A Terra Partida

por Lucas Meirelles

 

Retomando as leituras da quarentena – do final do ano passado para esse – me programei a ler uma trilogia. Há muito tempo indicado por amigos e podcasts comecei a ler os três livros da série A Terra Partida, da escritora N. K. Jemisin. Ela é negra, norte-americana e já tem uma grande produção de ficção científica e fantasia. Essa série especificamente – mas conta-se que faz parte da literatura dela – aborda temas como violência, justiça social, racismo e relações humanas (o que é que pode ser identificado como “humano” dentro da ficção científica?). E além disso, traz protagonismo feminino para as personagens principais.

Barcelona 06 06 2017. A ganhadora do prêmio Hugo de ficção científica 2016, a escritora N. K. Jemisin posa na livraria Gigamesh. Fotografia de Jordi Cotrina.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os livros da série são na ordem: A Quinta Estação, O Portão do Obelisco e O Céu de Pedra.

Foram publicados originalmente entre 2015 e 2017 e foram vencedores do Prêmio Hugo de Melhor Romance, nos anos de 2016 a 2018. Sou geralmente muito cético quanto a ler críticas, saber de um júri que escolhe uma obra para alguma premiação, mas dessa vez tive que dar o braço a torcer e reconhecer o merecimento de tanta aclamação. É realmente uma ótima série e vale cada minuto lido.

A história se baseia num planeta com um continente chamado Quietude e, de tempos em tempos, o mundo é destruído por falhas sísmicas, explosões de gases letais, para dar início a um novo mundo renascido das cinzas. Cada renascimento é conhecido como uma nova Estação. As pessoas que moram nesse continente são divididas em sete castas que não permitem mobilidade social. Cor de pele, gênero e sexualidade têm peso dentro de cada casta também, com medidas diferentes. As protagonistas desde o começo do primeiro livro são orogenes (palavra criada pela autora para designar pessoas que tem o poder de sentir e criar/destruir a partir dos movimentos da terra) que sofrem por terem o poder da orogenia. Há também um jogo de palavras com o diminutivo – e pejorativo – de orogene que é “rogga”, inspirado na palavra do inglês “nigga”. Então elas sofrem com o poder, com o nome e usam isso para transformar relações e o mundo a sua volta.

A saga das personagens é de sobrevivência contra as forças da natureza nesse fim do mundo, e tudo o que leva a esse término. É confuso no começo para se ambientar com as personagens, o enredo, os nomes, mas bastante cativante durante esse processo fazendo os três volumes serem rapidamente lidos.

 

A quinta estação/ O Portão do Obelisco/ O Céu de Pedra
Série: A Terra Partida
Autora: N. K. Jemisin
Tradutora: Aline Storto Pereira
Editora: Morro Branco
Ano de publicação: 2017/ 2018/ 2019

 

Dez sugestões de leitura em capítulos para crianças de 6 a 8 anos

Por Paula Lisboa

Tem tanto livro bom publicado por aí que é praticamente impossível fazer uma lista curta com os melhores livros infantis e infantojuvenis. A lista que vamos apresentar aqui é apenas uma pincelada de dez títulos que consideramos boas opções de leitura para realizar com as crianças nos primeiros anos do Fundamental 1.

Lembrando sempre que um bom livro não tem uma idade certa para ser lido, na verdade podemos considerar que a indicação etária é mais no sentido de “a partir de”, e não como um recorte absoluto. Ou seja, esses livros também podem ser lidos e apreciados por crianças mais velhas.

Vale lembrar que na hora de oferecer um livro para a criança devemos considerar se ela vai fazer a leitura sozinha, o que requer mais maturidade e capacidade leitora, ou com a mediação de um adulto, que pode tirar dúvidas, trazer informações, oferecer apoio na compreensão.

Também quero aproveitar para lembrar que é possível consultar o acervo das nossas bibliotecas direto da sua casa. Basta clicar nesse link de acesso ao acervofazer a busca pelo título ou autor, e ter acesso ao número de exemplares assim como às sinopses de cada livro.

Aqui estão nossas dez sugestões de livros com sucesso garantido entre as crianças de 6 a 8 anos!

CARRANCA, Adriana. Malala, a menina que queria ir para a escola. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2015. 95 p.

Malala Yousafzai quase perdeu a vida por querer ir para a escola. Ela nasceu no vale do Swat, no Paquistão, uma região de extraordinária beleza, cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Foi habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, como nos contos de fadas. Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Quando tinha dez anos viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã. Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras. Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram que somente os meninos poderiam estudar. Mas Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola, sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do atentado, hospedou-se com uma família local e conta neste livro tudo o que viu e aprendeu por lá. Ela apresenta às crianças a história real dessa menina que, além de ser a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz, é um grande exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.

 

COLFER, Eoin. Pânico na biblioteca. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. 94 p.

Em PÂNICO NA BIBLIOTECA, o irlandês Eoin Colfer ― vencedor do British Book Awards e WH Smith, prestigiosos prêmios de literatura infantil na Inglaterra ― cria uma história que é diversão garantida para leitores dos oito aos oitenta anos. Colfer conta a história de uma família para lá de movimentada, com cinco irmãos muito levados e amigos cheios de planos infalíveis.

 

 

 

 

 

 

 

DAHL, Roald. Matilda. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. 254 p.

