Os três mosqueteiros

Imagem do filme “Os três mosqueteiros”, de 1948, dirigido por George Sidney.

“Um por todos, todos por um!”

 

O lema acima citado faz parte do imaginário criado pela obra de Alexandre Dumas, Os três mosqueteiros. É um romance de capa e espada publicado em 1844 e fez parte da segunda leitura do ano do VilaLê (clube de leitura da Escola da Vila), da unidade Butantã. Durante quase 800 páginas, vivemos as aventuras e amores de D’Artagnan, Porthos, Athos e Aramis e seus lacaios, com histórias ficcionalizadas do Cardeal de Richelieu e do rei francês Luís XIII, do cerco de La Rochelle e outras personalidades da nobreza francesa e inglesa da época.

 

 

Teremos no nosso último encontro desse ano, no dia 30 de novembro, a participação de um dos tradutores do livro, o escritor Rodrigo Lacerda. Perguntas como “Por que são quatro mosqueteiros e no título são só três?”, “Quem governava a França? O cardeal ou o rei?” poderão ser respondidas nesse dia. Faremos um debate virtual sobre o livro, cada um com sua pipoca!

Livros que conversam sobre agressividade e afins

por Paula Lisboa

É verdade que ler é bom por si só, independente de tema a ser trabalhado, ou objetivo a ser alcançado. Ler é gostoso e traz uma série de benefícios pra gente, sempre! Uma leitura também traz possibilidades de conversas, e pode ser gatilho disparador de muita reflexão tanto interna quanto compartilhada.

Levantei alguns títulos que acho especialmente interessantes quando queremos refletir sobre a agressividade existente em nós e nas relações. Se você lembrar de outros livros em torno do tema, compartilhe nos comentários! 

As garras do leopardo / Chinua Achebe com John Iroaganachi ; ilustrações de Mary GrandPré ; tradução de Érico Assis. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p.

No começo, todos os bichos eram amigos. Eles não tinham garras nem dentes afiados, nem mesmo o rei, o bondoso leopardo. A única exceção era o cachorro, que, com seus caninos pontudos, era motivo de gozação entre os animais. Certo dia, o cão, cheio de rancor, resolveu usar o que tinha de diferente para enfrentar o rei leopardo e se tornar o bicho mais poderoso da selva. E foi assim, a dentadas, que ele derrotou o grande líder, mandando-o para bem longe. Mas o leopardo logo retornaria. Dotado de um rugido ainda mais forte, de garras afiadas e dentes reluzentes, o antigo rei voltou para fazer justiça – e, a partir daí, a vida na selva nunca mais seria a mesma. 

Neste conto o escritor nigeriano Chinua Achebe fala de libertação e justiça, referindo-se ao doloroso processo de colonização de um povo. Podemos também encaminhar a reflexão sobre a ideia do uso da força bruta para exercer autoridade. Tem um interessante distanciamento que os contos populares proporcionam – refletir sobre um comportamento humano a partir de uma situação entre animais.

Pinote, o fracote e Janjão, o fortão / Fernanda Lopes de Almeida ; ilustrações de Alcy Linares. São Paulo: Ática, 2006. 32 p.

Janjão era o valentão da turma e nem imaginava que um menino pequeno como Pinote fosse capaz de derrotá-lo. Como era o mais forte, Janjão obrigava todos a fazerem o que ele quisesse, mas não contava com a possibilidade de não poder controlar o pensamento!

A força bruta parecia eficiente para controlar os amigos por um tempo, até Janjão perceber que não há força capaz de controlar o pensamento – e também os sentimentos – dos outros.  

Marilu / Eva Furnari. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 31 p.

Marilu achava tudo chato e sem graça – as nuvens bobas, as montanhas cinzas. Andava sempre aborrecida em seu mundo monótono e sem cor, até que, certo dia, viu uma garota carregando uma inacreditável lanterna multicolorida. Decidida a comprar uma igual, foi em busca da loja vermelha que a garota lhe indicara. Qual não foi sua surpresa, porém, quando depois de comprado o brinquedo começou a ficar cinza. Voltou à loja decidida a protestar, gritar e espernear, mas isso não resolveria o problema, que afinal não estava nas coisas, mas em sua maneira de olhar.

