemas do poeta Tiago Hakiy, do povo Sateré-Mawé. Apreciamos os desenhos feitos por crianças Guarani no livro Verá, o Contador de Histórias, o que encantou a todos e todas, inspirando que também fizessem seus desenhos enquanto ouviam as histórias. Aprendemos algumas palavras nas línguas Guarani e Munduruku, e ampliamos nosso conhecimento sobre a cosmovisão dos povos indígenas no Brasil.

Fui supreendida pela vontade e capacidade das nossas crianças em absorver as referências de outras culturas de forma muito tranquila, de retomar as narrativas depois de semanas da leitura feita, de reconhecer as palavras nas diferentes línguas indígenas, de se envolver com o contexto trazido pela leitura, conectando diferentes narrativas e ampliando sua sensibilidade para a diversidade étnica e cultural.

Está sendo muito rico acompanhar as conexões que eles fazem ao longo das leituras, reflexões sobre bom e mau, sobre a relação entre indígenas e não indígenas, e sobre os saberes trazidos nas histórias. Nesse tempo já concluímos a leitura de dois livros e começamos um terceiro, além dos poemas que estão intermeando os contos.

Mais uma vez testemunhei o quanto vale a pena acreditar no poder das narrativas para conhecer, sensibilizar e ampliar conhecimento.

Referência dos livros lidos:

JEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003.

MUNDURUKU, Daniel. Um dia na aldeia: uma história munduruku. São Paulo: Melhoramentos, c2012.

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004.

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

 

Um Dia na Aldeia: Uma História Munduruku eBook: Munduruku, Daniel, Negro, Mauricio: Amazon.com.br: Loja Kindle  Contos indígenas brasileiros | Amazon.com.br A pescaria do Curumim e outros poemas indígenas | Amazon.com.br 

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 9 e 10 anos

Por Paula Lisboa

Seguindo com nossas sugestões de leitura em capítulos para as crianças de Fundamental 1, trago aqui um apanhado de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para as crianças que estão no final desse ciclo.

Nunca é demais lembrar que um bom livro não tem indicação etária exata para ser lido, é mais uma sugestão, considerando a complexidade da narrativa, a linguagem utilizada pelo autor ou autora, e a capacidade leitora média de crianças com tal idade. Também reforçamos o quanto a mediação de um adulto continua sendo bem vinda, para tirar dúvidas, trazer mais informações, oferecer apoio na compreensão, expandir as reflexões a partir da narrativa… Sem falar que continua valendo o aconchego que uma leitura compartilhada, mesmo depois que a criança está plenamente alfabetizada!

É possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa através desse link de acesso , onde você pode fazer a busca pelo título ou autor, verificar a qual biblioteca pertence e ler as sinopses de cada livro.

Aqui estão dez sugestões de livros para crianças entre 9 e 10 anos!

BARBIERI, Stela. Como mudar o mundo?. 1. ed. São Paulo: FTD, 2015.

Os contos deste livro foram inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU, em 2000, mas que ainda continuam sendo desafios para toda a humanidade. Entre os objetivos, estão o combate à pobreza, à fome, à mortalidade infantil, à Aids, à malária e a outras doenças, a luta por educação, igualdade entre os sexos, autonomia das mulheres, saúde das gestantes, sustentabilidade ambiental e parceria mundial para o desenvolvimento.

 

 

CHAMLIAN, Regina. Gigantes também nascem pequenos. 1. ed. São Paulo: SM, 2006. 

Mindinho é uma criança-gigante que fica órfã de repente: seus pais são assassinados pelo gigante Zarrão, que foge depois de cometer o crime. Um casal de anões tem a difícil missão de contar ao pequeno gigante o que aconteceu. Nessa viagem fantástica a um mundo encantado, o leitor terá de fazer uso, com Mindinho, da perseverança e da imaginação para enfrentar os temores, as perdas e a injustiça.

 

 

 

 

COELHO, Marcelo. Minhas férias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2011. 

“Eu sempre achava que devia entrar em alguma aventura. Não é que eu fosse muito corajoso. Mas achava bacana imaginar alguma coisa como as que acontecem nos livros – garotos que se perdem numa ilha misteriosa, numa caverna, descobrem um tesouro, enfim, aquilo tudo que se sabe”. Entrava ano, saía ano, e lá vinha uma professora de português propondo aos alunos que contassem todas as coisas interessantes que tinham vivido durante as férias. Os alunos eram obrigados a escrever – mesmo que nada de interessante tivesse acontecido com eles. Pois o que o autor faz neste livro é, de certa forma, escrever várias redações sobre as férias. Suas “redações” são especiais pelo jeito de contar as coisas – e porque ele, como a maioria dos meninos e meninas, sabia descobrir pequenas aventuras em situações muito cotidianas, ali onde menos se poderia esperar.

 

COLLODI, Carlo. As aventuras de Pinóquio. São Paulo: Iluminuras, 2002. 

Versão integral do texto clássico do escritor italiano Carlo Collodi. Esta obra-prima da literatura infanto-juvenil, conhecida pelo leitor sempre através de adaptações, tem aqui a oportunidade de conhecer o texto original em toda a sua grandiosidade.

 

 

 

 

DUPRÉ, Maria José. A ilha perdida. 37. ed. São Paulo: Ática, 1998.

Eduardo e Henrique resolvem explorar a misteriosa ilha e descobrir se as histórias sobre o lugar são reais. E acabam por se envolver em uma aventura na qual aprendem o respeito e o amor à natureza.