Matilda adorava ler. Passava horas na biblioteca, lendo um livro atrás do outro. Mas, quanto mais ela lia e aprendia, mais aumentavam seus problemas. Os pais viam televisão o tempo todo e achavam muito estranho uma menina gostar tanto de ler. A diretora da escola achava Matilda uma fingida, pois ela não acreditava que uma criança tão nova pudesse saber tantas coisas. Depois de mil peripécias, em que tentou se livrar da tirania dos pais e da diretora, Matilda acabou encontrando a compreensão de uma professora, srta. Mel, com quem foi morar.

 

 

 

 

 

 

 

LENAIN, Thierry. A estranha Madame Mizu. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2006. 94 p.

Enredo ágil, personagens consistentes e fidelidade ao humor das crianças são as características básicas dessa história sobre uma menina e uma velha que habitam o mesmo prédio. Zoé mora no andar de baixo, madame Mizu mora no andar de cima. Zoé é solitária: não tem irmãos e seus pais ficam fora de casa o tempo todo, trabalhando sem parar. Madame Mizu, por sua vez, é bruxa. Ou melhor: só pode ser – mas se de fato é ou não é, eis uma questão que só será resolvida no fim do livro. Na sua solidão, Zoé tem bons motivos para se assustar com os ruídos estranhos que vêm do apartamento de cima (bengaladas e gargalhadas, por exemplo). Mas ela é corajosa também, e tem uma imaginação que sempre inventa novas maneiras de provocar a bruxa. Mas cutucar a onça com vara curta pode ser uma brincadeira muito perigosa…

 

 

 

LINDGREN, Astrid. Píppi Meialonga. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2018. 207 p. 

Autora de mais de oitenta livros já traduzidos para mais de setenta línguas, a sueca Astrid Lindgren escreveu “Píppi Meialonga” em 1945, como presente para os dez anos de sua filha. Píppi é uma menina de nove anos incrivelmente forte. Não tem pai nem mãe e mora sozinha, mas feliz da vida. Seus companheiros são um cavalo e um macaquinho. Ela mesma faz suas roupas – bem esquisitas – e sua comida – biscoitos, panquecas e sanduíches. Destemida e sapeca, lembra a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Píppi tem sempre uma resposta na ponta da língua e demonstra grande confiança em si mesma. Dá uma surra em cinco meninos brigões, engana os policiais que querem levá-la para um lar de crianças, põe dois ladrões a correr e enfrenta um touro a unha. Nada convencional, causa espanto e confusão por onde passa, seja na escola, no circo ou na casa de seus vizinhos. É, enfim, uma menina que realiza sonhos de liberdade e aventura. Absolutamente encantadora.

 

 

LISPECTOR, Clarice. O mistério do coelho pensante e outros contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 78 p. 

Coelhos não pensam como a gente, mas podem ter idéias e descobrir coisas. Eles compreendem o mundo com o nariz. Franzindo e desfranzindo o narizinho, Joãozinho, o coelho pensante, cheirava idéias. A primeira idéia que cheirou foi uma maneira de fugir da gaiola de ferro. Escapava sempre que não tinha comida, mas, depois, tomou gosto pela liberdade e fugia para passear, descobrir o mundo e visitar a namorada e os filhotinhos. Como conseguia sair da gaiola, ninguém até hoje soube explicar. Quem sabe se franzindo bem o nariz a gente consiga ‘cheirar’ alguma idéia e descobrir esse mistério…

 

 

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019. 247 p. 

Reinações de Narizinho é o primeiro de uma série de livros que abriria as porteiras do Sítio do Picapau Amarelo para os pequenos leitores do Brasil. Com seu universo único e encantador, as aventuras que Narizinho, Pedrinho, Emília e tantos outros personagens vivem nos arredores do Sítio e no Reino das Águas Claras marcaram a história da literatura brasileira e consagraram Monteiro Lobato como o grande nome de nossa literatura infantojuvenil. Esta nova edição de luxo, organizada por Marisa Lajolo, vem acompanhada por um texto introdutório que explica o contexto cultural da época de publicação do livro e debate as questões polêmicas relacionadas à obra de Monteiro Lobato. Traz também notas de rodapé em formato de diálogo entre as personagens, que explicam o vocabulário e os costumes do Brasil da década de 1920, além de ilustrações que reinterpretam a turma do Sítio.

 

 

ONDJAKI. A bicicleta que tinha bigodes: estórias sem luz elétrica. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. 86 p. 

Esse livro é um verdadeiro abraço de amizade e de solidariedade. A Rádio Nacional de Angola promove um concurso e oferece como grande prêmio uma bicicleta para a criança que escrever a melhor história. Esse é o pano de fundo para a ficção emocionante de Ondjaki, que nos remete à fantasia presente na infância – amizade, ternura, descobertas –, mas também ao reflexo nas crianças do processo político do país. Nos damos conta, entre outras tantas coisas, que a busca por algo pode ser mais valiosa que a própria conquista. E que viver boas histórias pode ser tão, ou mais emocionante, que saber inventá-las.

 

 

 

 

 

 

PENTEADO, Maria Heloisa. A outra Marina. São Paulo: Global, 2004. 40 p. 

Em A Outra Marina, a criança será seduzida pela curiosidade, coragem e sensibilidade da personagem. Marina sabia, tinha certeza, que Dona Lili tinha um segredo. Um segredo dela e do mar. Precisava descobrir. Porém, o que a menina não sabia era que, ao descobrir o local onde a velha arranjava aquelas belezas de conchas vendidas aos turistas, viveria duas experiências. Uma seria perigosíssima – Dona Lili era uma bruxa terrível e assustadora. A outra, maravilhosa – o encontro de uma outra Marina. Igualzinha a ela. Uma outra Marina para poder brincar, brigar e enfrentar as maldades da velha feiticeira. Imaginação ou realidade?