Uma ótima história sobre olhar o mundo com bom humor e assim ser mais feliz. Não adianta querer conquistar as cores da vida com raiva e xilique, mas sim a alegria interior, um modo de ver o mundo.

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Nós / Eva Furnari. São Paulo: Moderna, 2015. 31 p.

Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Os moradores da cidade a ridicularizavam e Mel sofria muito. Como se não bastassem as borboletas, um dia descobriu um nó no dedinho do pé. Depois, mais outro no dedo da mão, e mais outros, por isso Mel resolve ir embora. Do outro lado do rio, encontrou Kiko, um garoto também cheio de nós que a ensinou a desfazer nó de nariz, e ela dividiu com ele as borboletas.

Olhando pra menina Mel podemos sentir a tristeza causada pela falta de aceitação e o despropósito do ato de ridicularizar outras pessoas.

 

 

A ponte / Heinz Janisch ; ilustrações de Helga Bansch ; tradução de José Feres Sabino. São Paulo: Brinque-Book, 2012. 27 p.

O rio e a ponte que o atravessa guardam muitas histórias. Certo dia, um urso e um gigante topam um com o outro no meio da longa e estreita ponte. Nenhum deles aceita recuar, nenhum quer arredar o pé, mas não podem passar ao mesmo tempo. Como será que os grandalhões chegarão aos seus respectivos destinos?

Dois brutalhões diante de um problema que não dá pra ser resolvido na marra, na força bruta, na agressividade. Eles precisam baixar a bola para solucionar a questão. Juntos, conseguem encontrar uma forma até um pouco afetuosa para isso!

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Tonico, o invisível / Gianni Rodari ; ilustrações, Alessandro Sanna ; tradução, Franscico Degani.. São Paulo: Biruta, 2011. 30 p.

Tonico percebeu que estava invisível. Depois disso, fez muita confusão, trapalhada e descoberta. O que parecia ser muito bom – ficar invisível – significava também não ser visto por ninguém, mesmo quando queria um abraço, um bate-papo, uma brincadeira… Além de divertir, o livro do premiado autor Gianni Rodari leva à reflexão sobre as relações sociais cotidianas e pode provocar discussões muito interessantes: se você estivesse invisível, o que você faria? Parece legal provocar os outros e não levar nenhuma bronca, já que está invisível, mas e na hora de ir brincar com os amigos, também vai ser bom estar invisível? É preciso ser invisível para provocar as outras pessoas? Provocar os outros pode ser uma forma de se mostrar pra quem não está querendo te ver? Como você sentiria se de repente ninguém te visse? Por que ninguém vê o velhinho, ele também é invisível? 

Ninguém vai ficar bravo? / Toon Tellegen, Marc Boutavant ; tradução Patricia Broers Lehmann. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 82 p.

Em 12 capítulos curtos, vemos diversos animais zangados e irritados, em diferentes circunstâncias. Alguns tentam entender sua raiva, outros tentam controlá-la, e outros, ainda, deixam-se dominar por ela. São histórias engraçadas e incomuns, mas que também propiciam uma reflexão profunda sobre a natureza das emoções humanas.

Um livro incrível que provoca muita conversa sobre as nossas emoções. 

 

 

Três ursos / Cliff Wright ; tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 2008. 32 p.

Sem poder sair de casa por causa da pata quebrada, Urso Marrom está muito preocupado. Seus amigos, Urso Negro e Urso Branco estão se divertindo sem ele – mas na verdade eles estão preparando uma linda surpresa para o Urso Marrom. 

É interessante observar “de fora” a braveza do Urso Marrom, porque a gente sabe que ele não tem motivo pra ficar bravo. Lendo a história conseguimos perceber que ele não precisava se exaltar, mas as emoções podem ser difíceis de controlar… Quem nunca ficou muito bravo porque tinha alguma certeza e depois descobriu que não era nada daquilo?