 

 

 

 

 

FUNKE, Cornelia. Os caçadores de fantasmas: atrás de uma pista fria. São Paulo: Brinque-Book, 2011. 

Tom quer apenas uma coisa: fugir. Mas eis que Erva Cidreira, a experiente caçadora de fantasmas, oferece sua ajuda. Quando os dois começam a conhecer melhor o fantasma, Tom vai percebendo que ele não é tão temível assim. Juntos, os três formam uma equipe imbatível de caçadores de fantasmas e logo encaram sua primeira tarefa: perseguir pistas frias..

 

 

 

GOMES, Alexandre de Castro. Quem matou o saci?. São Paulo: Escarlate, 2017. 

A detetive Billy Conrado e o detetive Joaquim de Jeremias colhem pistas e não poupam esforços para solucionar o misterioso assassinato de um conhecidíssimo personagem do folclore brasileiro. Quem teria motivos para matar o Saci Perereira? Muitos personagens são suspeitos, mas quem seria o verdadeiro culpado? De forma bem-humorada e original, Alexandre de Castro Gomes cria uma história de detetive instigante ao mesmo tempo em que faz um surpreendente passeio pelo folclore brasileiro.

 

 

 

HARTNETT, Sonya. O burrinho prateado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. 

Em uma manhã luminosa de primavera, duas irmãs encontram na floresta um soldado cego. O soldado conta para elas histórias maravilhosas envolvendo sempre a pequena escultura prateada de um burrinho que ele carrega no bolso. Os dias vão passando, e as duas meninas se esforçam, em segredo, para ajudar o soldado a voltar para casa enquanto aprendem o que esse precioso objeto significa. ‘O Burrinho Prateado’ é um tributo à coragem, à lealdade e ao sacrifício. Os belos contos nele reunidos proporcionam uma visão serena, mas firme, tanto dos horrores da guerra quanto do poder da inocência.

 

 

KIPLING, Rudyard. Mogli, o menino lobo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016. 

Tendo como cenário a Índia Central, a história de Mogli, o menino criado por uma alcateia de lobos, é cheia de ação, aventura e amizade. Ao longo de sua jornada, para provar que merece ser respeitado pela Lei da Selva, ele encontra personagens memoráveis, como o perverso tigre Shere Khan, a sábia pantera-negra, Baguera, e o afável urso Balu.

 

 

 

SEPÚLVEDA, Luis. A história de Mix, Max e Mex. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2014. 

Mix e Max eram amigos inseparáveis, como só um garoto e um gato podem ser. Enquanto Max estava na escola, Mix protegia os cereais preferidos de seu dono; enquanto Mix passeava pelos telhados da vizinhança, Max enchia o pote de comida de seu parceiro – e assim, lado a lado, eles cresciam. Acontece que o tempo dos gatos é diferente do tempo das pessoas, e quando Max se tornou um jovem cheio de planos, Mix já estava velho e mal conseguia enxergar. Mas, sem poder se aventurar pelos terrenos vizinhos, ele não imaginava que conheceria um rato tagarela disposto a lhe mostrar com palavras tudo aquilo que seus olhos não viam mais – e muito menos que esse rato pudesse virar seu companheiro leal e fazê-lo sentir-se feliz mais uma vez. Esse era o Mex.

Livros infantis de autores indígenas

Por Paula Lisboa

O dia 19 de abril consta em nosso calendário como sendo o Dia do Índio, um dia para celebrar os povos originários do nosso país. Considerando que os indígenas lutam por sua permanência nessas terras desde a invasão dos europeus em 1500 até os dias atuais, esse não seria tanto um dia para comemorar ou festejar. É um dia sim para honrar, agradecer e também pedir perdão por tanta violência historicamente já cometida a esses povos, que de 3.000.000 de habitantes em 1500 chegaram a menos de 818 mil segundo o censo de 2010.

Como forma de honrar esses povos e sua cultura, trouxemos a indicação de alguns livros do nosso acervo infantojuvenil que foram escritos por autores indígenas. Temos mais livros que trazem contos da tradição indígena escritos por autores não indígenas, que também vale a pena conhecer. Mas hoje nosso objetivo é destacar não somente a cultura e os contos, como também os escritores e narradores indígenas.

Você conhece algum desses livros? Sugere outros que a gente não incluiu aqui? Vamos sempre trocar indicações e ampliar nosso repertório!

Nós: Uma antologia de literatura indígena - 9788574068640 - Livros na Amazon BrasilNós: uma antologia de literatura indígena / organização e ilustrações Maurício Negro. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.

Tratando dos mais diversos temas ― dos mitos de origem às histórias de amor impossível ―, as narrativas conduzem o leitor por situações e desenlaces muito próprios, sempre acompanhadas por um glossário e um texto informativo sobre o povo indígena de origem de cada autor. Traz histórias contadas ou recontadas por escritores das nações indígenas Mebengôkre Kayapó, Saterê-Mawé, Maraguá, Pirá-Tapuya Waíkhana, Balatiponé Umutina, Desana, Guarani Mbyá, Krenak e Kurâ Bakairi. Esta é uma chance preciosa para todos aqueles que desejam entrar em contato com as raízes mais profundas de nossa cultura, ainda pouco valorizadas e respeitadas, por puro desconhecimento.

Contos indígenas brasileiros | Amazon.com.brMUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros / il. Rogério Borges. São Paulo: Global, 2004.