 

 

 

 

SOMMER-BODENBURG, Angela. O pequeno vampiro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 135 p. 

Anton adora ler histórias de terror, principalmente de vampiros, aqueles seres terríveis, com dentes enormes e afiados. Mas Anton nunca tinha ouvido falar de um vampiro como Rüdiger. É um vampiro muito simpático que, como Anton, também gosta de ler. Com ele dá até para brincar de “mocinho e bandido”.

 

CONTOS COM REPETIÇÃO

Por Paula Lisboa

Quando observamos as estruturas das histórias tradicionais, ou seja, a forma como a narrativa dessas histórias é organizada, podemos identificar com muita frequência contos com repetição de diferentes tipos. Pode ser uma fala que se repete, ou algum evento ou ainda uma ação. Os chamados contos com repetição se caracterizam por apresentar uma estrutura que contém sequências recorrentes, que se repetem ao longo da trama.

Um exemplo de conto de repetição que é bem conhecido e muito adorado pelas crianças é o Caso do Bolinho, aposto que você conhece! A versão que mais circula é essa da Tatiana Belinky, com diferentes ilustrações em cada edição, mas o reconto é o mesmo.

O Caso do Bolinho |O Caso Do Bolinho - Coleção Hora Da Fantasia (Em Portuguese do Brasil): Tatiana Belinky: 9788516041328: Amazon.com: Books

 

Entre os contos tradicionais, é muito comum encontrarmos diferentes versões de uma mesma história, que trazem variações em função da região de origem e da forma como cada pessoa reconta. Vou apresentar pra vocês outra história muito semelhante ao Caso do Bolinho, recontada pela Linda Rode, no livro Na Terra do Nunca Jamais. 

“Rola, pãozinho, rola”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em um dia frio e nevoento, uma mulher fez três pãezinhos redondos para o marido, que ficaria no campo o dia todo, carpindo um lote de terra. A mulher pôs os três pãezinhos em um prato para que esfriassem. O maior e o médio repousaram tranquilos e fumegantes no prato. Mas o menor deles, tostadinho de dar água na boca, remexeu-se e agitou-se até ficar de pé. Rolou para fora do prato, saiu pela porta e desceu girando e rodando pela encosta da colina onde ficava a pequena casa.

-Ninguém vai me comer! – ria ele, com sua risada rouca de pãozinho. – Eeeeeeee! Estou livre, livre, liiiivre!

Mas, ah, não!, no pé da colina, o pãozinho chegou à margem de um rio largo e agitado. E agora? Como chegar ao outro lado? Os juncos que cresciam à margem suspiraram e sussurraram, e no meio deles uma raposa ruiva mostrou a ponta de seu tocinho preto.

-Ah, pobre pãozinho – disse a raposa, lambendo os lábios com sua longa língua cor-de-rosa. – Vejo que está com um problema. Mas eu posso levá-lo até o outro lado.

-Não, não, obrigado – respondeu o pãozinho, com sua vozinha rouca. Você quer me comer, eu sei.

-De jeito nenhum! – protestou a raposa. – Sente-se na ponta da minha cauda, onde ficará seguro, e eu o levarei para o outro lado.

O pãozinho rolou para cá, rolou para lá e então disse:

-Está bem. Assim parece seguro. – Ele pulou para a ponta da cauda da raposa, e a raposa entrou na água.

Logo o rio ficou mais fundo. A raposa começou a nadar e disse:

-Venha para minhas costas, pãozinho, ou ficará molhado.

E o pãozinho rolou para as costas da raposa.

-Venha para meu pescoço, pãozinho, a água está ficando muito funda. Na metade do caminho, a raposa falou:

E o pãozinho rolou para o pescoço da raposa. A três quartos do caminho, a raposa disse:

-Venha para a ponta do meu focinho, pãozinho, ou você vai se encharcar!

Ainda acreditando que estava seguro, o pãozinho, tostadinho de dar água na boca, rolou para a ponta do focinho preto da raposa. Vuup. A raposa balançou o focinho no ar, apanhou o pãozinho na descida e crunch-crunch, comeu-o sem cerimônia.

Rindo de satistação, virou-se e nadou de volta.

Esse é um exemplo de repetição de fala e de ação, quando uma mesma sequência de fala e ação se repete, com uma pequena mudança a cada vez. Outra forma de repetição são as situações que se justapõem, que vão se somando em sequência, como quando um ou mais personagens realizam ações sucessivas que se repetem, podendo ser de acumulação – daí as histórias acumulativas -, ou de subtração – como os tangolomangos.

Os contos acumulativos são muito comuns nas Américas e em Portugal, mas aparecem no folclore de diversas partes do mundo.  Muitos contos desse gênero e em diferentes versões já foram recolhidos no Brasil por vários autores, em muitos casos de origem portuguesa, espanhola ou africana, com acréscimos e alterações locais.

No mesmo livro já citado, a compiladora de contos Linda Rode conta uma história que é um bom exemplo de conto acumulativo, onde as situações vão se justapondo, se somando sucessivamente.

“Piggy-Wiggy vem do mercado”. RODE, Linda. Na terra do Nunca-Jamais. São Paulo: Martins, 2014. Ilustrações Fiona Moodie.

Em uma região na África, onde cacaueiros e bananeiras crescem altos e viçosos, certo dia um menino foi ao mercado. Seu nome era Kofi. Sua mãe lhe deu dinheiro, um punhado de amendoins para comer pelo caminho e lhe disse para comprar um porco.