História das histórias em quadrinhos

por Lucas Meirelles

Yellow Kid, personagem criado por Richard Felton Outcault

Olás! Vamos contar um pouco sobre a grande história das histórias em quadrinhos!

Os quadrinhos, gibis, HQs fazem parte da vida de muitas leitoras e leitores. Dentre as muitas características, temos duas mais marcantes: são formados por duas partes: imagem e linguagem escrita e são usados balões para as falas, pensamentos, etc. Desde os primeiros quadrinhos até hoje, a narrativa dos acontecimentos com imagens (seja nas pinturas rupestres das cavernas, seja em páginas do Instagram) faz parte do ser humano.

A história das histórias em quadrinhos começa em meados do século XIX com algumas publicações em livros, algumas em jornais. Vários quadrinistas (talvez ainda não com esse nome) de diversos países começaram a publicar as primeiras histórias sequenciais em quadrinhos. Nota-se que histórias ilustradas, ilustrações com balões – principalmente em livros infantis – já eram comuns na época mas a palavra “sequenciais” revela esse marco fundador.

Revista em quadrinhos “Gibi”, lançada em 1939. Gibi, atualmente, é sinônimo de qualquer revista em quadrinhos no Brasil

As características dos assuntos dos primeiros quadrinhos eram bem diferentes entre si: havia quadrinhos com personagens mais infantis e histórias infantis; quadrinhos com temas políticos com histórias humorísticas; sátiras sobre o cotidiano, etc. Com o passar dos tempos, foram sendo absorvidos assuntos de outras mídias e os quadrinhos chamaram cada vez mais atenção no sentido da possibilidade de ser usado na comunicação.

A passagem dos jornais para revistas em quadrinhos foi gradual. Alguns personagens foram se destacando e ganhando revistas próprias e também do seu universo (por exemplo, surgiram primeiro as tiras dos personagens Cebolinha, Mônica, etc e depois se formou a Turma da Mônica). Os super-heróis e seus universos, aparecem nos anos 1930, nos quadrinhos, juntamente com a chamada “indústria dos quadrinhos”, onde nascem grandes editoras e quadrinistas e agências de distribuição (as comic strip syndication).

Há uma discussão iniciada nos anos 1960 sobre as graphic novels. São, por tradução, romances gráficos e são definidos como grandes histórias publicadas no formato de livro. Em uma comparação rasa com a literatura, as graphic novels seriam os grandes romances e as revistas em quadrinhos os livros de contos, novelas, crônicas. Porém há muita discordância e interpretações quanto ao uso do termo e essa segmentação dentro do universo das HQs.

Como exemplos de graphic novels, podemos elencar: Um contrato com Deus, de Will Eisner (que foi o primeiro quadrinhos que estampou a palavra graphi novel na capa); Persépolis, de Marjane Satrapi; Maus, de Art Spiegelman; Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons; As aventuras de Tintim, de Hergé; Retalhos, de Craig Thompson; Sandman, de Neil Gaiman; Corto Maltese, de Hugo Pratt; etc.

Como curiosidade, vocês sabem como se chamas as histórias em quadrinhos em outros lugares do mundo? Na França, é conhecido como bande dessinée; parecido com Portugal que é conhecido como banda desenhada ou história aos quadradinhos; em inglês é comics; em italiano, fumetti (tradução de “fumacinhas”, os balõezinhos que saem da boca das personagens); no Japão, são os mangás; nos países que falam espanhol são chamados de historietas.

A personagem “Mafalda”, criada pelo argentino Quino

Sobre os contos de fadas

Por Paula Lisboa

Pensando em escrever sobre os contos de fadas, tentei imaginar como seria nosso mundo caso eles não existissem. Ou ainda, se a gente não tivesse tido a chance de conhecer esses contos, narrados há séculos entres homens, mulheres e crianças. Através da narração dessas histórias, o ser humano foi construindo sentido para as adversidades da vida, elaborando emoções difíceis de sentir, se entendendo como parte de um coletivo maior que a sua vida pessoal. 