Os oitos contos selecionados pelo autor, a partir de um critério linguístico, têm a intenção de retratar, através de seus mitos – o roubo do fogo, a origem do fumo, depois do dilúvio, entre outros -, a caminhada de alguns de nossos povos indígenas do norte ao sul do país – Guarani, Karajá, Munduruku, Tukano, entre outros. A leitura dessas histórias dá às crianças uma rica visão de nossa herança cultural.

 

 

HAKIY, Tiago. A pescaria do curumim: e outros poemas indígenas. São Paulo: Panda Books, 2015.

Tiago Hakiy mora no coração da floresta amazônica. Descendente do povo sateré mawé, neste livro ele apresenta a cultura indígena em forma de poesia. A fauna e a flora da região amazônica, os costumes do povo e sua interação com a natureza são retratados em poemas que revelam a beleza e a riqueza da vida na floresta.  

 

Ajuda do Saci - Kamba´i » Editora DCLJEKUPÉ, Olívio. Ajuda do saci: kamba’i. São Paulo: DCL, 2006.

Em edição bilíngue – português e guarani –, Olívio Jekupé conta a história de Vera, um kunumi (indiozinho) que sonhava em ir para a escola dos não-índios.

Queria aprender tudo que eles sabiam para poder defender o seu povo. 

 

 

 

Livro: Verá, o contador de histórias | blog da mamãe sustentávelJEKUPÉ, Olívio. Verá, o contador de histórias. São Paulo: Peirópolis, 2003. (Memórias ancestrais Povo Guarani).

Todos pensam que só os índios mais velhos têm boas histórias para contar. Mas agora você conhecerá Verá Mirim, um curumim guarani que conta histórias fantásticas e emocionantes, e que diverte a todos com sua criatividade e inteligência.

 

 

 

Arandu Ymanguaré | Amazon.com.brJEKUPÉ, Olívio. Arandu ymanguaré: sabedoria antiga. São Paulo: Evoluir, 2003.

Para que saibam valorizar e defender os povos indígenas é preciso que desde cedo nossas crianças conheçam a força, a beleza e riquezas daquelas culturas. E é isso que o índio Guarani Olivio Jakupé, da aldeia Kurukutu nos mostra neste livro, por meio de três lindas histórias, do dicionário tupi guarani e da entrevista em que responde às perguntas de como é o estilo de vida na aldeia.

O Pássaro Encantado | Amazon.com.br

POTIGUARA, Eliane. O pássaro encantado. São Paulo: Jujuba, 2014. 

Os avós são figuras muito importante para os povos indígenas. Trazem os costumes, as memórias e os ensinamentos para a vida. Neste livro, Eliane Potiguara nos conta sobre a relação com esta figura poderosa e mágica, a avó, que traz as histórias vivas dentro de si. Aline Abreu, com suas ilustrações, nos carrega para esse tempo de magia. 

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 6 a 8 anos

Por Paula Lisboa

Tem tanto livro bom publicado por aí que é praticamente impossível fazer uma lista curta com os melhores livros infantis e infantojuvenis. A lista que vamos apresentar aqui é apenas uma pincelada de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para realizar com as crianças nos primeiros anos do Fundamental 1.

Lembrando sempre que um bom livro não tem uma idade certa para ser lido, na verdade podemos considerar que a indicação etária é mais no sentido de “a partir de”, e não como um recorte absoluto. Ou seja, esses livros também podem ser lidos e apreciados por crianças mais velhas.

Vale lembrar que na hora de oferecer um livro para a criança devemos considerar se ela vai fazer a leitura sozinha, o que requer mais maturidade e capacidade leitora, ou com a mediação de um adulto, que pode tirar dúvidas, trazer informações, oferecer apoio na compreensão.

Também quero aproveitar para lembrar que é possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa. Basta clicar nesse link de acesso ao acervofazer a busca pelo título ou autor, e ter acesso ao número de exemplares assim como às sinopses de cada livro.

Aqui estão nossas dez sugestões de livros com sucesso garantido entre as crianças de 6 a 8 anos!

CARRANCA, Adriana. Malala, a menina que queria ir para a escola. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2015. 95 p.

Malala Yousafzai quase perdeu a vida por querer ir para a escola. Ela nasceu no vale do Swat, no Paquistão, uma região de extraordinária beleza, cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Foi habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, como nos contos de fadas. Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Quando tinha dez anos viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã. Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras. Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram que somente os meninos poderiam estudar. Mas Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola, sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do atentado, hospedou-se com uma família local e conta neste livro tudo o que viu e aprendeu por lá. Ela apresenta às crianças a história real dessa menina que, além de ser a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz, é um grande exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.

 

COLFER, Eoin. Pânico na biblioteca. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. 94 p.

Em PÂNICO NA BIBLIOTECA, o irlandês Eoin Colfer ― vencedor do British Book Awards e WH Smith, prestigiosos prêmios de literatura infantil na Inglaterra ― cria uma história que é diversão garantida para leitores dos oito aos oitenta anos. Colfer conta a história de uma família para lá de movimentada, com cinco irmãos muito levados e amigos cheios de planos infalíveis.

 

 

 

 

 

 

 

DAHL, Roald. Matilda. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. 254 p.