Kofi escolheu um porco pequeno e gordo. Ele assobiava enquanto voltava com seu porquinho. Porém, antes de chegar em casa, havia um rio para atravessar. Piggy-Wiggy empacou.

-Oinc, óinc- grunhiu ele., -Não vou entrar na água.

Kofi pediu:

-Por favor, Piggy-Wiggy, não se negue a se molhar,

Ou a gente não chega até a hora de deitar.

Mas Piggy não quis entrar na água.
Koi caminhou pela margem do rio. Viu um cachorro e disse:
-Cachorro, Cachorro, por favor, morda o Porco.
O Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Cachorro não quis morder o porco.
Kofi continuou andando. Ele viu uma vareta e disse:
-Vareta, Vareta, por favor, bata no Cachorro.
O Cachoro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Vareta não quis bater no Cachorro.
Koi andou um pouco mais pela margem do rio. Ele viu um fogo aceso e disse:
– Fogo, Fogo, por favor, queime a Vareta.
A Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu no vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas o Fogo não quis queimar a Vareta.
Então, Kofi falou com a água do rio:
-Água, Água, por favor, apague o Fogo.
O Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
Mas a Água não quis apagar o Fogo.
Kofi viu, então, uma enorme cobra enrolada entre os juncos e disse:
-Cobra, Cobra, por favor, beba a Água.
A Água não quer apagar o Fogo,
o Fogo não quer queimar a Vareta,
a Vareta não quer bater no Cachorro,
o Cachorro não quer morder o Porco,
o Porco não quer atravessar o rio.
Desse jeito eu não vou conseguir chegar
antes da hora de me deitar.
-SSsSssim – sibilou a enorme cobra, -Essstou messsmo sssedenta. Bassstam algunsss golesss, e o rio ssserá terra barrenta.
E a Cobra começou a beber a Água. Sssip, sssip, sssip…
A água ficou com medo e apagou o Fogo.
O Fogo queimou a Vareta.
A Vareta bateu no Cachorr0.
O Cachorro mordeu o Porco.
O Porco atravessou o rio, splish-splash-splosh!
E Kofi chegou à sua casa antes da hora de deitar, com Piggy-Wiggy trotando na frente.
-Muito bem, Kofi -disse sua mãe, antes de lhe servir mandiocas cozidas bem molinhas para o jantar.
E quem quiser ler ou ouvir mais exemplos de contos com repetição, aqui vão algumas dicas disponíveis na internet.

A história da pimenta: uma das muitas variações da história do macaco que perdeu a banana

Doze contos acumulativos: doze exemplos de contos acumulativos transcritos

Malaquias, o macaco cismado: outra versão do macaco que perde alguma coisa, áudio 

Baú de Histórias – Coca Recoca : vídeo de conto com repetição, com música

Baú de Histórias – A Velha a fiar: vídeo da música cantada, com narrativa acumulativa

Contos indígenas e africanos

por Lucas Meirelles

modo: tirando a poeira o blog

Bom dia, boa tarde, boa noite!

Já iniciamos o ano de 2021 há um tempo e vamos voltar a publicar conteúdo aqui para o blog 🙂

Para iniciar falaremos sobre  contos indígenas e africanos (fruto de uma pesquisa para a Educação Infantil e de nossa constante atenção). Com isso, não pretendemos esgotar o assunto, mas certamente abrir possibilidades para discussões futuras.

Em nosso acervo, essas duas expressões de contos estão alocados em classes distintas e separadas do restante da literatura infantojuvenil. Estão dentro da Coleção de Literatura Infantojuvenil (CIJ) e dentro de Contos, mitos e lendas – dentro dessa classe as histórias são separadas por nacionalidades, povos e/ou etnias.

Ambos os indígenas e africanos são contos, geralmente, bastante conhecidos, lidos, adaptados e até corporificados em contos, mitos e lendas ditos brasileiros. Temos uma cultura muito diversa com influências dos povos de dentro e dos povos de fora, trazendo algumas dificuldades para saber a exata localidade do conto e saber se é um conto tradicionalmente brasileiro ou de algum outro povo. Muitos desses contos têm características similares a outros contos folclóricos: contos com animais que falam, contos de repetição, histórias com dilemas, fantasia e aventura, etc.

E esses contos ainda têm raízes de tradições orais, então não é fácil ter certeza do local ou do povo que criou o conto. Devemos muito a antropólogos, antropólogas e pessoas que estudaram (e estudam) o folclore por sabermos as histórias.

A África são muitas. Grande parte da imigração de lá para o Brasil se deu por conta do triste período do tráfico de escravos para o Brasil. Atualmente essas imigrações chegam também por conta de guerras e outros problemas socioambientais, e também por algum acordo entre os países lusófonos (na África temos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe). As religiões e sociedades africanas são tantas e muito representadas dentro da literatura e das histórias, trazendo esses pontos de vistas.

Sem medo de ser redundante: os povos indígenas do Brasil também são muitos! E sobre os contos indígenas comentamos os criados e contados a partir da chegada dos portugueses e da divisão territorial do Brasil (dizimação de populações de diversas tribos, processos de aculturação, etc.). Por muito tempo (até hoje!) os povos originários sofrem com seus territórios e a luta é constante. Os contos têm, em geral, uma grande complexidade e uma fase de adaptação na leitura. Hábitos alimentares, espiritualidades, relações com a natureza são algumas das adaptações que grande parte dos leitores e leitoras precisam passar quando não têm um contato mais significativo com culturas indígenas.