Os conhecidos contos de fadas são uma parte dos chamados “contos populares”, aquelas histórias que têm origem de domínio público, ou seja, pertencem à humanidade. Não sabemos quem inventou ou quando, sabemos que existem e que são contadas há muitos séculos, passadas de geração em geração.

As narrativas que eles trazem constituem a grande matéria produzida pela humanidade ao longo dos tempos, como forma de encarar questões das quais não podemos fugir, como os desígnios recebidos já no nascimento, ou a pobreza com que se vem ao mundo, a busca de um amor, o desejo de correr o mundo livremente, a vontade de construir uma vida melhor, a necessidade de enfrentar obstáculos, a situação inevitável de quando se é prisioneiro de encantamentos ou de todo tipo de coisa que determina sua vida mesmo sem ter sido sua escolha… Enfim, todo enfrentamento aos vários desafios humanos constituem a matéria bruta que vai originar os contos populares e mais especificamente os contos de fadas.

Então esses contos foram sendo criados pelas pessoas, contados de boca em boca, em uma realidade muito diferente da que vivemos hoje em dia, em rodas, em grupos, crianças e adultos juntos, sem distinção de faixa etária. As crianças acompanhavam as narrações que a princípio eram feitas entre adultos, não tinha a ideia que muitas vezes temos hoje em dia, de que contar e ouvir história fosse para as crianças. As histórias existiam e existem para todos nós.

Essas histórias contadas oralmente começaram a ser registradas por alguns autores e autoras, que foram responsáveis por manter os contos conhecidos de nós até hoje. Por outro lado também foram responsáveis por dar uma forma fixa para as narrativas, que na oralidade seguem em constante modificação, ao passo que na escrita se fixam.

Esses contos constituem um arcabouço do imaginário coletivo, trazendo referências ao ser humano. Eles são uma espécie de herança que recebemos das pessoas que vieram antes de nós e que ajudaram a construir o mundo como o conhecemos hoje. Eles trazem um verdadeiro catálogo de destinos humanos, de forma que sempre podemos recorrer a eles como forma de encarar os desafios que a realidade nos impõe.

Muitos pesquisadores se debruçaram para estudar os contos de fadas em suas várias camadas. Tem a camada do olhar psicanalítico, do inconsciente coletivo, tem olhares mais sociológicos e culturais, olhares mitológicos… São tantas camadas que é inegável a riqueza de material que esses contos nos trazem.

Agora imaginem chegar à idade adulta sem conhecer Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Rapunzel e tantos outros contos. Pra começo de conversa, quantas outras histórias a gente não entenderia caso não conhecesse essas, que originaram muitas outras. Tanto pelas referências aos personagens, quanto pelas situações recorrentes que encontramos nos contos, esquemas narrativos que se repetem, lógicas ficcionais que podem ser encontradas em muitas outras produções. Existe toda uma produção de conteúdo simbólico narrativo que parte desses contos, dessas histórias. 

Conhecer mais a fundo os contos de fadas é como abrir um grande baú de herança da humanidade, ter acesso a um grande repertório para lidar com questões complexas, para se fortalecer internamente a ponto de encontrar soluções para os desafios da vida. Não vamos deixar esse grande baú de lado, afinal, seria tolice não aceitar tal herança, tão rica e cheia de tesouros!

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Texto teatral: é texto ou é teatro?

Por Paula Lisboa

Livro é pra gente ler. Teatro é pra gente assistir. E um texto teatral, é o que?

Um texto teatral é aquele escrito para ser representado, e justamente por isso traz uma série de características específicas que permitem que a gente imagine a história sendo encenada quando lemos. O texto também precisa trazer indicações para atores e diretores transformarem o que está escrito em peça encenada.