Matilda adorava ler. Passava horas na biblioteca, lendo um livro atrás do outro. Mas, quanto mais ela lia e aprendia, mais aumentavam seus problemas. Os pais viam televisão o tempo todo e achavam muito estranho uma menina gostar tanto de ler. A diretora da escola achava Matilda uma fingida, pois ela não acreditava que uma criança tão nova pudesse saber tantas coisas. Depois de mil peripécias, em que tentou se livrar da tirania dos pais e da diretora, Matilda acabou encontrando a compreensão de uma professora, srta. Mel, com quem foi morar.

 

 

 

 

 

 

 

LENAIN, Thierry. A estranha Madame Mizu. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2006. 94 p.

Enredo ágil, personagens consistentes e fidelidade ao humor das crianças são as características básicas dessa história sobre uma menina e uma velha que habitam o mesmo prédio. Zoé mora no andar de baixo, madame Mizu mora no andar de cima. Zoé é solitária: não tem irmãos e seus pais ficam fora de casa o tempo todo, trabalhando sem parar. Madame Mizu, por sua vez, é bruxa. Ou melhor: só pode ser – mas se de fato é ou não é, eis uma questão que só será resolvida no fim do livro. Na sua solidão, Zoé tem bons motivos para se assustar com os ruídos estranhos que vêm do apartamento de cima (bengaladas e gargalhadas, por exemplo). Mas ela é corajosa também, e tem uma imaginação que sempre inventa novas maneiras de provocar a bruxa. Mas cutucar a onça com vara curta pode ser uma brincadeira muito perigosa…

 

 

 

LINDGREN, Astrid. Píppi Meialonga. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2018. 207 p. 

Autora de mais de oitenta livros já traduzidos para mais de setenta línguas, a sueca Astrid Lindgren escreveu “Píppi Meialonga” em 1945, como presente para os dez anos de sua filha. Píppi é uma menina de nove anos incrivelmente forte. Não tem pai nem mãe e mora sozinha, mas feliz da vida. Seus companheiros são um cavalo e um macaquinho. Ela mesma faz suas roupas – bem esquisitas – e sua comida – biscoitos, panquecas e sanduíches. Destemida e sapeca, lembra a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Píppi tem sempre uma resposta na ponta da língua e demonstra grande confiança em si mesma. Dá uma surra em cinco meninos brigões, engana os policiais que querem levá-la para um lar de crianças, põe dois ladrões a correr e enfrenta um touro a unha. Nada convencional, causa espanto e confusão por onde passa, seja na escola, no circo ou na casa de seus vizinhos. É, enfim, uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura. Absolutamente encantadora.

 

 

LISPECTOR, Clarice. O mistério do coelho pensante e outros contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 78 p. 

Coelhos não pensam como a gente, mas podem ter idéias e descobrir coisas. Eles compreendem o mundo com o nariz. Franzindo e desfranzindo o narizinho, Joãozinho, o coelho pensante, cheirava idéias. A primeira idéia que cheirou foi uma maneira de fugir da gaiola de ferro. Escapava sempre que não tinha comida, mas, depois, tomou gosto pela liberdade e fugia para passear, descobrir o mundo e visitar a namorada e os filhotinhos. Como conseguia sair da gaiola, ninguém até hoje soube explicar. Quem sabe se franzindo bem o nariz a gente consiga ‘cheirar’ alguma idéia e descobrir esse mistério…

 

 

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019. 247 p. 

Reinações de Narizinho é o primeiro de uma série de livros que abriria as porteiras do Sítio do Picapau Amarelo para os pequenos leitores do Brasil. Com seu universo único e encantador, as aventuras que Narizinho, Pedrinho, Emília e tantos outros personagens vivem nos arredores do Sítio e no Reino das Águas Claras marcaram a história da literatura brasileira e consagraram Monteiro Lobato como o grande nome de nossa literatura infantojuvenil. Esta nova edição de luxo, organizada por Marisa Lajolo, vem acompanhada por um texto introdutório que explica o contexto cultural da época de publicação do livro e debate as questões polêmicas relacionadas à obra de Monteiro Lobato. Traz também notas de rodapé em formato de diálogo entre as personagens, que explicam o vocabulário e os costumes do Brasil da década de 1920, além de ilustrações que reinterpretam a turma do Sítio.

 

 

ONDJAKI. A bicicleta que tinha bigodes: estórias sem luz elétrica. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. 86 p. 

Esse livro é um verdadeiro abraço de amizade e de solidariedade. A Rádio Nacional de Angola promove um concurso e oferece como grande prêmio uma bicicleta para a criança que escrever a melhor história. Esse é o pano de fundo para a ficção emocionante de Ondjaki, que nos remete à fantasia presente na infância – amizade, ternura, descobertas –, mas também ao reflexo nas crianças do processo político do país. Nos damos conta, entre outras tantas coisas, que a busca por algo pode ser mais valiosa que a própria conquista. E que viver boas histórias pode ser tão, ou mais emocionante, que saber inventá-las.

 

 

 

 

 

 

PENTEADO, Maria Heloisa. A outra Marina. São Paulo: Global, 2004. 40 p. 

Em A Outra Marina, a criança será seduzida pela curiosidade, coragem e sensibilidade da personagem. Marina sabia, tinha certeza, que Dona Lili tinha um segredo. Um segredo dela e do mar. Precisava descobrir. Porém, o que a menina não sabia era que, ao descobrir o local onde a velha arranjava aquelas belezas de conchas vendidas aos turistas, viveria duas experiências. Uma seria perigosíssima – Dona Lili era uma bruxa terrível e assustadora. A outra, maravilhosa – o encontro de uma outra Marina. Igualzinha a ela. Uma outra Marina para poder brincar, brigar e enfrentar as maldades da velha feiticeira. Imaginação ou realidade?