Ler essas literaturas, nos faz apreciar e conhecer culturas únicas e que, por mais diferentes que sejam, podem nos aproximar e fazer perceber o quão parecidos somos todos – ou que não temos nada a ver também 🙂

Para saber mais sobre literatura infantojuvenil e sobre povos indígenas e africanos, indicamos os seguintes sites:

… além, é claro, de nosso acervo de literatura infantojuvenil!!

O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos

por Lucas Meirelles

 

Final do ano chegando: festas, encontros e celebrações. Um fim de um ano muito estranho e diferente. E que com bastante cuidado e afeto pode ser celebrado e resoluções de ano-novo são muito bem vindas.

Pensamos, em uma de nossas reuniões, em muitas histórias de Natal, de fim de ano, e decidimos, numa espécie de celebração, pela história do Quebra-Nozes para ser feita a leitura e presentear nossas leitoras e nossos leitores.

“O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos” é um romance natalino de E.T.A. (Ernest Theodor Amadeus) Hoffmann, publicado em 1816. É uma fantasia muito conhecida dentro do imaginário ocidental, sendo adaptado para outras obras literárias, para o balé, cinema, teatro, música, etc. Muitas transformações de um grande romance.

Adotamos essa versão da editora Zahar (que conta também com a versão de Alexandre Dumas, que inspirou o balé “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky). Resolvemos, então, cada membro da equipe revezar a leitura dos capítulos. Vocês podem acompanhar os vídeos nessa playlist aqui.

 

Boas festas, um ótimo ano novo e até breve!

Música que inspira literatura ou literatura que explica música?

por Lucas Meirelles

Ilustração de André Neves

Música e literatura andam lado a lado. Por vezes bem juntas. Por outras, mais separadas. Mas sempre uma de olho na outra.

Na formação do nosso acervo, vez por outra nos esbarramos em livros sobre música e também músicas explicadas ou traduzidas em livro. Há uma aproximação explícita da poesia estar entre a música e a literatura. Muitas poesias são musicadas e transformadas, então, da literatura para a música.

Fiz um levantamento sobre essa intersecção com alguns exemplos mais óbvios e outros que demandam mais atenção às insinuações musicais. Muitas publicações que poderiam fazer parte desse levantamento ficaram de fora por conta do tamanho da lista e, principalmente, para poder instigar a curiosidade em conhecer mais o acervo de nossas bibliotecas. Além desse levantamento, temos publicações de biografias de músicos e músicas, livros sobre ritmos musicais, livros sobre música e sociedade, songbooks, teoria musical, enfim, muita coisa disponível se quiser saber mais sobre. Inclusive, se tiver indicações, pode compartilhar nos comentários ou conversar com a gente!

 

Amoras / Emicida ; ilustrações Aldo Fabrini. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2018. [44] p.

O primeiro título é o Amoras, do cantor Emicida. O livro nasceu a partir da música de mesmo nome do livro. Essa adaptação da música para a literatura infantojuvenil é feito de um jeito simples, mas poderoso, trazendo bonitas ilustrações que conversam com a história/letra da música e dá o ritmo da leitura. Vocês já pensaram em ler esse (ou outro) livro ouvindo música? Será que ajuda? Atrapalha? O que vocês acham?

 

 

Os saltimbancos / Sergio Bardotti ; tradução e adaptação Chico Buarque ; música Luis Enrique Bacalov ; ilustrações de Ziraldo. Belo Horizonte : Autêntica, 2017. 31 p.

Pensei nesse título primeiro por uma questão afetiva. Esse livro – na verdade, o vinil com as músicas – me acompanha desde a primeira infância. Ouço sempre as músicas d’Os Saltimbancos e sempre me emociono. Acompanhar os acontecimentos da vida do cachorro, da gata, do burro e da galinha é muito legal. A história foi criada como uma peça teatral musical por um italiano, o Sergio Bardotti, foi musicada por um argentino, o Luis Enriquez Bacalov, e adaptado aqui pro Brasil pelo compositor Chico Buarque. E essa edição conta ainda com ilustrações do Ziraldo!

 

Foxtrote / Helme Heine ; tradução José Feres Sabino. São Paulo : Iluminuras, 2013. [32] p.

Foxtrote é uma raposa. E também é o nome de uma dança criada no começo do século passado. A história de Helme Heine é sobre essa raposa bem musical numa família silenciosa. E música e silêncio fazem uma bela dupla e podem transformar o mundo dessa família e outros mundos também.

 

 

 

 

O fantasma da ópera / Gaston Leroux ; apresentação Rodrigo Casarin, tradução e notas André Telles. Rio de Janeiro : Zahar, 2019. 320 p.

Esse livro é um clássico da literatura gótica, lançado entre 1909 e 1910. Foram feitas tantas adaptações para cinema, teatro, televisão, ópera que o texto original é muitas vezes esquecido. É a história de uma cantora de ópera que é raptada por um fantasma que a mantém até ela amar ele. Porém, antes dela ser raptada há um antigo amor que reaparece vai lutar para salvar ela do fantasma.

E ópera junta-se perfeitamente nesse levantamento, pois é a junção do teatro com a música!

 

Igor, o passarinho que não sabia cantar / história e ilustrações Satoshi Kitamura ; tradução de Eduardo Brandão. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2006. [30] p.

Igor é um passarinho desafinado que, por mais que tente, não consegue cantar junto dos outros. Treina, consegue aulas de canto, ensaia e nada. Pensa em desistir e até foge de casa, mas algo acontece que pode mudar esse pensamento.

 

 

O canto das musas : poemas para conhecer, ler, recitar e cantar / Aline Evangelista Martins, Cibele Lopresti Costa & Péricles Cavalcanti ; organização: Zélia Cavalcanti. São Paulo : Companhia das Letras, 2012. 175 p.