Isso não significa que ele não seja feito também para ser lido. Aliás, a leitura de uma peça pode ser realmente muito leve e agradável, o texto é quase todo escrito em forma de diálogos entre os personagens, o que traz um ritmo cadente e de fácil apreciação. Outro aspecto interessante é que quando a gente lê a peça pode imaginar tudo o que o autor descreve da nossa maneira, ao passo que quando assistimos sua encenação já estamos diante de uma interpretação feita para o texto.

Além do enredo que a história conta, o texto teatral também traz a relação dos personagens, o tempo em que a história acontece e o espaço onde se passa a cena.

Geralmente é quase todo escrito em forma de diálogos entre os personagens e traz também algumas observações, que chamamos de rubrica. As rubricas são anotações no texto que indicam como a fala deve ser interpretada, ou o movimento que o personagem está fazendo, ou qualquer comentário sobre a maneira como está acontecendo a cena.

Então o texto teatral basicamente conta uma história através dos diálogos entre os personagens (ou através de um monólogo, quando é um só personagem na peça inteira), sem a presença do narrador que as histórias escritas trazem. Se existe um narrador, ele é colocado como um personagem que fala em cena. Geralmente a peça começa com a apresentação dos personagens e do que vai acontecer, depois surge um conflito, para então se encaminhar para o desenlace.

Existem peças de comédia, tragédia e tragicomédia. O teatro é uma arte muito antiga cuja origem remete aos rituais e celebrações da Grécia Antiga, que com o tempo foram ficando mais elaborados, com textos mais desenvolvidos para serem recitados, inicialmente por um coro. Aos poucos foram introduzidas falas de personagens individuais, assim como aumentando o número de personagens em cena. O autor de uma peça é chamado de dramaturgo, e ele pode ser somente o autor do texto, ou também pode ser o responsável por trazer o texto para a cena.

Eu particularmente gosto muito de ler textos teatrais pois eles me inspiram a criar vozes e posturas para os personagens que falam. Sinto que é uma leitura muito viva, que nos convida a trazer o que está no texto para a realidade!

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Por que aprender sobre os mitos gregos?

Por Paula Lisboa

Falar sobre mitologia grega pode soar como sendo algo distante de nós, desconhecido, de um outro tempo… Por incrível que pareça, as histórias trazidas nos mitos gregos fazem parte da nossa vida mesmo sem a gente saber. Existe uma série de referências da mitologia grega em muito do que conhecemos e falamos: filmes, livros, novelas, séries, jogos, expressões, palavras e até propagandas trazem elementos do imaginário criado pelos gregos. 

Vejamos por exemplo alguns filmes e livros conhecidos das crianças e jovens hoje: Hércules – o filme narra a história de um herói da mitologia grega; Percy Jackson – série de livros que virou filme, onde Percy é filho de Poseidon, um deus grego, e outros personagens também são filhos de deuses gregos; Fúria de Titãs – série de filmes que também traz vários deuses e heróis gregos; Mulher Maravilha – é uma amazona, mulheres guerreiras criadas pelos deuses gregos. 

Podemos lembrar de todos os planetas do sistema solar, que levam nomes de deuses gregos, assim como palavras em português que têm origem na mitologia grega: cronologia – vem do deus Cronos; eco – vem da ninfa Eco; atlas – do titã Atlas; hipnose – do deus do sono Hipnos; narcisimo – do herói Narciso; expressões como calcanhar de Aquiles – referência ao herói grego Aquiles; caixa de Pandora – se refere a uma história da mitologia.

Tudo isso tem origem na mitologia grega, e ao estudar os mitos gregos podemos conhecer algumas dessas histórias. Essa forte influência aparece porque os mitos gregos são a base da formação de toda a cultura da Europa, e como o Brasil foi um país de domínio europeu, temos muita influência dos mitos gregos em nossa cultura também.

Esse já seria um bom motivo pra gente querer conhecer os mitos gregos, e assim entender melhor de onde vem essas expressões, de onde surgiram essas histórias, poder perceber as referências e entender melhor algumas coisas que já conhecemos.  