 

 

 

 

SOMMER-BODENBURG, Angela. O pequeno vampiro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 135 p. 

Anton adora ler histórias de terror, principalmente de vampiros, aqueles seres terríveis, com dentes enormes e afiados. Mas Anton nunca tinha ouvido falar de um vampiro como Rüdiger. É um vampiro muito simpático que, como Anton, também gosta de ler. Com ele dá até para brincar de “mocinho e bandido”.

 

CONTOS COM REPETIÇÃO

Por Paula Lisboa

Quando observamos as estruturas das histórias tradicionais, ou seja, a forma como a narrativa dessas histórias é organizada, podemos identificar com muita frequência contos com repetição de diferentes tipos. Pode ser uma fala que se repete, ou algum evento ou ainda uma ação. Os chamados contos com repetição se caracterizam por apresentar uma estrutura que contém sequências recorrentes, que se repetem ao longo da trama.

Um exemplo de conto de repetição que é bem conhecido e muito adorado pelas crianças é o Caso do Bolinho, aposto que você conhece! A versão que mais circula é essa da Tatiana Belinky, com diferentes ilustrações em cada edição, mas o reconto é o mesmo.

O Caso do Bolinho |O Caso Do Bolinho - Coleção Hora Da Fantasia (Em Portuguese do Brasil): Tatiana Belinky: 9788516041328: Amazon.com: Books

 

Entre os contos tradicionais, é muito comum encontrarmos diferentes versões de uma mesma história, que trazem variações em função da região de origem e da forma como cada pessoa reconta. Vou apresentar pra vocês outra história muito semelhante ao Caso do Bolinho, recontada pela Linda Rode, no livro Na Terra do Nunca Jamais. 

“Rola, pãozinho, rola”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em um dia frio e nevoento, uma mulher fez três pãezinhos redondos para o marido, que ficaria no campo o dia todo, carpindo um lote de terra. A mulher pôs os três pãezinhos em um prato para que esfriassem. O maior e o médio repousaram tranquilos e fumegantes no prato. Mas o menor deles, tostadinho de dar água na boca, remexeu-se e agitou-se até ficar de pé. Rolou para fora do prato, saiu pela porta e desceu girando e rodando pela encosta da colina onde ficava a pequena casa.

-Ninguém vai me comer! – ria ele, com sua risada rouca de pãozinho. – Eeeeeeee! Estou livre, livre, liiiivre!

Mas, ah, não!, no pé da colina, o pãozinho chegou à margem de um rio largo e agitado. E agora? Como chegar ao outro lado? Os juncos que cresciam à margem suspiraram e sussurraram, e no meio deles uma raposa ruiva mostrou a ponta de seu tocinho preto.

-Ah, pobre pãozinho – disse a raposa, lambendo os lábios com sua longa língua cor-de-rosa. – Vejo que está com um problema. Mas eu posso levá-lo até o outro lado.

-Não, não, obrigado – respondeu o pãozinho, com sua vozinha rouca. Você quer me comer, eu sei.

-De jeito nenhum! – protestou a raposa. – Sente-se na ponta da minha cauda, onde ficará seguro, e eu o levarei para o outro lado.

O pãozinho rolou para cá, rolou para lá e então disse:

-Está bem. Assim parece seguro. – Ele pulou para a ponta da cauda da raposa, e a raposa entrou na água.

Logo o rio ficou mais fundo. A raposa começou a nadar e disse:

-Venha para minhas costas, pãozinho, ou ficará molhado.

E o pãozinho rolou para as costas da raposa.

-Venha para meu pescoço, pãozinho, a água está ficando muito funda. Na metade do caminho, a raposa falou:

E o pãozinho rolou para o pescoço da raposa. A três quartos do caminho, a raposa disse:

-Venha para a ponta do meu focinho, pãozinho, ou você vai se encharcar!

Ainda acreditando que estava seguro, o pãozinho, tostadinho de dar água na boca, rolou para a ponta do focinho preto da raposa. Vuup. A raposa balançou o focinho no ar, apanhou o pãozinho na descida e crunch-crunch, comeu-o sem cerimônia.

Rindo de satistação, virou-se e nadou de volta.

Esse é um exemplo de repetição de fala e de ação, quando uma mesma sequência de fala e ação se repete, com uma pequena mudança a cada vez. Outra forma de repetição são as situações que se justapõem, que vão se somando em sequência, como quando um ou mais personagens realizam ações sucessivas que se repetem, podendo ser de acumulação – daí as histórias acumulativas -, ou de subtração – como os tangolomangos.

Os contos acumulativos são muito comuns nas Américas e em Portugal, mas aparecem no folclore de diversas partes do mundo.  Muitos contos desse gênero e em diferentes versões já foram recolhidos no Brasil por vários autores, em muitos casos de origem portuguesa, espanhola ou africana, com acréscimos e alterações locais.

No mesmo livro já citado, a compiladora de contos Linda Rode conta uma história que é um bom exemplo de conto acumulativo, onde as situações vão se justapondo, se somando sucessivamente.