Esse livro é uma coletânea de poesias brasileiras e portuguesas. São poemas que, com a ajuda das Musas, podem ser analisados e relacionados com música. A sonoridade, a melodia, o ritmo, as repetições, os silêncios e todas as características das poesias que se entrelaçam com a música e seus ritmos.

Uma coisa boa de se pensar/fazer depois desse livro é buscar outros livros de poesia e pensar em ritmos e melodias para os poemas.

 

 

Strange fruit : Billie Holiday e a biografia de uma canção / David Margolick ; apresentação, André Midani ; prefácio, Hilton Als ; tradução, José Rubens Siqueira. São Paulo : Cosac Naify, 2012. 141 p.

Strange fruit destoa um pouco dos outros títulos desse levantamento aparentemente mais infantis. E é a história de uma música – a música que virou um símbolo da cantora de jazz Billie Holliday e também uma canção de protesto numa época nos Estados Unidos em que as leis de segregação racial estavam sendo discutidas e manifestações violentas de racismo estavam acontecendo. Não é uma leitura tranquila, devido ao tema, mas pelo visto, bastante atual. Muitas vezes pensando, ou sem pensar, a escolha de uma música tem um grande poder de transformar.

Os três mosqueteiros

Imagem do filme “Os três mosqueteiros”, de 1948, dirigido por George Sidney.

“Um por todos, todos por um!”

 

O lema acima citado faz parte do imaginário criado pela obra de Alexandre Dumas, Os três mosqueteiros. É um romance de capa e espada publicado em 1844 e fez parte da segunda leitura do ano do VilaLê (clube de leitura da Escola da Vila), da unidade Butantã. Durante quase 800 páginas, vivemos as aventuras e amores de D’Artagnan, Porthos, Athos e Aramis e seus lacaios, com histórias ficcionalizadas do Cardeal de Richelieu e do rei francês Luís XIII, do cerco de La Rochelle e outras personalidades da nobreza francesa e inglesa da época.

 

 

Teremos no nosso último encontro desse ano, no dia 30 de novembro, a participação de um dos tradutores do livro, o escritor Rodrigo Lacerda. Perguntas como “Por que são quatro mosqueteiros e no título são só três?”, “Quem governava a França? O cardeal ou o rei?” poderão ser respondidas nesse dia. Faremos um debate virtual sobre o livro, cada um com sua pipoca!

Livros que conversam sobre agressividade e afins

por Paula Lisboa

É verdade que ler é bom por si só, independente de tema a ser trabalhado, ou objetivo a ser alcançado. Ler é gostoso e traz uma série de benefícios pra gente, sempre! Uma leitura também traz possibilidades de conversas, e pode ser gatilho disparador de muita reflexão tanto interna quanto compartilhada.

Levantei alguns títulos que acho especialmente interessantes quando queremos refletir sobre a agressividade existente em nós e nas relações. Se você lembrar de outros livros em torno do tema, compartilhe nos comentários! 

As garras do leopardo / Chinua Achebe com John Iroaganachi ; ilustrações de Mary GrandPré ; tradução de Érico Assis. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p.

No começo, todos os bichos eram amigos. Eles não tinham garras nem dentes afiados, nem mesmo o rei, o bondoso leopardo. A única exceção era o cachorro, que, com seus caninos pontudos, era motivo de gozação entre os animais. Certo dia, o cão, cheio de rancor, resolveu usar o que tinha de diferente para enfrentar o rei leopardo e se tornar o bicho mais poderoso da selva. E foi assim, a dentadas, que ele derrotou o grande líder, mandando-o para bem longe. Mas o leopardo logo retornaria. Dotado de um rugido ainda mais forte, de garras afiadas e dentes reluzentes, o antigo rei voltou para fazer justiça – e, a partir daí, a vida na selva nunca mais seria a mesma. 

Neste conto o escritor nigeriano Chinua Achebe fala de libertação e justiça, referindo-se ao doloroso processo de colonização de um povo. Podemos também encaminhar a reflexão sobre a ideia do uso da força bruta para exercer autoridade. Tem um interessante distanciamento que os contos populares proporcionam – refletir sobre um comportamento humano a partir de uma situação entre animais.

Pinote, o fracote e Janjão, o fortão / Fernanda Lopes de Almeida ; ilustrações de Alcy Linares. São Paulo: Ática, 2006. 32 p.

Janjão era o valentão da turma e nem imaginava que um menino pequeno como Pinote fosse capaz de derrotá-lo. Como era o mais forte, Janjão obrigava todos a fazerem o que ele quisesse, mas não contava com a possibilidade de não poder controlar o pensamento!

A força bruta parecia eficiente para controlar os amigos por um tempo, até Janjão perceber que não há força capaz de controlar o pensamento – e também os sentimentos – dos outros.  

Marilu / Eva Furnari. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 31 p.

Marilu achava tudo chato e sem graça – as nuvens bobas, as montanhas cinzas. Andava sempre aborrecida em seu mundo monótono e sem cor, até que, certo dia, viu uma garota carregando uma inacreditável lanterna multicolorida. Decidida a comprar uma igual, foi em busca da loja vermelha que a garota lhe indicara. Qual não foi sua surpresa, porém, quando depois de comprado o brinquedo começou a ficar cinza. Voltou à loja decidida a protestar, gritar e espernear, mas isso não resolveria o problema, que afinal não estava nas coisas, mas em sua maneira de olhar.