Além disso, os mitos trazem histórias muito lindas, que antes de serem escritas eram contadas de boca, ao longo de muitas gerações. Estudar os deuses gregos e suas histórias marcantes ajuda a gente a enxergar as diferentes maneiras como as pessoas sentem e agem, pois eles trazem exemplos de personalidades muito marcantes, que podemos dizer que são modelos para as várias personalidades do ser humano. É muito impressionante conhecer a origem das histórias, e visualizar as forças internas dos deuses e heróis que se transformam em ações e reações. 

Os mitos gregos são as primeiras histórias de aventura que já existiram. Os heróis gregos são os primeiros heróis de todos que já foram criados! É sempre uma delícia se aventurar a conhecer a origem de tanta coisa que a gente tem hoje.

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Monteiro Lobato: importante e polêmico

Por Paula Lisboa

Monteiro Lobato é tão importante na história dos livros escritos para crianças e jovens no Brasil, que é no dia do seu aniversário – 18 de abril – que comemoramos o Dia Nacional da Literatura Infantil e Juvenil. Mas afinal, por que será que ele é assim tão importante?

Monteiro Lobato é um divisor de águas, pois antes dele não existiam livros escritos para crianças no Brasil. Pode-se dizer que ele mudou para sempre a maneira como os livros para crianças passaram a ser escritos, abriu as portas para novas ideias e novas formas de escrever. Antes de Lobato, nossas crianças tinham acesso a livros de contos cuja intenção era ensinar o que é certo e errado, não tinham como objetivo serem boas leituras de fruição e imaginação. Outra opção eram os clássicos de fora do Brasil que chegavam aqui com traduções em português de Portugal, não escritos por autores brasileiros para crianças brasileiras.

Lobato achava os livros da época tão sem graça, que escreveu em uma carta para um amigo que não conseguia encontrar boas opções de livros para ler para seus filhos, então decidiu ele mesmo escrever bons livros. Ele também reescreveu e traduziu histórias já conhecidas, mas antes escreveu a sua própria história, “A Menina do Narizinho Arrebitado”, publicado em 1920, quando ele tinha 38 anos. O livro vem classificado por seu autor como “Livro de Figuras”, o que já deixava claro que as imagens eram tão importantes para a história quanto o texto escrito. Lobato buscava trazer a realidade do Brasil para seus escritos, que não fossem uma simples imitação do que vinha de fora. Queria que as pessoas se reconhecessem na leitura e que as crianças se apaixonassem pela história.

O sucesso de seu primeiro livro foi total e imediato. Em seu texto as crianças se identificam com a história contada, sentem-se à vontade entre os personagens, a caracterização, o cenário, a linguagem, toda a situação narrada. E assim, com o leitor se sentindo em casa, o texto de Lobato vai nos conduzindo para um mundo mágico e maravilhoso com muita naturalidade, nos fazendo mergulhar no reino das águas claras onde um peixe é o príncipe, ou conversar com um sabugo de milho, ou uma boneca de pano. Nada disso é forçado quando a realidade e a imaginação fazem parte de uma situação muito bem criada.

Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro que escreveu livros de qualidade especialmente para as crianças, e desde que começou a criar a turma do Sítio do Pica Pau Amarelo, em 1920, nunca deixamos de ter seus livros como importantes na nossa literatura e seus personagens marcaram pra sempre nossa produção cultural.

No entanto, existe uma importante crítica a ser feita a esse grande autor brasileiro. Basta ler algumas páginas para perceber que ele se refere à tia Nastácia como “a negra” e em outros momentos escreve comentários bem grosseiros sobre o fato dela ser negra. Não está certo a gente se referir a uma pessoa pela cor de sua pele, assim como a cor da pele não faz de ninguém melhor ou pior do que ninguém. Nosso país traz em sua história a triste e dolorosa passagem da escravidão dos negros africanos e isso deixou muitas marcas na nossa linguagem e na nossa cultura. Até hoje, em 2020, ainda estamos aprendendo a fazer diferente. Nesse sentido, é importante lembrar que quando Lobato escreveu esses livros, há 100 anos atrás, as pessoas achavam que era normal discriminar pessoas negras, ou mesmo fazer piadas constrangedoras e sem graça. É bem desagradável encontrar essa discriminação nas palavras de um dos maiores escritores brasileiros, isso nos deixa constrangidos e embaraçados. Afinal, se um escritor, que conhece tão bem as palavras, se expressa dessa forma, imagine as pessoas comuns!