“Piggy-Wiggy vem do mercado”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em uma região na África, onde cacaueiros e bananeiras crescem altos e viçosos, certo dia um menino foi ao mercado. Seu nome era Kofi. Sua mãe lhe deu dinheiro, um punhado de amendoins para comer pelo caminho e lhe disse para comprar um porco.

Kofi escolheu um porco pequeno e gordo. Ele assobiava enquanto voltava com seu porquinho. Porém, antes de chegar em casa, havia um rio para atravessar. Piggy-Wiggy empacou.

-Oinc, óinc- grunhiu ele., -Não vou entrar na água.

Kofi pediu:

-Por favor, Piggy-Wiggy, não se negue a se molhar,

Ou a gente não chega até a hora de deitar.

Mas Piggy não quis entrar na água.
Koi caminhou pela margem do rio. Viu um cachorro e disse:
-Cachorro, Cachorro, por favor, morda o Porco.
O Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Cachorro não quis morder o porco.
Kofi continuou andando. Ele viu uma vareta e disse:
-Vareta, Vareta, por favor, bata no Cachorro.
O Cachoro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Vareta não quis bater no Cachorro.
Koi andou um pouco mais pela margem do rio. Ele viu um fogo aceso e disse:
– Fogo, Fogo, por favor, queime a Vareta.
A Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu no vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Fogo não quis queimar a Vareta.
Então, Kofi falou com a água do rio:
-Água, Água, por favor, apague o Fogo.
O Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Água não quis apagar o Fogo.
Kofi viu, então, uma enorme cobra enrolada entre os juncos e disse:
-Cobra, Cobra, por favor, beba a Água.
A Água não quer apagar o Fogo,
o Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
-SSsSssim – sibilou a enorme cobra, -Essstou messsmo sssedenta. Bassstam algunsss golesss, e o rio ssserá terra barrenta.
E a Cobra começou a beber a Água. Sssip, sssip, sssip…
A água ficou com medo e apagou o Fogo.
O Fogo queimou a Vareta.
A Vareta bateu no Cachorr0.
O Cachorro mordeu o Porco.
O Porco atravessou o rio, splish-splash-splosh!
E Kofi chegou à sua casa antes da hora de deitar, com Piggy-Wiggy trotando na frente.
-Muito bem, Kofi -disse sua mãe, antes de lhe servir mandiocas cozidas bem molinhas para o jantar.
E quem quiser ler ou ouvir mais exemplos de contos com repetição, aqui vão algumas dicas disponíveis na internet.

A história da pimenta: uma das muitas variações da história do macaco que perdeu a banana

Doze contos acumulativos: doze exemplos de contos acumulativos transcritos

Malaquias, o macaco cismado: outra versão do macaco que perde alguma coisa, áudio 

Baú de Histórias – Coca Recoca : vídeo de conto com repetição, com música

Baú de Histórias – A Velha a fiar: vídeo da música cantada, com narrativa acumulativa

O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos

por Lucas Meirelles

 

Final do ano chegando: festas, encontros e celebrações. Um fim de um ano muito estranho e diferente. E que com bastante cuidado e afeto pode ser celebrado e resoluções de ano-novo são muito bem vindas.

Pensamos, em uma de nossas reuniões, em muitas histórias de Natal, de fim de ano, e decidimos, numa espécie de celebração, pela história do Quebra-Nozes para ser feita a leitura e presentear nossas leitoras e nossos leitores.

“O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos” é um romance natalino de E.T.A. (Ernest Theodor Amadeus) Hoffmann, publicado em 1816. É uma fantasia muito conhecida dentro do imaginário ocidental, sendo adaptado para outras obras literárias, para o balé, cinema, teatro, música, etc. Muitas transformações de um grande romance.

Adotamos essa versão da editora Zahar (que conta também com a versão de Alexandre Dumas, que inspirou o balé “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky). Resolvemos, então, cada membro da equipe revezar a leitura dos capítulos. Vocês podem acompanhar os vídeos nessa playlist aqui.

 

Boas festas, um ótimo ano novo e até breve!

Livros que conversam sobre agressividade e afins

por Paula Lisboa

É verdade que ler é bom por si só, independente de tema a ser trabalhado, ou objetivo a ser alcançado. Ler é gostoso e traz uma série de benefícios pra gente, sempre! Uma leitura também traz possibilidades de conversas, e pode ser gatilho disparador de muita reflexão tanto interna quanto compartilhada.

Levantei alguns títulos que acho especialmente interessantes quando queremos refletir sobre a agressividade existente em nós e nas relações. Se você lembrar de outros livros em torno do tema, compartilhe nos comentários! 

As garras do leopardo / Chinua Achebe com John Iroaganachi ; ilustrações de Mary GrandPré ; tradução de Érico Assis. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p.

No começo, todos os bichos eram amigos. Eles não tinham garras nem dentes afiados, nem mesmo o rei, o bondoso leopardo. A única exceção era o cachorro, que, com seus caninos pontudos, era motivo de gozação entre os animais. Certo dia, o cão, cheio de rancor, resolveu usar o que tinha de diferente para enfrentar o rei leopardo e se tornar o bicho mais poderoso da selva. E foi assim, a dentadas, que ele derrotou o grande líder, mandando-o para bem longe. Mas o leopardo logo retornaria. Dotado de um rugido ainda mais forte, de garras afiadas e dentes reluzentes, o antigo rei voltou para fazer justiça – e, a partir daí, a vida na selva nunca mais seria a mesma. 