Uma ótima história sobre olhar o mundo com bom humor e assim ser mais feliz. Não adianta querer conquistar as cores da vida com raiva e xilique, mas sim a alegria interior, um modo de ver o mundo.

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Nós / Eva Furnari. São Paulo: Moderna, 2015. 31 p.

Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas. Os moradores da cidade a ridicularizavam e Mel sofria muito. Como se não bastassem as borboletas, um dia descobriu um nó no dedinho do pé. Depois, mais outro no dedo da mão, e mais outros, por isso Mel resolve ir embora. Do outro lado do rio, encontrou Kiko, um garoto também cheio de nós que a ensinou a desfazer nó de nariz, e ela dividiu com ele as borboletas.

Olhando pra menina Mel podemos sentir a tristeza causada pela falta de aceitação e o despropósito do ato de ridicularizar outras pessoas.

 

 

A ponte / Heinz Janisch ; ilustrações de Helga Bansch ; tradução de José Feres Sabino. São Paulo: Brinque-Book, 2012. 27 p.

O rio e a ponte que o atravessa guardam muitas histórias. Certo dia, um urso e um gigante topam um com o outro no meio da longa e estreita ponte. Nenhum deles aceita recuar, nenhum quer arredar o pé, mas não podem passar ao mesmo tempo. Como será que os grandalhões chegarão aos seus respectivos destinos?

Dois brutalhões diante de um problema que não dá pra ser resolvido na marra, na força bruta, na agressividade. Eles precisam baixar a bola para solucionar a questão. Juntos, conseguem encontrar uma forma até um pouco afetuosa para isso!

Nesse link você pode assistir um vídeo com a leitura desse livro.

Tonico, o invisível / Gianni Rodari ; ilustrações, Alessandro Sanna ; tradução, Franscico Degani.. São Paulo: Biruta, 2011. 30 p.

Tonico percebeu que estava invisível. Depois disso, fez muita confusão, trapalhada e descoberta. O que parecia ser muito bom – ficar invisível – significava também não ser visto por ninguém, mesmo quando queria um abraço, um bate-papo, uma brincadeira… Além de divertir, o livro do premiado autor Gianni Rodari leva à reflexão sobre as relações sociais cotidianas e pode provocar discussões muito interessantes: se você estivesse invisível, o que você faria? Parece legal provocar os outros e não levar nenhuma bronca, já que está invisível, mas e na hora de ir brincar com os amigos, também vai ser bom estar invisível? É preciso ser invisível para provocar as outras pessoas? Provocar os outros pode ser uma forma de se mostrar pra quem não está querendo te ver? Como você sentiria se de repente ninguém te visse? Por que ninguém vê o velhinho, ele também é invisível? 

Ninguém vai ficar bravo? / Toon Tellegen, Marc Boutavant ; tradução Patricia Broers Lehmann. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015. 82 p.

Em 12 capítulos curtos, vemos diversos animais zangados e irritados, em diferentes circunstâncias. Alguns tentam entender sua raiva, outros tentam controlá-la, e outros, ainda, deixam-se dominar por ela. São histórias engraçadas e incomuns, mas que também propiciam uma reflexão profunda sobre a natureza das emoções humanas.

Um livro incrível que provoca muita conversa sobre as nossas emoções. 

 

 

Três ursos / Cliff Wright ; tradução: Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book, 2008. 32 p.

Sem poder sair de casa por causa da pata quebrada, Urso Marrom está muito preocupado. Seus amigos, Urso Negro e Urso Branco estão se divertindo sem ele – mas na verdade eles estão preparando uma linda surpresa para o Urso Marrom. 

É interessante observar “de fora” a braveza do Urso Marrom, porque a gente sabe que ele não tem motivo pra ficar bravo. Lendo a história conseguimos perceber que ele não precisava se exaltar, mas as emoções podem ser difíceis de controlar… Quem nunca ficou muito bravo porque tinha alguma certeza e depois descobriu que não era nada daquilo?

João Cabral de Melo Neto

por Lucas Meirelles

João Cabral de Melo Neto completaria 100 anos agora em 2020. E é mais um da série dos homenageados do 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia!

O poeta pernambucano, nascido na capital Recife, foi também um diplomata, morando e servindo como cônsul em diversas cidades da Europa, África e América do Sul, ao mesmo tempo que era poeta. Publicou seu primeiro livro, Pedra do sono, aos 22 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro. Sua poesia começou com um certo surrealismo, mas foi se modificando com a linguagem e ritmo das palavras, que acabaram dando tons regionalistas e universais.

Seu poema Morte e vida Severina (1955), foi posteriormente musicado por Chico Buarque e transformado em filme e peça de teatro. E é talvez sua obra mais conhecida e estudada.

Foi também membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 37. Ganhou duas vezes o prêmio Jabuti de poesia, em 1967 e 1993, e, em 1990, o prêmio Camões, a premiação máxima da literatura em língua portuguesa. Faleceu no Rio de Janeiro em outubro de 1999, aos 79 anos.