Sim, isso é uma coisa muito ruim encontrada na obra do Lobato, mas não faz seus livros serem menos interessantes, nem tira a sua importância na nossa literatura. Isso fala sobre a nossa história e nossa formação, e não devemos esquecer nossa história, por mais triste que ela seja. O importante é conversar sobre isso, comentar, apontar, refletir. Não finjam que nada está acontecendo. É preciso trazer para a consciência sempre que percebemos a linguagem depreciativa no texto, e seguir pensando em maneiras de retratar o racismo presente em nossa linguagem. A busca deve ser sempre pelo respeito, por nos tratarmos bem uns aos outros, sem discriminar ninguém por ser diferente de mim!

Fica aqui o convite para o mergulho na obra original de Monteiro Lobato. Com o olhar atento, tenho certeza que todos vão se apaixonar por sua narrativa criativa e inteligente.

Conheçam a casa engraçada!

Por Paula Lisboa

“Era uma casa muito engraçada não tinha teto não tinha nada…” Quem aqui não conhece essa música? Acho que quase toda criança e adulto brasileiro sabe cantar direitinho até o final: … “mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos número zero!”.

O que poucos sabem, é que essa cantiga foi composta inspirada em uma casa que existe de verdade! Parecendo um castelo branco à beira mar localizado no Uruguai, a casa construída ladrilho por ladrinho pelo artista Carlos Vilaró, demorou 30 anos para chegar ao que é hoje, e se chama Casapueblo.

Vilaró era amigo pessoal de Vinicius de Moraes, o poeta compositor dos poemas do livro A Arca de Noé, tão conhecidos das crianças. Ele conta que Vinicius cantarolou dessa forma o primeiro verso do poema, em uma de suas visitas ao amigo: “Era uma casa muito engraçada, não tinha portas, não tinha nada, era uma casa de pororó, era a casa de Vilaró”.

Casapueblo é mesmo uma casa engraçada, parece que está suspensa no meio da montanha. Hoje ela é um museu, galeria de arte e hotel. O compositor Toquinho, responsável por transformar as poesias do livro A Arca de Noé em música, descreve Casapueblo: “A casa é bem diferente, à beira de um penhasco, parece levitar ao pôr-do-sol. Fica a imagem de uma casa engraçada. Sem teto, sem chão, sem parede. Eis a magia da poesia de Vinicius”.

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VilaLê Butantã

por Lucas Meirelles

 

Num misto de testemunho e chamada para novos leitores, escrevo esse texto sobre o livro que estamos lendo no VilaLê do Butantã e como estão acontecendo os encontros desse clube de leitura nos tempos da quarentena.

Antes da pandemia acontecer, tivemos um encontro presencial na unidade Butantã onde nos conhecemos, comemos pipoca e escolhemos o livro para iniciar a leitura.

Assim que o isolamento foi iniciado e a escola fechou por conta disso os encontros foram cancelados, voltando depois de algumas reuniões e acertos. Fizemos também uma nova escolha de livro, por questões de adequação do escolhido anteriormente, e finalmente iniciamos a leitura, no dia 17 de abril, de Anne de Green Gables (1908), de Lucy Maud Montgomery.

 

 

 

 

 

 

 

 

A leitura desse clássico tem sido uma grata surpresa. É uma história que se passa numa fazenda no Canadá. Um casal de irmãos resolve adotar um menino para ajudar na fazenda Green Gables, porém chega uma menina, Anne. A partir dessa confusão inicial, a história da menina vai tocando em temas como identidade, aceitação, preconceito o que, com ajuda da série “Anne with an E”, tornou o livro mais popular e atual.