Neste conto o escritor nigeriano Chinua Achebe fala de libertação e justiça, referindo-se ao doloroso processo de colonização de um povo. Podemos também encaminhar a reflexão sobre a ideia do uso da força bruta para exercer autoridade. Tem um interessante distanciamento que os contos populares proporcionam – refletir sobre um comportamento humano a partir de uma situação entre animais.

Pinote, o fracote e Janjão, o fortão / Fernanda Lopes de Almeida ; ilustrações de Alcy Linares. São Paulo: Ática, 2006. 32 p.

Janjão era o valentão da turma e nem imaginava que um menino pequeno como Pinote fosse capaz de derrotá-lo. Como era o mais forte, Janjão obrigava todos a fazerem o que ele quisesse, mas não contava com a possibilidade de não poder controlar o pensamento!

A força bruta parecia eficiente para controlar os amigos por um tempo, até Janjão perceber que não há força capaz de controlar o pensamento – e também os sentimentos – dos outros.  

Marilu / Eva Furnari. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 31 p.

Marilu achava tudo chato e sem graça – as nuvens bobas, as montanhas cinzas. Andava sempre aborrecida em seu mundo monótono e sem cor, até que, certo dia, viu uma garota carregando uma inacreditável lanterna multicolorida. Decidida a comprar uma igual, foi em busca da loja vermelha que a garota lhe indicara. Qual não foi sua surpresa, porém, quando depois de comprado o brinquedo começou a ficar cinza. Voltou à loja decidida a protestar, gritar e espernear, mas isso não resolveria o problema, que afinal não estava nas coisas, mas em sua maneira de olhar.

Uma ótima história sobre olhar o mundo com bom humor e assim ser mais feliz. Não adianta querer conquistar as cores da vida com raiva e xilique, mas sim a alegria interior, um modo de ver o mundo.

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Nós / Eva Furnari. São Paulo: Moderna, 2015. 31 p.

Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Os moradores da cidade a ridicularizavam e Mel sofria muito. Como se não bastassem as borboletas, um dia descobriu um nó no dedinho do pé. Depois, mais outro no dedo da mão, e mais outros, por isso Mel resolve ir embora. Do outro lado do rio, encontrou Kiko, um garoto também cheio de nós que a ensinou a desfazer nó de nariz, e ela dividiu com ele as borboletas.

Olhando pra menina Mel podemos sentir a tristeza causada pela falta de aceitação e o despropósito do ato de ridicularizar outras pessoas.

 

 

A ponte / Heinz Janisch ; ilustrações de Helga Bansch ; tradução de José Feres Sabino. São Paulo: Brinque-Book, 2012. 27 p.

O rio e a ponte que o atravessa guardam muitas histórias. Certo dia, um urso e um gigante topam um com o outro no meio da longa e estreita ponte. Nenhum deles aceita recuar, nenhum quer arredar o pé, mas não podem passar ao mesmo tempo. Como será que os grandalhões chegarão aos seus respectivos destinos?

Dois brutalhões diante de um problema que não dá pra ser resolvido na marra, na força bruta, na agressividade. Eles precisam baixar a bola para solucionar a questão. Juntos, conseguem encontrar uma forma até um pouco afetuosa para isso!

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Tonico, o invisível / Gianni Rodari ; ilustrações, Alessandro Sanna ; tradução, Franscico Degani.. São Paulo: Biruta, 2011. 30 p.

Tonico percebeu que estava invisível. Depois disso, fez muita confusão, trapalhada e descoberta. O que parecia ser muito bom – ficar invisível – significava também não ser visto por ninguém, mesmo quando queria um abraço, um bate-papo, uma brincadeira… Além de divertir, o livro do premiado autor Gianni Rodari leva à reflexão sobre as relações sociais cotidianas e pode provocar discussões muito interessantes: se você estivesse invisível, o que você faria? Parece legal provocar os outros e não levar nenhuma bronca, já que está invisível, mas e na hora de ir brincar com os amigos, também vai ser bom estar invisível? É preciso ser invisível para provocar as outras pessoas? Provocar os outros pode ser uma forma de se mostrar pra quem não está querendo te ver? Como você sentiria se de repente ninguém te visse? Por que ninguém vê o velhinho, ele também é invisível? 

Ninguém vai ficar bravo? / Toon Tellegen, Marc Boutavant ; tradução Patricia Broers Lehmann. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 82 p.

Em 12 capítulos curtos, vemos diversos animais zangados e irritados, em diferentes circunstâncias. Alguns tentam entender sua raiva, outros tentam controlá-la, e outros, ainda, deixam-se dominar por ela. São histórias engraçadas e incomuns, mas que também propiciam uma reflexão profunda sobre a natureza das emoções humanas.

Um livro incrível que provoca muita conversa sobre as nossas emoções. 

 

 

Três ursos / Cliff Wright ; tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 2008. 32 p.

Sem poder sair de casa por causa da pata quebrada, Urso Marrom está muito preocupado. Seus amigos, Urso Negro e Urso Branco estão se divertindo sem ele – mas na verdade eles estão preparando uma linda surpresa para o Urso Marrom. 

É interessante observar “de fora” a braveza do Urso Marrom, porque a gente sabe que ele não tem motivo pra ficar bravo. Lendo a história conseguimos perceber que ele não precisava se exaltar, mas as emoções podem ser difíceis de controlar… Quem nunca ficou muito bravo porque tinha alguma certeza e depois descobriu que não era nada daquilo?

Ursula K. Le Guin

por Lucas Meirelles

 

Olás!