Os livros que temos em nossas bibliotecas são:

sobre João Cabral:

  • BARBOSA, João Alexandre. João Cabral de Melo Neto. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. 105 p. (Folha explica ; 25). ISBN 9788574022888.

e de sua autoria:

  • MELO NETO, João Cabral de. O artista inconfessável. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 199 p. ISBN 9788560281206.
  • MELO NETO, João Cabral de. O cão sem plumas: e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 200 p. ISBN 9788560281190.
  • MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. xxii, 385 p. ISBN 8520908489.
  • MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. 294 p. ISBN 9788560281442.
  • MELO NETO, João Cabral de. A escola das facas: Auto do frade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. 196 p. ISBN 9788560281565.
  • MELO NETO, João Cabral de. Ilustrações para fotografias de Dandara. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. 31 p. ISBN 9788539001712.
  • MELO NETO, João Cabral de. Os melhores poemas de João Cabral de Melo Neto. 4. ed. São Paulo: Global, 1994. 231 p. (Os melhores poemas; 17). ISBN 852600025x.
  • MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina: auto de Natal pernambucano. Ed. especial. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. 108 p. ISBN 9788556520203.
  • MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida Severina: e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 169 p. ISBN 9788560281329.
  • MELO NETO, João Cabral de. Poemas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 239 p. (Para ler na escola). ISBN 9788573029628.
  • MELO NETO, João Cabral de. Sevilha andando: poesia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. 84 p. (Poesia brasileira). ISBN 8520901905.

Clarice Lispector

por Lucas Meirelles

 

Apresentamos agora mais uma centenária de 2020, homenageada no 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia: Clarice Lispector!

Clarice, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector, não é brasileira nascida, mas naturalizada. Nasceu em 1920, na cidade de Chechelnyk, na então República Popular da Ucrânia, hoje apenas Ucrânia.

Em 1922, por conta da Guerra Civil Russa e da perseguição aos judeus, ela e sua família chegam ao Brasil, em Maceió, Alagoas. Ficam por pouco tempo e se mudam para Recife, no Pernambuco, onde ela cresce até seus quatorze anos. Depois do Pernambuco, muda-se, com seu pai e suas irmãs (sua mãe havia falecido em 1930) para a capital Rio de Janeiro.

Cursou Direito na Universidade do Brasil (atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro) e já dava sinais que a literatura iria tomar a sua vida. Antes de escrever seus famosos contos, novelas, crônicas e romances, se aventurou antes em traduções e escritos para jornais.

Seu primeiro livro, Perto do coração selvagem (1943), é um romance que já traz sua marca de narrativa introspectiva, conquistando a crítica e também o Prêmio Graça Aranha em 1944, como melhor romance de estreia. Em janeiro de 43 ela se casou com o diplomata Maury Gurgel Valente, iniciando uma vida de muitas viagens e culturas por diversos países. Teve dois filhos Pedro Lispector Valente (1948) e Paulo Lispector Valente (1953). Entre casamento, viagens, filhos, fim de casamento e volta ao Brasil, Clarice continua escrevendo para jornais e lança alguns livros de contos, como Laços de Família (1960), Felicidade Clandestina (1971) e romances como A Cidade Sitiada (1949), A Paixão segundo G.H. (1964) e Água viva (1973). Sua última novela, lançada em vida, foi A Hora da Estrela (1977). Um tempo depois dessa publicação, ela foi hospitalizada com a detecção de um câncer de ovário, falecendo no final desse ano. Seus livros ganharam prêmios e alguns foram adaptados para teatro e cinema.

De Clarice e sobre Clarice temos nas nossas bibliotecas:

  • LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 95 p. ISBN 8532508723.
  • LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 155 p. ISBN 8532509525.
  • LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. 110 p. ISBN 8532509479.
  • LISPECTOR, Clarice. Como nasceram as estrelas: doze lendas brasileiras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, c1987. 51 p. ISBN 852090047x.
  • LISPECTOR, Clarice. Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. 59 p. ISBN 9788562500725.
  • LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 159 p. ISBN 8532508170.
  • LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 87 p. ISBN 853250812X.
  • LISPECTOR, Clarice. Laços de família: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. ISBN 8532508138.
  • LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. 100 p. ISBN 8532509452.
  • LISPECTOR, Clarice. A maçã no escuro. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 321 p.
  • LISPECTOR, Clarice. O mistério do coelho pensante e outros contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. 78 p. ISBN 9788579800450.
  • LISPECTOR, Clarice. A mulher que matou os peixes. 13. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993. 62 p.
  • LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 202 p. ISBN 8532508103.
  • LISPECTOR, Clarice. O primeiro beijo: e outros contos. 16. ed. São Paulo: Ática, 1999. 80 p. (Série Rosa dos Ventos). ISBN 8508032382.
  • LISPECTOR, Clarice. Quase de verdade. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. [28] p. ISBN 8532510604.
  • LISPECTOR, Clarice. Todas as crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2018. 702 p. ISBN 9788532531216.
  • LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016. 654 p. ISBN 9788532530240.
  • LISPECTOR, Clarice. A vida íntima de Laura. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. [28] p. ISBN 8532508111.
  • CHRISTIE, Agatha. Cai o pano: o último caso de Poirot. 10. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. 184 p.
  • ROSENBAUM, Yudith. Clarice Lispector. São Paulo: Publifolha, 2002. 105 p. (Folha explica ; 47). ISBN 9788574023984.
  • CLARICE Lispector: a narração do indizível. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1998. EDIPUCRS, Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, 144 p. ISBN 8574210064.
  • FINK, Nadia. Clarice Lispector para meninas e meninos. Florianópolis: Sur; [Lomas de Zamora]: Chirimbote, c2016. [24] p. (Antiprincesas ; 3). ISBN 9788556480026.
  • MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011. 748 p. ISBN 9788575037669.
  • RICE, Anne. Entrevista com o vampiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. 334 p. ISBN 8332501028.
  • LISPECTOR, Clarice. A ilha misteriosa. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. 296 p. ISBN 9788532520142.
  • LISPECTOR, Clarice. Viagens de Gulliver. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. 239 p. ISBN 9788532520159.