Agora os encontros estão acontecendo semanalmente, via Google Meet, e mantivemos a pipoca. Cada integrante do clube além de ser responsável por ler os capítulos, também pode fazer (ou pedir aos responsáveis) sua pipoca, que antes era compartilhada por todos no dia do encontro.

Estamos quase terminando o livro e, em breve, escolheremos outros títulos para lermos juntos (tomara que já consigamos estar na escola quando isso acontecer, mas se não acontecer, tudo bem). Todas e todos do Fundamental 2 do Butantã e Morumbi podem participar. Vamos?

Breve História das Bibliotecas

por Lucas Meirelles

Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura (RJ)

Como parte das atividades realizadas pela equipe das bibliotecas após as férias entre maio e junho de 2020, a oficina “História das Bibliotecas” foi apresentada ao F2. Parte relato, parte apresentação, esse post apresenta também algumas outras curiosidades sobre a história das bibliotecas.

Biblioteca vem do grego, composto de biblion — “livro” e theca — “depósito”.

Mas antes de falar sobre como a humanidade tratou de organizar suas informações em bibliotecas, seus pergaminhos, papiros e livros, é importante falar antes sobre a mudança que os suportes da informação sofreram durante a história, sejam eles minerais, vegetais ou animais.

Os primeiros suportes de informação, possíveis de serem reunidos em uma biblioteca, foram os tabletes de argila nos quais, com o auxílio de pedras e cunhas, registravam-se as informações.

Imagem possível do acervo da Biblioteca de Alexandria

Depois apareceu o pergaminho (possivelmente com esse nome por conta da cidade de Pérgamo, onde também tinha uma grande biblioteca), feito de pele de animais como ovelhas, cabras e carneiros. Elas eram esticadas e tratadas quimicamente e fisicamente para ficarem lisas, limpas e claras o suficiente para escrever em cima. Bem próximo ao pergaminho, o papiro e tempos depois, o papel, apareceu para fechar os suportes vegetal, animal e, agora, o vegetal. O papiro vem da planta de mesmo nome e suas fibras eram trançadas para dar um aspecto liso e claro para a escrita poder ser feita.

As bibliotecas acompanharam a trajetória dos suportes e foram se organizando para as informações e a(s) história(s) serem preservadas. Na Antiguidade e até meados da Idade Média as bibliotecas eram principalmente lugares de registro e preservação do conhecimento. E é importante apontar que esse conhecimento era para poucos que sabiam ler e escrever e que, com isso, detinham o poder de decisão de como as informações circulavam.

Já na Grécia, começam as primeiras bibliotecas públicas e o espaço das bibliotecas também é utilizado em discussões, pesquisas, etc. E assim, esse espaço vai evoluindo, durante o período da Idade Média na Europa. Passam a figurar três tipos de biblioteca: monacais (mosteiros e conventos com seus monges copistas), particulares (principalmente de sacerdotes, reis e imperadores) e universitárias (início das primeiras universidades e maior possibilidade do conhecimento circular entre mais camadas das populações).

Da Idade Média aos dias de hoje as bibliotecas foram evoluindo, mudando práticas e pensando não só em registrar e preservar, mas em disseminar de forma organizada o conhecimento. E essa disseminação foi em grande parte ajudada pela revolução da imprensa, aperfeiçoada por Johannes Gutenberg e a invenção da prensa móvel, que facilitaram aos códices e ao livro ser mais difundido e popularizado.

Biblioteca da Universidade de Oxford

Para finalizar e pensando na história dos suportes, as bibliotecas digitais são uma volta às bibliotecas minerais, já que muitos componentes dos servidores nos quais as bibliotecas estão locadas, fazem parte de famílias dos minerais.

Então, fica o convite para conhecerem a World Digital Library, biblioteca criada em acordos entre Library of Congress, UNESCO e diversas bibliotecas particulares e nacionais do mundo todo, que reúne manuscritos, fotos, mapas e diversos outros documentos desde 8.000 a.C.!