Antes de apresentar essa escritora e criar um perfil biobibliográfico, vou contar que ela – e seus livros – têm me acompanhado durante esse período de quarentena. Já li dois e estou no terceiro livro que falarei mais para frente sobre.
Então vamos à autora e sua obra!

Ursula Kroeber Le Guin, escritora estadunidense, nasceu em 1929 e faleceu em 2018. Filha de dois grandes antropólogos, Alfred L. Kroeber e Theodora Kracow-Kroeber, escreveu romances, contos, novelas, poesias e literatura infantojuvenil, além de ensaios e traduções. Durante sua vida recebeu diversas premiações literárias e algumas de suas produções foram adaptadas para o cinema e a TV. A crítica que ela recebia sobre sua literatura foi de encontro à educação e questionamentos que lhe foram dados desde o começo de sua infância.

Ela é muito conhecida por ser uma autora de ficção científica. Então em muitos de seus escritos temos distopias e utopias, mundos extraterrestres, vida artificial e os impactos de tecnologias e avanços científicos nas sociedades. Além dessa característica, outros temas e influências são notados e merecem vir à tona. Ela se declarava taoísta e anarquista, trazia em seus horizontes o feminismo, o pacifismo e diversos elementos da antropologia e outras ciências sociais.

O primeiro livro que li dela é o “A mão esquerda da escuridão“, que traz o protagonista Genly Ai, um terráqueo que vai ao planeta Gethen e tem a missão de convencer o povo desse planeta a participar do Ekumen, uma confederação informal dos planetas. A característica marcante desse planeta, e que deixa Genly Ai com muita dificuldade, é o fato das pessoas serem ambissexuais, ou seja, ninguém tem um sexo biológico fixo. Vê-se, então, como o sexo e o gênero influenciam nessa sociedade e como pode se dar o Ekumen.

Depois li “Os despossuídos“, que traz uma utopia anarquista. São dois planetas próximos, Urras e Anarres, que têm sistemas políticos bem distintos: um é capitalista, outro anarquista. Dentro desse pano de fundo, um cientista de Anarres viaja para Urras para fazer um intercâmbio tecnológico e, por conta dessa grande diferença entre os planetas, alguns acontecimentos dão certo, outros nem tanto.

E agora estou terminando “A curva do sonho“, que é a história de George Orr, um homem que, depois de sonhar, altera e transforma a realidade. Ele então começa a ter medo de dormir e sonhar. Em consultas com um psiquiatra e com algumas máquinas eles tentam entender esse fenômeno e, ao mesmo tempo, vão “consertando” com os sonhos a realidade do que está errado no mundo.

Muito mais informações sobre ela e seus livros (além de fotos e ilustrações dos mapas de alguns títulos!!) estão no site oficial dela: https://www.ursulakleguin.com/ (em inglês apenas)

Por enquanto ainda não temos nenhum livro dela de literatura adulta, mas temos em nossas bibliotecas um título infantojuvenil que é o:

LE GUIN, Ursula K. Gatos alados. São Paulo: Ática, 1996. 45, [1] p. ISBN 8508062087.

A Conferência dos Pássaros: um conto clássico recontado em forma de Arte

Por Paula Lisboa

Existem livros que são verdadeiras obras de arte, tamanho o cuidado estético em sua criação. Sem dúvida é o caso desse A Conferência dos Pássaros, criado pelo grande autor e ilustrador Peter Sís, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, um dos maiores prêmios da Literatura Infantil.

A história em si não é de sua autoria, trata-se de um conto da tradição oral sufi, atribuída ao poeta persa Farid Ud-di Attar e datada do século XII. Peter Sís inclui o poeta Attar no início do livro, quando conta que um dia ele acordou de um sonho inquietante e se viu transformado em uma poupa, uma ave que tem como característica marcante uma crista na cabeça. Essa poupa convoca todos os pássaros para uma conferência, e assim tem início a tradicional narrativa oriental. A reunião tem por objetivo convidar a todos para partirem juntos em busca de um rei que vive numa montanha distante, e que poderia ter as respostas para os problemas que eles enfrentam, como a ganância, a vaidade, a disputa e a destruição.

Todos partem em viagem, voando por um caminho cheios de dúvidas, ressentimentos e medo de mudanças, em uma verdadeira jornada rumo à transformação pessoal. Se por um lado sentem medo e dúvida, por outro são impulsionados pela poupa, que os incentiva a percorrer todos os cantos do mundo com a esperança de atingir seu propósito. Passam, assim, por sete vales: da procura, do amor, da compreensão, do desapego, da unidade, do deslumbramento e da morte. São tantos desafios enfrentados que muitos pássaros desistem no caminho e não continuam a jornada.

E assim vamos seguindo por profundos mergulhos em nossa existência.

Essa história já foi narrada muitas vezes, mas nessa edição ela tem um tratamento especial pelas ilustrações de Peter Sís, que pesquisou sobre a cultura oriental persa e também sobre a anatomia dos pássaros. O resultado são ilustrações impressionantes, que ampliam ainda mais a grandiosidade dessa história tão antiga quanto atual, e que ao final nos revela que a resposta está muito mais próxima do que imaginamos.

É bem verdade que não há nada como ter o livro nas mãos para apreciar essa bela obra de arte, mas se quiser você também pode acompanhar a leitura assistindo os vídeos abaixo.





SÍS, Peter. A conferência dos pássaros. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013.